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Interior

Três anos depois de chocar MS, maníaco da Cruz será solto

Aline dos Santos e Nadyenka Castro | 29/09/2011 17:05

O garoto, que agora tem 19 anos, cumpre pena em Ponta Porã e sairá da Unei no dia 8

Em entrevista ao Campo Grande News em outubro de 2008, o adolescente afirmou que não estava arrependido e que as pessoas que matou mereciam morrer. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)
Em entrevista ao Campo Grande News em outubro de 2008, o adolescente afirmou que não estava arrependido e que as pessoas que matou mereciam morrer. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)

Nos próximos dias, um jovem de 19 anos vai deixar no passado o isolamento do convívio em sociedade e os crimes brutais que o levaram à internação.

O personagem em questão é o Maníaco da Cruz, que chocou Mato Grosso do Sul no ano de 2008 ao matar três pessoas no município de Rio Brilhante, a 163 quilômetros de Campo Grande, pelo simples fatos de considerá-las impuras. A reportagem do Campo Grande News apurou que ele retoma à liberdade no dia 8 de outubro.

Os corpos eram dispostos por ele em forma de cruz, a marca que lhe rendeu o apelido e o aproxima do então ídolo, o Maníaco do Parque.

Na época dos crimes o garoto tinha 16 anos e confessou os três assassinatos ao ser apreendido. Comprovada a autoria dos homicídios, o adolescente foi para internação: passou por Dourados e foi para Ponta Porã, onde permanece.

Pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), três anos é o prazo máximo de internação. “A liberação é compulsória”, afirma o defensor público Astolfo Lopes Cançado Netto, que assumiu o caso devido às férias do titular.

Ele explica que vai apresentar o pedido de desinternação à Justiça. Na Unei(Unidade de Internação Educacional), onde a maioria dos internos são mulas do tráfico, o Maníaco da Cruz teve comportamento exemplar.

Calado, fala somente quando requisitado e prefere ocupar o tempo com a leitura da bíblia e livros levados pela família. O bom comportamento foi mantido durante as saídas em companhia dos agentes, como na visita à mãe no hospital.

Na Unei, a cada seis meses o menor de idade passa por avaliação para definir se continua internado. Portanto, por cinco vezes a opção da Justiça foi por deixá-lo na unidade.

O jovem também passou por avaliações psicológicas, mas os resultados não são divulgados porque processo envolvendo menores corre em segredo de justiça.

Para o defensor, há um vácuo na lei, “que não vê esses casos”. Ele defende que a punição para adolescentes que cometam ato infracional fosse aplicada conforme a gravidade. “A maioridade penal não deveria ser só aos 18 anos, mas graduada em relação ao crime”, salienta.

Como teve bom comportamento e a saída ao fim dos três anos é obrigatória, o maníaco só não ficaria livre se fosse interditado. A interdição cível é autorizada quando comprovada grave doença mental.

O recurso foi utilizado no caso de Champinha, apreendido aos 16 anos por envolvimento nas mortes de Liana Friedenbach e Felipe Caffé. O casal de namorados foi assassinado em 2003, em Juquitiba (SP).

Em 2007, Champinha chegou a fugir da Fundação Casa, que faz a custódia dos menores de idade. Recapturado, foi levado para uma unidade experimental de saúde, onde permanece até hoje. O Ministério Público obteve a interdição ao alegar que o rapaz sofre de problemas mentais e não pode voltar a viver em sociedade.

Faca e canivete: armas utilizadas pelo garoto que tinha 16 anos na época dos crimes. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)
Faca e canivete: armas utilizadas pelo garoto que tinha 16 anos na época dos crimes. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)
Blusa de uma das vítimas do Maníaco da Cruz, apreendida pela Deaij na casa dele. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)
Blusa de uma das vítimas do Maníaco da Cruz, apreendida pela Deaij na casa dele. (Foto: Minamar Júnior/ Arquivo)

O Maníaco - As camisetas sempre na cor preta, o cabelo cacheado e na altura dos ombros e a fala calma nunca despertaram a atenção de quem convivia com o estudante do ensino médio do período noturno de uma escola pública.

A apreensão pelas mortes de Catalino Gardena, Letícia Neves de Oliveira e Gleice Kelly da Silva, 13 anos, causou surpresa em quem o conhecia, mas não estranheza.

O primeiro a morrer foi o pedreiro Catalino, que era alcoólatra, em 2 de julho. A segunda vítima foi a frentista homossexual Letícia, encontrada morta em um túmulo do cemitério do município, no dia 24 de agosto.

A terceira e última vítima foi Gleice, encontrada morta seminua em uma obra, no dia 3 de outubro. Próximo ao corpo dela ele deixou um bilhete com várias cruzes e letras soltas que, dentre as possibilidades, formava a palavra "INFERNO".

Ele foi apreendido no dia 9 de outubro, seis dias após o último assassinato, em casa. No quarto dele havia posters do Maníaco do Parque e de um diabo.

Havia também revistas pornográficas, onde ele avaliava o perfil das garotas para ter um parâmetro de como classificar as vítimas como "vadias" e foram apreendidos dois CDs, cujo conteúdo não foi informado.

Foi achado, ainda, um envelope de cor azul, dentro do qual havia um papel com nome das vítimas, escrito em vermelho. Foram encontrados ainda três jornais com reportagens sobre os assassinatos e pertences das vítimas.

Para cometer os crimes ele utilizava luvas cirúrgicas. Ele estrangulava as vítimas e terminava de matá-las com faca, arma com a qual ele escreveu INRI (Jesus Nazareno Rei dos Judeus) no peito do primeiro alvo.

Em entrevista ao Campo Grande News quando foi apreendido, o garoto afirmou que não estava arrependido, que escolhia seus alvos aleatoriamente e para definir se elas mereciam morrer questionava se acreditavam em Deus e se agiam de acordo com os princípios biblícos.

Se elas diziam que acreditavam, mas, não seguiam à risca, o adolescente as classificava como impuras e por isso mereciam morrer. Após abordar uma garota, em setembro daquele ano, mês que não houve morte, ele a classificou como pura e não a matou.

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