Sem PF e com gritos pedindo Justiça, índios enterram morto em conflito
Os indígenas Guarani Kaiowá que ocupam fazendas em Antônio João - distante 279 km de Campo Grande há 10 dias, enterram neste momento o corpo de Semião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, morto no sábado (29) durante confronto com proprietários rurais.
A líder indígena Inaye Gomes Lopes, 27, afirma que a PF (Polícia Federal) pediu para que eles esperassem uma equipe chegar até o local e colher amostras de sangue da vítima, antes do sepultamento. Porém, devido ao mau cheio, eles decidiram fazer o enterro às 16h40, sem a chegada da PF.
O indígena foi morto há dois dias durante confronto com os proprietários rurais de retomada da sede da Fazenda Fronteira, versão questionadas pelos produtores. Há mais de 24 horas o corpo de Semião é velado pelos colegas em um galpão, ao lado da casa de funcionários da fazenda, ocupada por eles.
No confronto de sábado, os fazendeiros retomaram a sede da fazenda, onde estão até hoje. O corpo de Semião está sendo sepultado próximo ao imóvel do caseiro da fazenda e nas proximidades do córrego estrelinha, onde teria sido morto com um tiro no rosto. A situação causou desconforto entre os fazendeiros, mas nada foi feito.
Cerca de 100 índios, entre eles 40 crianças, acompanham o sepultamento do corpo. Eles mesmo cavaram a cova para colocar o caixão e no momento do enterro gritavam por Justiça enquanto jogavam terra com as mãos e os pés. Desolada, a esposa de Semião, Janaína chorava muito e foi consolada pelos parentes. Ele deixou um filho de 4 anos.
A Força Nacional está no local com vários homens, que garantem a segurança dos dois lados. Próximo à Fazenda Fronteira está a aldeia Ñande Rú Marangatu e por isso a região precisa de reforço militar.
A todo momento os produtores rurais são procurados pela reportagem do Campo Grande News, que está no local, para comentar a situação, mas eles preferem não dar entrevista.