ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 25º

Ensinar Juntos

Limite? Melhor tê-lo. Mas se não tê-lo...

Carlos Alberto Rezende (*) | 09/08/2023 07:46

Nos dias atuais percebemos uma grande mudança na maneira de como os pais ou responsáveis educam seus filhos e filhas. Muitos acreditam que estamos vivendo uma crise de valores e que uma das principais causas seja a falta de limites e de bons exemplos praticados pelos pais ou responsáveis.

Profissionais de educação reconhecem a importância do “limite” como um veículo fundamental para o crescimento e desenvolvimento de nossas crianças, seja no aspecto físico, mental ou social. “A questão dos limites surge, então, como uma problemática recorrente nas práticas educativas atuais” (ARAÚJO & SPERB, 2009, p. 186). Entretanto, atualmente as crianças parecem ir à escola sem uma base familiar, indisciplinadas, dificultando o trabalho na sala de aula. Nunca se discutiu tanto, quanto hoje, assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos, mesmo vivendo situações estruturais e de recursos educacionais que nenhuma geração anterior teve acesso. É comum encontrarmos professores cansados, estressados e, muitas vezes, doentes física e mentalmente, com sentimentos de impotência e frustração evidentes. (BRAMBATTI, 2010, p. 2).

 Em um passado recente, nossos avós e pais foram educados com limites pelos seus pais, no qual onde um simples olhar era entendido como sinal de aprovação ou reprovação, sem nenhuma manifestação verbal. Já nos dias de hoje, os pais têm dificuldades em estabelecer limites e em colocar normas em seus lares, muitas vezes fazem isso com medo de provocarem possíveis danos aos filhos com atitudes restritivas, mas acabam levando a uma educação sem disciplina (CALDANA, 1998, p. 89). Quando os pais não colocam limites para os filhos desde sua infância, estão contribuindo para formar cidadãos que não compreendem suas responsabilidades e que não respeitam normas e o outro, acabam colhendo aquilo que semearam com sua educação (WHITE, 1976, p. 11).

Muitos pais ou responsáveis, na triste tentativa de atenuar o sentimento de culpa pela ausência ou em alguns casos negligência, acabam cedendo, “conferindo poderes” as crianças e a capacidade de decidir por suas escolhas. No entanto, decidir e dizer “não” são atributos dos pais ou responsáveis, e jamais devem ser negociados; isso sim estabelece limites e educa.

A falta de limites por parte dos pais cria jovens que pensam ter o poder nas mãos e que acham que podem fazer tudo, sem ter que pagar pelas consequências de seus atos. Infelizmente, muitas crianças nunca ouviram um “não” dos seus pais, resultando em prejuízos para o seu amadurecimento, pois, dessa forma, elas não aprendem a conviver com as frustrações e, consequentemente, são frágeis emocionalmente.

Estabelecer limite continua sendo uma das maiores dúvidas que passam pela cabeça dos pais ou responsáveis na educação dos seus filhos e filhas. Todos conhecem a importância de colocá-lo, mas frequentemente se perguntam: “Impondo limite estamos agindo corretamente? Estamos errando quanto à dose de amor e permissividade dispensada aos nossos filhos e filhas?” Todavia, antes dos pais ou responsáveis acharem que estão fazendo tudo errado na árdua tarefa de educar o (a) filho (a), vale compreender o significado da palavra limite: dizer não. É muito comum que o “não” seja seguido de birra e frustração porque aprender a ter limites pode até ser difícil, mas é fundamental na formação e desenvolvimento de nossas crianças.

Precisamos lembrar que as crianças não têm a mesma visão do mundo que nós temos, portanto é fundamental que os nossos (as) filhos (as) entendam a importância de conviver e respeitar os limites que os pais ou responsáveis, cuidadores ou professores, impõem.  O que tenho observado é uma mudança radical no comportamento dessa geração que cresceu ciente dos seus direitos, mas não dos seus deveres, fator que reflete no comportamento desses (as) jovens. Exemplificando: em nossa cidade, ou melhor, em todo o país, tenho ouvido muitas reclamações de empresários sobre a falta de mão obra jovem, pois essa faixa etária demonstra pouco ou nenhum comprometimento; em alguns casos ainda há a falta de respeito e a dificuldade em acatar ordens. Além de tudo, é uma geração muito exigente para quem tem pouca ou zero experiência, pois trazem consigo a sensação de exclusividade, conferida pela ausência de limites em sua educação.

Com o advento da tecnologia, é comum vermos os pais oferecerem o celular para que os bebês parem de chorar, ou seja, o cuidado e a educação inerentes aos seres humanos, estão sendo substituídos por máquinas impessoais. Não é raro observarmos em restaurantes ou lugares públicos, famílias dividindo o mesmo espaço físico, mas cada membro com o seu celular e no seu mundinho, sem trocas e sem aproximação; esse comportamento também acontece dentro de casa, a diferença é que não há o compartilhamento do mesmo espaço físico, já que cada membro da família vai para o seu quarto com seu aparelho de celular.

Sem dúvidas, a grande influência negativa na educação das nossas crianças é a combinação da falta de limites com o acesso fácil a tecnologia, pois esse combo criou uma geração ansiosa que lota os consultórios de psicologia. Vamos educar com muito amor, com limite e com pouco celular!

(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão.

Nos siga no Google Notícias