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Lado Rural

Setor de papel e celulose atinge 10,7% do PIB de MS e movimenta R$ 15,7 bilhões

Aumento de área plantada de eucalipto projeta o Estado como novo campeão nacional em 2026

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 09/07/2025 16:51
Setor de papel e celulose atinge 10,7% do PIB de MS e movimenta R$ 15,7 bilhões
Forte crescimento na área plantada, que deve chegar a 1,753 milhão de hectares em 2025 (Foto: Divulgação)

Impulsionada pela expansão do plantio de eucalipto no Vale da Celulose, região que abrange 10 municípios do “Bolsão” de Mato Grosso do Sul, a cadeia produtiva da indústria de papel e celulose se consolida como uma das molas propulsoras da economia estadual. O setor já representa 10,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, índice que atesta a saúde econômica de qualquer região do planeta, conforme estudo inédito elaborado pelo economista Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

RESUMO

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O setor de papel e celulose em Mato Grosso do Sul (MS) representa 10,7% do PIB estadual, movimentando R$ 15,78 bilhões em 2024. Impulsionado pelo plantio de eucalipto no Vale da Celulose, o setor consolida-se como força motriz da economia sul-mato-grossense, superando a soja na pauta de exportações. Com previsão de atingir 2,7 milhões de hectares plantados em 2026, MS lidera nacionalmente na produção de eucalipto, com cinco dos dez maiores municípios produtores do país. Um estudo da UFMS revela que a cadeia produtiva de papel e celulose, incluindo desde insumos até logística, é a mais relevante da indústria estadual. O setor responde por 7,79% da produção florestal nacional e impacta positivamente outros segmentos, como agropecuária, comércio e serviços. A expansão do setor contribui para o aumento da participação da indústria no PIB estadual, chegando a 41,71%. A expectativa é de crescimento contínuo nos próximos anos, com a implementação de novas plantas industriais e a crescente demanda internacional por celulose.

Dados do governo estadual aos quais Campo Grande News teve acesso apontam também forte crescimento na área plantada, que deve chegar a 1,753 milhão de hectares em 2025, dos quais 1,722 milhão ou 98,24% são somente de eucalipto. No ano que vem o plantio deve chegar a 2,7 milhões de hectares, desbancando Minas Gerais, onde a produção varia de 2,2 milhões a 2,3 milhões de florestas para produção de celulose.

A pesquisa de Rodrigues, “Setor de Papel e Celulose de Mato Grosso do Sul – Cenário e Construção da Matriz Insumo-Produto”, tem com base estatísticas mais recentes do IBGE, divulgadas em novembro de 2024 (referentes ao exercício de 2022), analisando o peso da cadeia produtiva integrada da celulose, que abrange a produção de insumos, plantio, colheita, processamento industrial e logística.

Ao desagregar os dados nacionais para medir o impacto local, o estudo mostra que o segmento de papel e celulose já é o mais relevante dentro da indústria sul-mato-grossense. Em 2024, o setor movimentou R$ 15,78 bilhões, correspondentes a 10,7% do PIB estadual, estimado em R$ 166,8 bilhões. Em 2018, essa participação era de cerca de 9%.

“A tendência é de crescimento contínuo da participação do setor na economia nos próximos cinco anos, impulsionado pela expansão das áreas cultivadas de eucalipto e implementação de novas plantas industriais previstas para os anos seguintes”, projeta Rodrigues.

No cenário nacional, a cadeia de papel e celulose de Mato Grosso do Sul respondeu por 7,79% do valor bruto da produção florestal do Brasil, que somou R$ 202,6 bilhões em 2023, conforme o último relatório da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).

Setor de papel e celulose atinge 10,7% do PIB de MS e movimenta R$ 15,7 bilhões
Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, professor da UFMS (Foto: Divulgação)

Força industrial e impacto no PIB 

Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, mestre em Agronegócios e bolsista da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado (Fundect), Rodrigues reforça a importância da industrialização como estratégia de desenvolvimento sustentado, como vem ocorrendo no Vale da Celulose.

