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Esportes

Brasil será finalista, diz em Campo Grande ex-companheiro de Pelé

Francisco Gonçalves, ou simplesmente “Mestre Gonça”, avalia que sob o comando de Tite a Seleção ganhou nova cara e Neymar vai fazer a diferença

Paulo Nonato de Souza | 27/04/2018 09:52
Francisco Gonçalves, o "Mestre Gonça", exibe com orgulho o poster onde aparece com Pelé na seleção das Forças Armadas em 1959 (Foto: Saul Schramm/Arquivo pessoal)
Francisco Gonçalves, o "Mestre Gonça", exibe com orgulho o poster onde aparece com Pelé na seleção das Forças Armadas em 1959 (Foto: Saul Schramm/Arquivo pessoal)

Ídolo incontestável do Comercial de Campo Grande no período áureo do futebol em Mato Grosso do Sul, Francisco Gonçalves, ou simplesmente “Mestre Gonça”, como era chamado, por ter uma técnica apurada, estilo elegante e eficiente, acredita que a Seleção Brasileira, sob o comando de Tite, ganhou uma nova cara, organização e personalidade para superar seus rivais nas fases de classificação e disputar o título da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

“Estou torcendo muito e acredito que o Brasil vai chegar na decisão desse título. Se vai ser campeão é outra história, mas vai ser finalista”, disse Gonçalves. Na sua análise, a boa campanha nas Eliminatórias, a classificação antecipada para a Copa do Mundo com um futebol convincente, e pelo que tem mostrado nos jogos amistosos, a Seleção Brasileira chegará forte e confiante na Rússia.

Aos 78 anos de idade, completados no dia 01 deste mês, e com a experiência de quem tem a vida dedicada ao futebol desde que iniciou a carreira de jogador nas categorias de base do São Paulo em 1955, o “Mestre Gonça” descarta qualquer tipo de influência da derrota de 7 a 1 para a Alemanha na última Copa, a de 2014, realizada no Brasil, no desempenho da Seleção Brasileira quatro anos depois.

“Fui jogador por muitos anos. A gente sabe que um placar como esse acontece a cada 100 anos e simplesmente deve ser esquecido pelo jogador quando ele entra em campo. Na hora que entrar em campo ninguém vai lembrar disso, só vai pensar em fazer uma boa partida. No mais, a Alemanha fez 7 a 1 no Brasil, e o Brasil também tem condições de fazer um placar desse em uma Copa”, comentou.

Contemporâneo de Pelé, com quem jogou junto na seleção brasileira do Exército em 1959, e também contra ele, primeiro na década de 1960 quando defendia equipes de São Paulo, como o Corinthians, Nacional, São Bento e Juventus, e depois pelo Comercial de Campo Grande em um confronto memorável diante do Santos pelo Campeonato Brasileiro de 1973, que terminou com vitória comercialina por 1 a 0, gol do atacante Búfalo Gil, no Estádio Morenão, Gonçalves destaca o conjunto do time comandado por Tite e a genialidade de Neymar como fatores determinantes para uma boa campanha na Copa.

“O Neymar hoje seria o Pelé da Seleção Brasileira na minha época. É um grande jogador, do tipo que desequilibra uma partida e vai fazer uma boa Copa porque é um garoto de muita personalidade. Torço por ele e acho que ele vai fazer a diferença para a nossa Seleção”, comentou o volante comercialino da década de 1970.

O volante Gonçalves em disputa de bola no confronto com o Santos de Pelé pelo Campeonato Brasileiro de 1973, no Estádio Morenão, em Campo Grande (Foto: Arquivo/Roberto Higa)
O volante Gonçalves em disputa de bola no confronto com o Santos de Pelé pelo Campeonato Brasileiro de 1973, no Estádio Morenão, em Campo Grande (Foto: Arquivo/Roberto Higa)

Gonçalves não fala de Pelé por ouvir dizer, mas por conhecimento de causa, e ressalta que a comparação com Neymar tem a ver com o nível de importância técnica dentro da Seleção, mas longe de exigir que o astro do Paris Saint Germain tenha o mesmo desempenho que tinha o Rei do Futebol.

