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Em Pauta

Raízes do jovem Bolsonaro. O ingresso no Exército

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/10/2018 06:35
Raízes do jovem Bolsonaro. O ingresso no Exército

"Estávamos todos ali quando de repente: pum, pum, pum", conta uma colega de escola do jovem Bolsonaro. Era 8 de maio de 1970. Carlos Lamarca, um guerrilheiro (para a esquerda) ou terrorista (para a direita e civis) que lutava conta a ditadura, havia se refugiado em Eldorado, uma cidade de 15.000 habitantes, situada a 180 quilômetros da capital paulista.
O tiroteio deixou um policial morto. O medo tomou conta dos moradores da cidade. Mas logo as estradas foram bloqueadas pelas tropas do Exército. Identificações passaram a ser exigidas de todos que lá viviam ou passavam. Carlos Lamarca, para ironia do destino, um capitão do Exército que o abandonara roubando rifles e granadas, estava há um ano e quatro meses em fuga pela região de Xiririca da Serra, o antigo nome de Eldorado, onde residia a família de Jair Bolsonaro. Lamarca e sete seguidores chegaram à cidade em uma picape. Pararam em um posto de gasolina. Foram abordados por policiais e reagiram à bala. Ao final, o militar rebelde conseguiu fugir e foi lutar em outras plagas (foi fuzilado na Bahia, no mesmo local onde fuzilaram o cangaceiro Corisco, assecla de Lampião). Mas aquela quarta-feira ficou na memória dos habitantes de Eldorado. Impressionou a todos, sobretudo às crianças e jovens. Muito mais a um adolescente linguarudo, conforme narra uma irmã, que era por ele chamada de "gorda e baleia", chamado Jair Bolsonaro.
A partir desse dia, Jair, que tinha 15 anos, não parou de visitar a base dos militares. Após a passagem do guerrilheiro pela cidade, descobriu a capacidade do Exército para organizar. Aquele goleiro frangueiro, como contam seus colegas, e pescador inveterado, começou a ter algo claro na vida: iria sair de Eldorado e entrar no Exército. Foi essa conflagração entre soldados de uma guarnição próxima a Eldorado e dos poucos soldados de Lamarca (somente dois ou três o acompanharam na deserção) que haviam pegado em armas para derrotar a ditadura militar - e instalar sua própria ditadura -, que selou o destino do jovem Bolsonaro. Da confusão nasceu a ideia de ordem.

Raízes do jovem Bolsonaro. O ingresso no Exército

Bolsonaro e os fazendeiros. Bananas, ecologia e indígenas.

Os Bolsonaros chegaram a Eldorado liderados pelo patriarca, Percy Geraldo Bolsonaro, depois de vaguear durante anos por vários povoados do Estado de São Paulo. O pai trabalhava como dentista sem formação universitária. Assim sustentava a sua família de seis filhos. Chegou a ser famoso em Eldorado. Agora, o filho daquele dentista prático está a poucos dias de ser eleito presidente do seu país.
Para o jovem Jair cumprir sua obsessão e entrar no Exército, necessitava de dinheiro e muito estudo. Para o primeiro, contava com um "sócio", Gilmar, seu companheiro de pescaria. Dividiam o pequeno lucro que auferiam com os peixes. "Jair era uma das pessoas mais obstinadas que conheci. Estudava 24 horas por dia", afirma o ex-sócio.
Hoje, a família de Bolsonaro conta com inúmeras lojas e imóveis em Eldorado e nas cidades vizinhas. Seus mais antigos amigos são proprietários de fazendas. Algumas voltadas para a pecuária e outras para bananas e maracujás. O mercado de bananas no Vale do Ribeira, onde fica Eldorado, emprega mais de 100 mil trabalhadores e, só em salários, movimenta mais de R$400 milhões por ano. Bolsonaro os protege. Vem criticando a importação de bananas do Equador. "Como é que ficam os bananicultores e a economia de Eldorado Paulista, Iporanga, Registro, Sete Barras, Miracatu, Juquiá, entre outras cidades? Cada vez mais a sanha ecológica se faz presente no local. Ampliaram a Estação Ecológica da Juréia e prejudicaram os bananicultores, que cada vez mais são impedidos de praticar a cultura da banana". Mais de uma vez Bolsonaro reclamou da proteção ambiental e da presença de terras indígenas na região, que têm a área de Mata Atlântica preservada mais extensa do país. Ele defende a construção de hidrelétricas na área.

Raízes do jovem Bolsonaro. O ingresso no Exército

Feminismo de rico e feminismo de pobre.

Nos países onde as mulheres têm acesso a mais recursos, a uma independência econômica e a uma liberdade real para escolher em igualdade de condições com o homem, esse conjunto de oportunidades fará que suas atitudes e valores sejam diferentes dos homens? Ou, pelo contrário, fará com que se pareçam muito com os homens? Em resumo: as mulheres que vivem em países ricos são parecidas ou muito diferentes dos homens? E aquelas que vivem em países pobres, como se comportam? Um estudo publicado recentemente na prestigiosa revista científica Science, trata de responder a essa questão.
Essa pesquisa foi baseada em um estudo global realizado com 80.000 mulheres em 76 países. Estabelece as preferências em seis aspectos: confiança, altruísmo, aceitação de riscos, paciência e reciprocidade negativa e positiva. As pesquisas foram conduzidas pelas universidades de Bonn e de Berkeley.
Em países como Suécia, Canadá ou Grã Bretanha, nas nações mais avançadas, as mulheres são mais altruístas e confiantes. Mas as ricas são menos pacientes e não suportam assumir riscos que as mulheres que vivem em países como Brasil, Turquia ou Gana. A pesquisa mostrou que em países assemelhados ao Brasil, as mulheres demonstram muita facilidade em correr riscos.
Quer dizer, em países ricos e com maior igualdade real, mais diferentes se tornam os valores e as atitudes entre os dois sexos. E, conforme a pesquisa, também é verdade que a personalidade de homens e mulheres de países pobres são mais assemelhados.
Mas ha uma "coceira" em meu cérebro. E nos país biliardários, produtores de petróleo, onde as mulheres seguem sendo cidadãs de segunda classe?

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