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Ensinar Juntos

Queimar etapas: entrada precoce na universidade

Por Carlos Alberto Rezende (*) | 29/07/2025 10:00

Certa vez, estávamos eu e a minha namorada Tati conversando sobre vestibular e graduação, e ela me disse: “Eu acho muito injusto uma pessoa com 16, 17 anos ter que escolher a profissão que ela terá para o resto da sua vida, porque ela não sabe nem quem é ela na fila do pão, vai saber o que ela quer ser para todo sempre? Eu conheço pessoas que, no meio da vida, mudaram de profissão e foram seguir a verdadeira vocação, mas pagaram um preço alto por isso.” E eu emendei a fala dela: “E esses adolescentes que fazem aceleração escolar? São apenas crianças...”

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum que jovens ingressem precocemente nas universidades, seja por meio da aceleração escolar ou da antecipação do vestibular. Embora esse fenômeno seja, à primeira vista, sinal de mérito acadêmico, é preciso refletir sobre os impactos negativos de queimar etapas importantes do desenvolvimento humano. A entrada precoce no ensino superior, quando não acompanhada da maturidade necessária, pode acarretar prejuízos emocionais, sociais e profissionais aos estudantes.

Em primeiro lugar, é importante destacar que o ambiente universitário exige mais do que domínio de conteúdo. Trata-se de um espaço que demanda autonomia, responsabilidade e habilidades sociais que nem sempre estão plenamente desenvolvidas em adolescentes. Ao ingressarem antes do tempo natural, muitos estudantes enfrentam dificuldades de adaptação, sentem-se isolados entre colegas mais velhos e enfrentam pressões emocionais para as quais ainda não estão preparados. Isso pode gerar quadros de ansiedade, estresse ou até abandono do curso.

Além disso, a entrada precoce pode comprometer a clareza na escolha profissional; muitos jovens que aceleram os estudos ainda não tiveram tempo de amadurecer interesses e vocações e acabam optando por cursos com base em pressões externas ou decisões impulsivas. Esse tipo de escolha imatura pode levar à frustração, à mudança de curso ou até ao desperdício de tempo e recursos. Ou seja, o que parecia um "avanço" pode, na prática, atrasar o desenvolvimento pessoal e acadêmico do estudante.

Dessa forma, embora a aceleração escolar possa beneficiar casos excepcionais, é fundamental que ela não se torne uma regra ou meta generalizada. O ingresso precoce na universidade, quando feito sem o preparo emocional e vocacional necessário, tende a prejudicar mais do que beneficiar. É preciso respeitar o tempo de amadurecimento de cada jovem, garantindo que a formação acadêmica seja também um processo de construção pessoal sólida e consciente.

Portanto, a entrada antecipada nas universidades deve ser cuidadosamente avaliada, considerando não apenas o desempenho acadêmico, mas também o preparo emocional e social do estudante. Embora a aceleração possa ser uma oportunidade valiosa para alguns, ela não deve ser tratada como uma solução universal. O equilíbrio entre avanço intelectual e desenvolvimento pessoal é essencial para garantir que a trajetória universitária seja, de fato, positiva e formadora.

Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram: @oprofcarlao.