Relatório revela massacre e tortura de indígenas durante Ditadura
Um estudo conduzido por pesquisadores da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) revela que indígenas eram torturados e expulsos das aldeias na época da Ditadura Militar. A pesquisa foi apresentada ontem (25), durante o 2º Encontro da Comissão da Verdade no município, dia em que o comício que marcou o movimento “Diretas Já” completou 30 anos.
Segundo informações do site Dourados Agora, o historiador da universidade, Neimar Machado de Souza, apurou que indígenas eram expulsos das aldeias de forma truculenta. “Em um dos casos, 80 pessoas foram mortas carbonizadas na antiga aldeia Pacurity que ficava nas margens do Rio Dourados, onde hoje é uma lavoura de soja”, destacou.
Em outra situação, mais de 40 índios Caiuás teriam sido presos no presídio Krenak, em Minas Gerais, uma espécie de reformatório, onde indígenas de todo o Brasil eram torturados. “O objetivo do governo e da Funai (Fundação Nacional do Índio), na época, era impedir que os indígenas que haviam sido removido de suas terras e concentrados em Dourados voltassem para as terras originárias aqui mesmo na região”, destaca.
Com o mesmo objetivo, a Funai teria criado, segundo o pesquisador, uma prisão clandestina onde hoje é a base da Fundação na Reserva. “No local eles eram castigados em público e ameaçados de morte pela polícia indígena que era armada pelo Estado e por fazendeiros”, acrescentou.
O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, de São Paulo, Marcelo Zelic, ressaltou que no Relatório de Figueiredo, recém recuperado, os motivos que levaram à situação de massacre em todo o país contra a população indígena teve o objetivo de incentivar as instalações de fazendas e incentivo à agricultura. Ele ressalta que o relatório traz 160 nomes de pessoas investigadas em expulsões de índios somente na cidade de Porto Murtinho.
Ele espera que o relatório possa servir como base para que o Estado repare as comunidades indígenas. Zelic, que é pesquisador da temática da violação dos Direitos Humanos, foi um dos responsáveis por identificar e recuperar o Relatório, localizado no início do ano passado, nos arquivos do Museu do Índio do Rio de Janeiro, em meio a caixas de papeis não catalogados. “Além de situações sobre as terras indígenas, ele registra problemas de assassinato, ameaças e violência”, revela.
São 68 páginas do Relatório anexadas a mais de sete mil páginas do processo de investigação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Além disso, Marcelo diz que existem mais 600 mil páginas de arquivo encontradas que são de interesse da causa indígena.