Além de concentrar mais de 90,0% das áreas de floresta plantada, a região também hospeda os grandes players nacionais e internacionais do setor, como as empresas Suzano, em Ribas do Rio Pardo, Bracell (Água Clara), Eldorado, em Três Lagoas; além da Arauco, em Inocência, que deve entrar em operação até 2028.

Somente a indústria de transformação do setor, com valor estimado em R$ 7,327 bilhões, representou 21,7% de todo o setor industrial sul-mato-grossense. O estudo aponta ainda o impacto de outros segmentos integrados à cadeia no período analisado: o setor agropecuário movimentou R$ 4,95 bilhões; comércio e serviços, R$ 3,306 bilhões; e comercialização de insumos, R$ 195,67 milhões.

“Essa diversidade de setores demonstra a complexidade da cadeia produtiva e a importância de cada elo para o desempenho do setor”, destaca o economista.

A expansão da celulose também contribui para elevar a fatia da indústria no PIB estadual, com participação de 41,71% no bolo econômico do Estado. Ele observa que setores com peso superior a 10% no PIB têm papel decisivo em qualquer economia.

Sem abordar diretamente os impactos ambientais, Rodrigues ressalta ainda que a produção de eucalipto, por envolver florestas, contribui com a captura de CO2 na atmosfera.

MS deve assumir liderança

As expectativas do governo estadual para o crescimento da área plantada de eucalipto – que deve alcançar 1.753.340 hectares na safra 2024/2025 – superam todas as previsões oficiais do Incra de Mato Grosso do Sul, que projetou área plantada de 1,6 milhão para este ano e 2 milhões de hectares até 2030.

O volume previsto pelo governo de Mato Grosso do Sul representa crescimento acima de 9% em relação à área de 1,6 milhão de hectares cultivados em 2024, confirmando as informações que o Estado registra crescimento acelerado da produção da commodity, cuja maioria esmagadora – da ordem de 75% do total produzido – destina-se às exportações.

A meta do secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Rogério Beretta, é de alcançar 2,7 milhões de hectares até 2026, distribuídos entre eucalipto, pinus e seringueira, conforme divulgação nos canais oficiais.

Do total previsto para safra 2024-2025, o eucalipto domina amplamente (com 1.722.514 hectares) a produção, com 98,24% da área total de florestas plantadas. Em seguida, vem a seringueira, com 25.128 hectares (1,43%), e o pinus, com 5.698 hectares (0,33%).

Cinco dos 10 municípios com maior área de eucalipto plantado no Brasil estão em MS: Ribas do Rio Pardo (462.044 hectares), Três Lagoas (330.645 hectares), Água Clara (181.443 hectares), Brasilândia (150.747 hectares), Selvíria (109.502 hectares), Santa Rita do Pardo (106.855 hectares) e Inocência (91.940 hectares), segundo dados da Semadesc.

“Esse cenário reforça a posição do Mato Grosso do Sul como uma das principais regiões do Brasil no setor de base florestal, especialmente para fins industriais, com destaque para os polos produtivos de Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, considerados referências nacionais na produção de celulose e papel”, destaca Bruna Mendes Dias, assessora de Economia e Estatística da Semadesc.

Os investimentos mais recentes anunciados no setor somam R$ 75 bilhões, segundo a Secretaria.

Setor de papel e celulose atinge 10,7% do PIB de MS e movimenta R$ 15,7 bilhões
Cada R$ 1 milhão investido pela indústria de papel e celulose gera R$ 5,86 milhões em retorno para o Estado (Foto: Divulgação)

Celulose supera soja na pauta de exportações

Na esteira da alta da cotação da commodity, as vendas de celulose no mercado externo passaram a liderar a pauta exportadora de Mato Grosso do Sul, desde o início deste ano, desbancando a soja, até então, a principal commodity exportada pelo Estado.

No primeiro quadrimestre de 2025, as exportações de celulose somaram 2,88 milhões de toneladas, gerando receita de US$ 1,442 bilhão, aumento de 78,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme os dados estaduais oficiais. O resultado contribuiu para aumentar em 8,41% o superávit da balança comercial estadual no período que somou US$ 3,25 bilhões.

