ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
AGOSTO, QUARTA  27    CAMPO GRANDE 29º

Economia

Consultoria projeta salto de 11 milhões de toneladas de celulose em MS

Indústria investirá bilhões em infraestrutura para garantir escoamento eficiente da produção

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 27/08/2025 11:12
Consultoria projeta salto de 11 milhões de toneladas de celulose em MS
Linha de produção em fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul (Foto: Assessoria/Suzano)

A Consultoria Falconi, uma das mais requisitadas do setor no País, tem uma projeção animadora para o mercado da celulose em Mato Grosso do Sul: a previsão para os próximos cinco anos é de um acréscimo de quase 11 milhões de toneladas por ano. No entanto, Caio Devanzo, diretor de Papel e Celulose da consultoria, ressalva que o desenvolvimento exige planejamento conjunto entre governo e iniciativa privada para garantir infraestrutura e mão de obra qualificada, condições essenciais para a sustentação do Vale da Celulose a médio e longo prazos.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

A produção de celulose em Mato Grosso do Sul deve crescer em 11 milhões de toneladas nos próximos cinco anos, segundo projeção da Consultoria Falconi. O desenvolvimento do setor demandará investimentos públicos e privados de aproximadamente R$ 100 bilhões até 2030, incluindo ampliação da capacidade produtiva e melhorias logísticas.Empresas como Suzano, Eldorado, Arauco e Bracell consolidarão o leste do estado como um dos maiores polos mundiais do setor. O crescimento exigirá planejamento conjunto entre governo e iniciativa privada para garantir avanços em infraestrutura e formação de mão de obra qualificada, com expectativa de geração de 100 mil empregos até 2028.

Caio Devanzo afirma que, diante da morosidade da máquina pública, caberá à indústria investir cifras bilionárias em infraestrutura para assegurar logística mais eficiente no escoamento da produção ao longo dos próximos anos.

Um levantamento com base em dados oficiais e abertos mostra que os investimentos públicos e privados projetados para o Vale da Celulose somam quase R$ 100 bilhões até 2030, incluindo ampliação da capacidade produtiva e obras logísticas. A expectativa é que esse movimento transforme a matriz econômica regional e posicione Mato Grosso do Sul como hub logístico e exportador, com rodovias modernizadas, ferrovias conectando fábricas a portos e uma cadeia florestal competitiva.

“A própria empresa fará investimentos para melhorar a logística entre a floresta e a indústria, por exemplo, além da necessidade de investimentos públicos para aumentar o poder de escoamento e para que as empresas possam operar em boas condições.”

Operações dessa magnitude, ressalta Davanzo, exigem investimentos em rodovias de acesso e em infraestrutura capaz de atender todo o ciclo produtivo, da floresta ao porto, garantindo sustentabilidade ao setor exportador.

“Quando existe um plano de expansão de uma fábrica de celulose ou um projeto sendo implementado, não é somente a questão do ativo fabril. Também é necessário pensar em todo o entorno da indústria”, disse. “Ou seja, como será feito o escoamento da produção, como transportar a matéria-prima da floresta até a fábrica? Como será empregada a mão de obra, seja na floresta ou na indústria propriamente?”

Apesar dos desafios, como formação de trabalhadores, competitividade internacional e sustentabilidade ambiental, a articulação entre empresas e governo indica um planejamento integrado para que, a partir de 2028, a expansão da celulose seja acompanhada pela infraestrutura necessária, assegurando escoamento eficiente da produção crescente.

Consolidação do Vale da Celulose

Novos investimentos puxados por Suzano e Eldorado, já instaladas na região, e pela chegada das gigantes Arauco e Bracell consolidam o leste de Mato Grosso do Sul como um dos maiores polos mundiais do setor, avalia Davanzo.

Em Três Lagoas, a Eldorado prevê investir R$ 25 bilhões na ampliação da segunda unidade, com capacidade para 2 milhões de toneladas anuais, incluindo aportes em ferrovias e rodovias. A Suzano, que já opera duas linhas na cidade, inaugurou neste ano em Ribas do Rio Pardo uma unidade de R$ 22,2 bilhões, com capacidade para 2,55 milhões de toneladas.

Em Inocência, o Projeto Sucuriú, da Arauco, prevê R$ 25 bilhões e início das operações em 2027, com até 3,5 milhões de toneladas por ano. Já em Bataguassu, a Bracell investirá R$ 16 bilhões em uma fábrica de celulose solúvel com capacidade de 2,9 milhões de toneladas anuais.

