Crueldade é inerente a liberdade ou a permissividade?
Essa semana eu li no Campo Grande News que um grupo de adolescentes apedrejou um homem em situação de rua que dormia na entrada de uma empresa, para se proteger do frio. Esse ocorrido me remeteu ao ano de 1997, em Brasília, quando um grupo de 5 adolescentes colocou fogo no índio Galdino, causando a morte dele e chocando o Brasil.
Muitos estudos e relatos apontam que a crueldade na adolescência tem se tornado mais evidente ou crescente, o que pode estar relacionado a diversos fatores educacionais, sociais, culturais e psicológicos. Entre as possíveis razões estão o aumento do uso de redes sociais, onde comportamentos agressivos podem ser reforçados ou disseminados, além de fatores como bullying, violência na comunidade, transtornos emocionais ou de comportamento, e dificuldades familiares
É importante abordar essa questão com atenção, promovendo a educação emocional, o respeito às diferenças e a intervenção precoce em casos de comportamentos agressivos. A educação permissiva, especialmente quando há falta de limites claros, pode contribuir para a formação de jovens mais agressivos. Esse tipo de educação costuma oferecer pouca orientação sobre comportamentos adequados e limites, o que pode dificultar o desenvolvimento de habilidades de autocontrole, respeito às regras e convivência harmoniosa. Quando os jovens não aprendem a lidar com os limites e as consequências das suas ações, podem se sentir mais impulsivos, desrespeitosos ou propensos a expressar sua frustração de maneira agressiva. Além disso, a ausência de regras e disciplina pode gerar uma sensação de segurança e de que comportamentos agressivos não serão repreendidos, incentivando, muitas vezes, a atitudes mais violentas. Por outro lado, uma educação equilibrada, que combine liberdade com limites claros e respeito, ajuda os jovens a desenvolverem autonomia, responsabilidade e empatia, fatores importantes para evitar comportamentos agressivos.
Estudos como o da UNESCO (2019) mostram que programas esportivos bem estruturados reduzem em até 40% comportamentos antissociais em adolescentes. No entanto, sem orientação adequada, a pressão competitiva excessiva pode ter efeito contrário, ou seja, o esporte, por si só, não é determinante, mas uma ferramenta poderosa quando aliada a outros valores educacionais. O esporte pode, de fato, desempenhar um papel importante na formação de jovens menos agressivos, desde que praticado em um contexto estruturado e com orientação adequada. As atividades esportivas ensinam a lidar com frustrações (como derrotas) e a canalizar energia de forma positiva, reduzindo impulsos agressivos. Os Esportes coletivos promovem cooperação, empatia e respeito pelos outros, valores que contrastam com comportamentos agressivos. A necessidade de seguir normas e ouvir orientações do treinador ajudam a desenvolver autocontrole. A superação de desafios físicos e técnicos pode reduzir a necessidade de afirmação por meio de atitudes violentas. Porém, é crucial destacar que o impacto depende de fatores como:
1. A abordagem pedagógica dos treinadores (evitar incentivo à violência ou rivalidade excessiva);
2 - O tipo de esporte (artes marciais, por exemplo, enfatizam autocontrole mais que agressão);
3 - O equilíbrio entre competição e valores éticos.
Para ajudar a diminuir a formação de jovens agressivos, as escolas podem implementar diversas ações focadas em educação emocional, social e de resolução de conflitos, tais como: projetos de Educação Socioemocional; incorporar programas que ensinem habilidades de empatia, autocontrole, resolução de problemas e gestão de sentimentos; treinar alunos e funcionários para atuar como mediadores, ajudando a resolver conflitos pacificamente; criar um ambiente escolar acolhedor e seguro onde todos se sintam valorizados e respeitados; implementar políticas e programas para identificar, prevenir e combater o bullying, racismo e todo e qualquer tipo de preconceito de maneira eficaz; incentivar a participação dos pais e da comunidade para promover um entendimento e abordagens comuns na educação dos jovens; oferecer atividades que promovam habilidades sociais e cooperação, como esportes e projetos de voluntariado; preparar os funcionários para reconhecer sinais de agressão e intervir de forma apropriada e eficaz; disponibilizar acesso a conselheiros e psicólogos escolares para alunos que precisem de suporte emocional adicional. Essas ações, quando combinadas, podem ajudar a criar um ambiente educacional onde a agressividade não é vista como uma resposta aceitável ou necessária para a formação dos nossos jovens.
A nossa casa é o primeiro espaço de socialização, e as interações familiares funcionam como um "laboratório" para o desenvolvimento emocional. As crianças observam e imitam as reações dos pais a situações cotidianas. Por exemplo, se os pais demonstram compaixão ao ajudar um vizinho idoso, os filhos internalizam esse comportamento como norma social. Em resumo, a empatia não é apenas inata, é uma habilidade moldada pela repetição de exemplos cotidianos.
Como dizem os psicólogos: "A empatia é um músculo que se fortalece com a prática". E o meu complemento a essa frase é: “E o ambiente doméstico oferece o equipamento ideal para esse treino”. Bora treinar!
(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram @oprofcarlao.