A soja registrou receita menor, de US$ 1,162 bilhão nas exportações (redução de 26%), apesar de embarcar um pouco mais, 2,99 milhões de toneladas, ante 3,640 milhões no mesmo período de 2024. Os produtos florestais responderam por 35,2% do total exportado no período pelo estado, enquanto o complexo soja, com 34,7% e carnes, com 20,8%.

Mato Grosso do Sul hoje responde por um terço das exportações brasileiras de celulose de fibra curta. Dos 8,558 milhões de toneladas vendidas pelo país no mercado internacional entre janeiro e maio de 2025, 2,990 milhões de toneladas foram produzidas no estado, o que representa 34,94%. A participação na receita é ainda maior: US$ 1,442 bilhão, o equivalente a 36,54% do total das exportações brasileiras de US$ 3,946 bilhões no período, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Papel e Celulose do Estado de Mato Grosso do Sul (SINPACEMS).

O preço médio da madeira de eucalipto clonal, independente da finalidade, comercializada na modalidade árvore em pé com casca, tendo como base a região de Campo Grande a Três Lagoas, bateu um recorde em maio cotado a R$ 159,13/m3, alcançado o maior patamar da série iniciada em agosto de 2020, conforme o boletim de junho do Sistema Famasul. A tendência é de alta, já que “a confirmação de uma nova fábrica de celulose em Bataguassu (MS) é um forte indicativo que a demanda por madeira de eucalipto deve se manter aquecida por um bom tempo”.

Setor de papel e celulose atinge 10,7% do PIB de MS e movimenta R$ 15,7 bilhões

Firme e forte

O entendimento do economista da IFMA, Rodrigues, é de que o crescimento da indústria de papel e celulose no Estado é sustentado. Ou seja, deverá permanecer firme ao longo do tempo sob a influência de investimentos, produtividade e exportações.

 “Quando se coloca uma matriz de desenvolvimento econômico pautada na industrialização, isso, de certa forma, se sustenta com o tempo porque movimenta toda uma cadeia de valor. Há investimento em fábrica e isso cria um monte de ativos permanentes que vão durar por 10, 20 e 50 anos, tornando-se sustentado”, analisa.

Sem falar dos incentivos fiscais para estimular investimentos produtivos para o Estado, o economista avalia que a principal contrapartida dessas políticas de incentivo tributário é o número de empregos gerados na região.

Efeito econômico multiplicador 

Um dos dados mais relevantes do estudo é o chamado “efeito multiplicador” na economia: cada R$ 1 milhão investido pela indústria de papel e celulose gera R$ 5,86 milhões em retorno para o Estado. Esse impacto se reflete na geração de empregos diretos e indiretos, movimentação do comércio local e arrecadação de tributos indiretos, por exemplo.

“Mesmo quando há isenção fiscal, como de IPTU, há compensações por meio de impostos sobre a folha de pagamento e pelo consumo no comércio, que também gera empregos e receita”, explica Rodrigues.

Segundo ele, existem municípios no Vale da Celulose onde entre 40% e 50% da população está empregada diretamente na cadeia da celulose.

Planejamento de décadas e desafios ambientais

Para o geógrafo Fábio Ayres, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), a consolidação da Vale da Celulose é resultado de quase 50 anos de planejamento territorial. Ele destaca que o macrozoneamento da década de 1980 já indicava a vocação produtiva da região Leste do Estado, reforçada pela criação do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), previsto na lei 3.839/2009.

“A Rota da Celulose vem sendo planejada mesmo antes de receber este nome. O importante agora é o planejamento continuar para garantir o desenvolvimento econômico em sintonia com a relevância ambiental, com protagonismo dos municípios”, defende.

Segundo Ayres, o próximo passo é ampliar o ZEE em escala municipal, promovendo um ordenamento territorial que equilibre expansão econômica com conservação da biodiversidade, segurança hídrica e resiliência às mudanças climáticas.

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