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Economia

Tecnologia 5G vem aí, após 27 anos de luta para internet chegar

História é longa, desde que empresários garantiram o acesso discado nos anos 1990

Caroline Maldonado e Cleber Gellio | 27/08/2022 11:14
Ator Edson Celulari em propaganda que anuncia o provedor ACICG Net, da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande. (Foto: Divulgação/ACICG)
Ator Edson Celulari em propaganda que anuncia o provedor ACICG Net, da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande. (Foto: Divulgação/ACICG)

Campo Grande vive hoje grande expectativa pelo 5G, que promete melhorar a experiência com a internet. A chegada da tecnologia era prevista para setembro, mas foi adiada. O Campo Grande News, que existe graças a internet, traz memórias de pessoas que pressionaram o controle estatal das telecomunicações para garantir que os campo-grandenses pudessem acessar a internet por aqueles computadores de tubo brancos, na década de 90. Tudo, por meio de linhas telefônicas.

Ninguém imaginava que, 27 anos depois, a cidade teria 70 pontos de internet gratuita para se utilizar na palma da mão, na rua mesmo, além, é claro, daquela fornecida por grandes operadores por mensalidade.

Foram essas operadoras, aliás, que acabaram engolindo o mercado de empresários pioneiros, que conseguiram montar provedores e comercializar a internet na cidade, antes, restrita apenas às universidades.

Foi tudo muito rápido. Em questão de poucos anos, empresas com maior poder de investimento compraram os primeiros provedores e, mais tarde, venderam às operadoras, que hoje dominam o mercado nacional.

O engenheiro civil Cid Castello foi um desses pioneiros. Ele criou a provedora VIP, que tinha mensalidades acessíveis, em torno de R$ 30, em valores atualizados. Mas ele não foi o primeiro. Cid lembra que dois empresários da cidade surpreenderam o mercado ao conseguirem com a Embratel a liberação para criar um provedor.

"Estávamos todos esperando que fosse instalado em Campo Grande um ponto de presença para podermos ter os provedores comerciais. Sem isso, ninguém podia montar provedor,  mas aí os empresários Eloel Neves Aguiar e Cleto Mendonça conversaram com a Embratel e conseguiram criar o primeiro provedor, o Alanet. Antes de lançar meu provedor, fui cliente deles e montei a Lan House BitNet. Convenci o shopping Campo Grande a me alugar uma parte do corredor, onde hoje há quiosques. Foi algo diferente, porque esse espaço não era usado”, lembra Cid Castello.

O engenheiro, que mais tarde viria a se aprofundar no assunto, estudando Redes de Computadores, logo viu que o mercado de provedores da cidade seria “engolido”, nas palavras dele.

“Na mesma época, Marcelo Gimenez montou o provedor MS Internet. O dono do Hotel Exceler, Armando Araújo, montou a Net MS e surgiu também a ACICG Net. Algumas foram vendidas, outras deixaram o mercado. Aí acaba a história dos provedores independentes. Grandes empresas engoliriam os pequenos e depois viriam as operadoras telefônicas. Minha empresa foi vendida para a UOL. Montei a empresa em 1995 e vendi em 1999”, conta Cid.

Associação Comercial - Entre as pioneiras, uma tinha perfil diferente. Não era uma empresa, mas uma associação. A ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), criou seu provedor a partir do empenho de Nelson Nashif e sua equipe. Ele presidiu a entidade entre 1993 e 1996 e foi vice-presidente de 1990 a 1993. Nashif faleceu em julho deste ano.

Reportagem do jornal A Crítica traz entrevista com Nelson Nashif, que presidiu ACICG entre 1993 e 1996 (Imagem: Divulgação/A Crítica)
Reportagem do jornal A Crítica traz entrevista com Nelson Nashif, que presidiu ACICG entre 1993 e 1996 (Imagem: Divulgação/A Crítica)

Não foi nada fácil conseguir lançar o provedor, conforme lembra o engenheiro eletricista e consultor técnico da ACICG, na época, Zenon Lopes Rodrigues.