Consultoria projeta salto de 11 milhões de toneladas de celulose em MS
Caio Devanzo (Foto: Divulgação)

 O setor de papel e celulose nacional prevê investimentos de R$ 105 bilhões até 2028 em todo o País, grande parte em Mato Grosso do Sul. Entre eles, a Rota da Celulose deve receber R$ 10 bilhões da iniciativa privada em obras de pavimentação, duplicação e manutenção de estradas, reduzindo a necessidade de gasto público. Somente na MS-377, entre Três Lagoas e Inocência, são R$ 24 milhões em obras ligando florestas às indústrias.

Outra frente estratégica é o Porto de Santos, principal via de exportação da celulose brasileira. O governo federal prevê leilão do terminal Tecon Santos 10, o maior da história do país — em meados de dezembro, com investimentos de R$ 5,6 bilhões ao longo de 25 anos e aumento de até 50% na capacidade. A licitação ainda depende de aval do TCU (Tribunal de Contas da União).

Além disso, o setor defende mais investimentos públicos em ferrovias para “garantir operações sustentáveis em longo prazo”.

Morosidade da máquina pública

Davanzo lembra que a ampliação do Porto de Santos é aguardada há anos pelo mercado e critica a lentidão da máquina pública no fomento à infraestrutura, fator que, na prática, trava o dinamismo econômico regional.

Em Mato Grosso do Sul, o governo assinou há quase um ano contrato com o BNDES para crédito de R$ 2,3 bilhões em infraestrutura de transportes, incluindo R$ 300 milhões de contrapartida estadual. Os recursos preveem a transformação de 800 km de rodovias, mas foram liberados apenas parcialmente. Segundo o banco, o desembolso é “gradual, de acordo com o avanço físico-financeiro dos projetos previamente aprovados”.

O Estado também negocia com o BIRD (Banco Mundial) um crédito de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,36 bilhão) no programa Rodar MS, que prevê restauração de rodovias como a MS-377 e MS-240, com modelos de concessão de longo prazo. O processo ainda aguarda análise da Secretaria do Tesouro Nacional.

A Rota Bioceânica, ligando Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta (Paraguai), é outro ponto estratégico. “O principal benefício da Rota é o potencial de diversificar várias rotas de exportação da celulose e outros produtos sul-mato-grossenses. Isso dará mais possibilidades para a exportação”, afirma Davanzo.

Investimentos federais e privados

Segundo o Ministério dos Transportes, o governo federal celebrou convênio para delegar trechos das BR-262/MS e BR-267/MS, totalizando 576 km, viabilizando a concessão da Rota da Celulose, que também inclui rodovias estaduais estratégicas (MS-040, MS-338 e MS-395).

O projeto abrange vias estratégicas para o escoamento da produção de celulose e do agronegócio na região, com previsão de cerca de R$ 10 bilhões em investimentos. Estão previstas obras como a duplicação de 146 km, implantação de 245 km de faixas adicionais e 38 km de contornos viários. O leilão e a gestão do contrato estão a cargo do governo estadual.

Em abril de 2025, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) autorizou a Arauco a construir e operar um ramal ferroviário de 46 km em Inocência (MS). O contrato tem validade de 99 anos e o projeto está atualmente em fase de licenciamento ambiental.

Para o Ministério, as autorizações ferroviárias são de natureza privada, cabendo às empresas autorizadas a implementação dos projetos.

Perspectivas

Para o especialista da Falconi, os investimentos do setor têm caráter de longo prazo, com retorno gradual às comunidades. “Esse grau de investimento tem retorno de médio e longo prazo. Uma planta dessa é para durar de 50 a 100 anos. Isso dá confiança para que todo o ecossistema seja montado visando um desenvolvimento sustentado da cidade.”

Segundo ele, a tendência é de que a cadeia do setor, responsável hoje por mais de 10% do PIB estadual, dê um salto a partir de 2028 com a entrada em operação das novas indústrias. “A participação do setor da celulose tende a aumentar de forma significativa no PIB do Estado”, afirma, sem estimar percentuais.

Empregos

Davanzo calcula ainda que a indústria deve gerar 100 mil empregos em Mato Grosso do Sul até 2028. No curto prazo, só o Projeto Sucuriú da Arauco abrirá 10 mil vagas imediatas. “Esse é um grande fator que vai contribuir com o desenvolvimento do Estado”, afirma.

A alta demanda deve acirrar a disputa por trabalhadores qualificados, tanto na produção industrial quanto no plantio de eucalipto — área considerada mão de obra intensiva. Para suprir a carência, programas de capacitação vêm sendo articulados por Senai, Senac, Sebrae, Famasul e Senar em parceria com empresas e governo. O governo estadual também acelerou iniciativas que vinham em marcha e lançou outras, como a Rede de Excelência em Qualificação Profissional. Via Senai-MS, capacitou 4,5 mil alunos na área florestal entre 2021 e 2024, um investimento de R$ 24,5 milhões, por exemplo.