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Educação e Tecnologia

Meliponicultura resgata cultura e língua Ofaié em escola indígena de MS

O curso é voltado aos alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental da Escola Estadual Debrasa, em Brasilândia

Mylena Fraiha | 06/08/2023 14:08
Professora explica procedimentos da meliponicultura para alunos da aldeia Ofaié (Foto: Divulgação)
Professora explica procedimentos da meliponicultura para alunos da aldeia Ofaié (Foto: Divulgação)

A meliponicultura, que consiste na criação de abelhas sem ferrão, se destaca como um importante instrumento de revitalização da língua Ofaié e dos costumes tradicionais na Escola Estadual Debrasa, situada na aldeia Ofaié em Brasilândia, a 355 km de Campo Grande.

O povo Ofaié é conhecido como o "povo do mel", pois possui um profundo conhecimento das abelhas, cultiva produtos relacionados e tem hábitos alimentares específicos relacionados ao mel e seus derivados.

Com o objetivo de preservar esses conhecimentos tradicionais, a atividade de extensão realizada na escola tem proporcionado uma conexão cultural e linguística às crianças e adolescentes da etnia Ofaié. A iniciativa é desenvolvida pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) em parceria com a SED (Secretaria de Estado de Educação).

O projeto oferece capacitação em apicultura para os adultos da aldeia há dois anos, e recentemente foi iniciado o curso de meliponicultura para os dez alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, da Extensão Ofaié da unidade da REE (Rede Estadual de Ensino).

De acordo com a engenheira agrônoma da Agraer, Francielle Malinowski, o trabalho na meliponicultura é uma oportunidade de resgate cultural e linguístico para as crianças. “Estamos na fase de preparar as armadilhas para captura das abelhas e eles amam. É um momento de aprendizado, de forma leve”, explica.

Professora auxilia aluna a instalar armadilhas para captura das abelhas (Foto: Divulgação)
Professora auxilia aluna a instalar armadilhas para captura das abelhas (Foto: Divulgação)

Para o assessor pedagógico Fernando Azambuja de Almeida, o projeto tem sido bem aceito pelas crianças e pela comunidade local. “As crianças e os professores estão adorando. É uma atividade pedagógica de extrema importância para revitalizar a língua e a cultura do povo. As crianças que não tinha mais essa vivência com os pais, agora estão obtendo na escola. E assim trazemos de volta esse referencial, o sentimento de pertencimento”, explica.

Fernando pontua que a revitalização da língua Ofaié é um processo de longo prazo, estimado em 10 a 20 anos, mas os resultados já são visíveis. “O professor indígena, que fala Ofaié, se comunica com frases na língua indígena. As crianças falam a numeração, e os cumprimentos, como o “bom dia”. E agora eles levam isso pra casa, para conversarem com os pais”.

Produção melífera - O projeto também tem previsão de efetivar a produção de mel nos próximos meses, permitindo que as crianças contribuam para o manejo adequado das abelhas sem ferrão e mantenham a tradição do "povo do mel".

Além disso, o mel produzido por essas abelhas é valorizado para consumo e possui propriedades farmacológicas para o tratamento de doenças respiratórias.

Preservação - A iniciativa também se alinha com o Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, que tem como objetivo preservar a cultura das comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul. O estado possui uma das maiores comunidades indígenas do Brasil, com cerca de 80 mil indígenas de oito etnias diferentes.

O plano prevê ações específicas para as línguas kinikinau, ofaié e guató, que estão em vias de extinção, além da Língua Terena de Sinais, a única língua indígena de sinais reconhecida no país.

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