“Na época, a Embratel queria o monopólio do acesso não acadêmico e se recusava a ceder os códigos de conexão à ACICG. Em reunião por telefone, eu, Nelson, Ana Beatriz, que era diretora de marketing (falecida há alguns meses), ligamos ao engenheiro da Embratel e ele se recusou, dizendo que nem se o ministro ligasse para ele, ele iria liberar”, conta.

Em seguida, Nelson ligou para o Guilherme Afif Domingos, que de 1993 a 1997 foi presidente da CACB (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil), que ligou para o Ministro das Comunicações. Em 15 minutos, a Embratel ligou para a ACICG e passou a codificação, segundo Zenon.

“A ACICG criou ainda o primeiro shopping da internet no Brasil. Tudo graças à visão do Nelson. As compras eram feitas por email, naquela época”, conta.

Página do jornal A Crítica de edição de fevereiro de 1996. (Imagem: Divulgação/A Crítica)
Página do jornal A Crítica de edição de fevereiro de 1996. (Imagem: Divulgação/A Crítica)

Uma propaganda veiculada na TV, com o ator Edson Celulari, mostra o anúncio do novo serviço, a partir de uma estação provedora, inaugurada em fevereiro de 1996.

“Agora, você de MS já pode acessar a internet. É a Associação Comercial de Campo Grande abrindo os caminhos para você”, diz o ator.

A associação fazia convênio com outra entidades  para oferecer o acesso a internet à profissionais liberais, professores e estudantes, conforme notícia veiculada no jornal A Crítica, na época.

Quando Nashif deixou a presidência da entidade, o projeto perdeu fôlego, segundo Cid. “O Nashif saiu do mercado e minha empresa pegou toda a clientela, entre eles, o Miro Ceolim”.

Miro, mais tarde, teria seu próprio provedor por meio de uma franquia. Era um provedor mais robusto em comparação com os que surgiam na época, mas o grande feito foi fundar um jornal online em 1999, tempos de internet discada, junto ao sócio Lucimar Couto.

Nascia assim, o primeiro jornal online de Mato Grosso do Sul, o Campo Grande News, hoje, com 23 anos.

Diretores do Campo Grande News, Lucimar Couto e Miro Ceolim. (Foto: Arquivo)
Diretores do Campo Grande News, Lucimar Couto e Miro Ceolim. (Foto: Arquivo)

“Comprei uma franquia que hoje é o Terra. Era a NutecNet, de empresários brasileiros que moravam no Vale do Silício e vieram ao Brasil para trazer a internet ao País. O nome mudou para ZAZ. Espanhóis compraram e mudaram o nome para Terra”, resume Miro Ceolim.

Na palma da mão - Cerca de duas décadas depois, os caminhos abertos pelos empresários pioneiros trouxeram novos cenários. Nas ruas, a prefeitura oferece internet gratuita em 70 locais. Funciona bem, exceto quando os aplicativos exigem muito, como os Apps de banco, por exemplo.

Usuário acessa a rede de internet aberta oferecida pela Prefeitura de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Usuário acessa a rede de internet aberta oferecida pela Prefeitura de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Trabalhando como atendente em comércio da Rua 14 de Julho com a Barão do Rio Branco, Gabriela dos Santos, de 19 anos, conta que a internet pega bem, mas tem que ser pertinho do ponto de acesso.

 “Algumas pessoas, dependendo do modelo do telefone, não conseguem conectar, principalmente Iphone. Não sei porque”, diz Gabriela.

Mais adiante, na esquina da Avenida Calógeras com a Barão, a vendedora Alanis da Silva, de 18 anos, também usa a internet livre da cidade.

Vendedora Alanis da Silva, de 18 anos, no Centro de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Vendedora Alanis da Silva, de 18 anos, no Centro de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

“Quando acaba meu saldo pré-pago, vou na esquina para usar a internet livre, mas aplicativo de banco não abre. Quando chegar o 5G vai ser ótimo, ainda mais se tiver gratuito aqui no Centro também”, comenta Alanis.

Veja no mapa os locais com internet aberta gratuita em Campo Grande: 


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