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Em Pauta

Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 23/06/2025 06:25
Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira
No próximo São João começo a pagar minha promessa - dizia Leocádia, a proprietária da fazenda pantaneira em meados do século passado. Era o costume. As promessas não eram feitas na passagem do ano, como atualmente, fazia parte da maior festa da zona rural: o São João. Seu marido Marcelino concordava. Ele faria uma festa em que agradeceria ao santo com churrasco e uma fogueira enorme com toras de angico. Também rezaria com todos a novena. No ultimo dia da festa, carregaria o andor com a imagem do santo para levá-la a se banhar no rio, como era costume desde sempre. As velas da procissão iluminariam a barranca do rio, se refletindo na água. E o povo cantaria contrito: “Deus te salve João. Batista sagrado. Do teu nascimento. Nós temos de alegrar”.


Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira
Quem não enxergasse a própria sombra não viveria.

Havia outra crendice ainda mais interessante. Enquanto os festeiros estivessem lavando a imagem do santo nas águas do rio, todos procurariam enxergar a própria imagem refletida na água, sinal infalível que garantia estarem vivos no próximo São João. Quem não enxergasse, podia se preparar que não estaria participando da festa no próximo ano.


Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira
O começo era com o estrondo da ronqueira.

A festa começaria com o estrondo da ronqueira. Era a explosão de pólvora e farinha de mandioca colocados no oco de um tronco. Seu estouro, sempre de madrugada, no primeiro dia da novena, faria tremer o chão e seria ouvido a quilômetros de distância.


Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira
A comilança de São João.

Ao terminar a reza da novena todas as noites, serviriam aos convidados uma janta bem quentinha. Seria acompanhada por doce de leite, geleia em pedacinhos e “furrundu“- um doce paulistano feito com mamão ralado misturado com rapadura. Para finalizar, seria servido o tradicional bolo de arroz, o prato mais típico da festa de São João no Pantanal.


Pisando descalço nas brasas, o São João na antiga fazenda pantaneira
Atravessando as brasas descalços.

Depois da procissão, os proprietários da fazenda e seus filhos atravessariam descalços os restos da fogueira. Pisavam na brasa incandescente. Era a confirmação da fé e da confiança que tinham no santo e se encerraria a festa.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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