“Sou da mesma época do Pelé e até temos o mesmo ano de nascimento, 1940, só que ele é de 23 outubro e eu sou de 01 de abril. Servimos o Exército na mesma época, jogamos juntos pela seleção do Exército e para mim vai ser impossível aparecer um jogador como ele. Hoje tem muitos grandes jogadores, como Messi, Cristiano Ronaldo e o Neymar, mas nenhum igual a ele. Pelé não tinha defeito”, enfatizou.

Em 1959, ao lado de Pelé, Gonçalves foi campeão brasileiro do Campeonato Nacional das Forças Armadas, competição que reuniu equipes do Exército, Marinha e Aeronáutica de várias partes do Brasil, e também da Copa Sul-Americana Militar, realizada no Rio de Janeiro, em uma final diante da seleção das Forças Armadas da Argentina.

Imprensa da época destacava a seleção do Exército: Gonçalves, o segundo da esquerda para a direita, em pé, com Pelé agachado logo abaixo (Foto: Arquivo pessoal)
Imprensa da época destacava a seleção do Exército: Gonçalves, o segundo da esquerda para a direita, em pé, com Pelé agachado logo abaixo (Foto: Arquivo pessoal)

“O Pelé tinha acabado de ser campeão da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, ainda era um garoto, mas já com a fama de ser um jogador extraordinário, muito acima da média, e os argentinos bateram tanto nele que ele perdeu o controle, revidou um chute sem bola e acabou expulso de campo no primeiro tempo”, lembrou Gonçalves. Mesmo assim, a seleção das Forças Armadas do Brasil venceu por 2 a 1 e ele, o Gonça, fez um dos gols da conquista do título.

Natural de São Caetano do Sul (SP), Gonçalves chegou ao futebol de Mato Grosso do Sul em 1973, depois de defender o Nacional de São Paulo, onde assinou seu primeiro contrato como profissional em 1956, Corinthians, São Bento, Juventus, Tiquire Aragua, da Venezuela, e San Lorenzo, da Argentina.

“Cheguei para assinar contrato com o Operário, mas acabei acertando com o Comercial e lá fiquei por 23 anos, primeiro como jogador e quando encerrei a carreira em 1978 virei treinador. Falei para a minha esposa, com quem estou casado há 56 anos, que iria ficar três meses em Campo Grande e estamos aqui há 45 anos. Minhas filhas eram crianças e hoje já tenho quatro netos e dois bisnetos, todos nascidos em Campo Grande”, contou ele.

Gonçalves, o segundo da esquerda para a direita, em pé, na sua passagem pelo Corinthians (Foto: Saul Schramm/Arquivo pessoal)
Gonçalves, o segundo da esquerda para a direita, em pé, na sua passagem pelo Corinthians (Foto: Saul Schramm/Arquivo pessoal)

Como jogador, Gonçalves encantou pela habilidade e visão de jogo. Não era do tipo que corria em campo, fazia a bola correr com passes precisos e lançamentos espetaculares sempre na direção de um companheiro bem colocado. Não era de fazer gol, sua maior glória era criar chances de gol.

“Se fiz 20 gols em toda a minha carreira foi muito. Eu sou de uma época que o futebol era mais arte. Era um futebol mais clássico. Hoje se joga um futebol com três ou quatro jogadores na frente da zaga. Antigamente era 4-2-4 e quem distribuía o jogo era o volante e o meia-esquerda. A gente tinha que saber dominar e passar bem a bola. Hoje é mais a parte física, velocidade, não há espaço para jogar. Da mesma forma que eu, jogadores clássicos como o Ademir da Guia (ídolo do Palmeiras) também teriam dificuldades no futebol atual. Hoje não há tempo de pensar, é tudo muito rápido. Quando domina tem sempre dois ou três adversários em cima de você”, comparou.

Atualmente, Francisco Gonçalves trabalha no projeto social da Prefeitura de Campo Grande com escolinhas públicas de futebol para crianças de famílias carentes economicamente, junto com Valdir e Gilmar, também ex-jogadores de Comercial e Operário. Seu núcleo de atuação é no antigo Estádio Elias Gadia, no bairro Taveirópolis. “Não consigo largar totalmente. Futebol é a minha vida”, disse ele.

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