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Esportes

“Não consegui continuar”, diz zagueiro vítima de racismo

Atleta foi chamado de "macaco" por torcedores que acompanhavam a partida no muro do estádio

Jhefferson Gamarra | 16/08/2021 16:07
Zagueiro Cristiano ao centro da imagem conversando com companheiros de equipe. (Foto: Divulgação)
Zagueiro Cristiano ao centro da imagem conversando com companheiros de equipe. (Foto: Divulgação)

Vítima de racismo em partida disputada no último final de semana pelo Campeonato Brasileiro Série D, o atleta Cristiano de Oliveira, zagueiro do Águia Negra desabafou sobre os insultos racistas que recebeu da torcida adversária na cidade de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo.

“Eu nunca tinha passado por essas coisas, mas, infelizmente, tudo tem sua primeira vez. Não é a primeira vez que acontece no futebol, mas comigo foi. Um ato de racismo inadmissível. Eu não consegui jogar mais. Meus companheiros voltaram, porque eu pedi para eles. Mas eu não consegui continuar a partida”, relembra o atleta.

Depois da partida, o zagueiro foi imediatamente registrar um boletim de ocorrência na delegacia da cidade. “Fiz o boletim de ocorrência na cidade, fui muito bem atendido na delegacia e foram atrás do autor. A diretoria do time adversário me pediu desculpas, mas mesmo assim, fiquei extremamente chateado com a situação. O rapaz que me xingou, eu entrego nas mãos de Deus, porque a justiça de Deus tarda, mas não falha”, lamenta Cristiano.

O episódio de racismo ocorreu ainda no primeiro tempo, torcedores do Rio Branco (ES), que acompanhavam a partida nos muros do Estádio Olímpio Perim, em Venda Nova do Imigrante, chamaram Cristiano do Águia Negra de “macaco”, após um desentendimento do zagueiro com um atleta do time da casa.

A partida ficou paralisada por 15 minutos, porque os jogadores do Águia Negra foram para o vestiário. O único que não voltou foi Cristiano, que deu lugar para Henrique.

Na súmula da partida publicada no site da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o árbitro gaúcho Jonathan Giovanella Vivian relatou o acontecido.

Segundo relato do árbitro no documento, a partida foi paralisada aos 35 minutos do primeiro tempo, após o zagueiro Cristiano do Águia Negra trocar empurrões com o atacante adversário. “Após este momento o jogador número 15 relata à arbitragem que os torcedores presentes em caminhões estacionados fora do estádio atrás do muro de uma das metas o ofenderam com a seguinte fala racista: ‘professor, me chamaram de macaco’”, consta na súmula.

Após denuncia do zagueiro, o policiamento presente se deslocou para fora do estádio para resolver a situação, mas o indivíduo que supostamente praticou o ato racista não foi localizado.

Trecho relatado em súmula pelo árbitro após a partida. (Foto: Reprodução)
Trecho relatado em súmula pelo árbitro após a partida. (Foto: Reprodução)

Depois do apito final, o Rio Branco Futebol Clube informou que prestou e continuará prestando toda e qualquer assistência devida para a elucidação dos fatos ocorridos na partida, com a disponibilização de toda e qualquer imagem existente da partida que possa ser útil na identificação do culpado pelo crime. Além disso, os donos da casa repudiaram todo e qualquer ato de discriminação, classificando o ato como inadmissível e inaceitável. “Inacreditável ainda termos pessoas em nossa sociedade que se posicionem de forma a ofender e discriminar alguém pelo sua cor de pele”, disse o clube em nota.

A direção do Águia Negra, clube sul-mato-grossense, também lamentou e repudiou o ocorrido. “O Clube se solidariza com o atleta Cristiano e ressalta que embora atos como esse sejam frutos de atitudes individuais de um torcedor criminoso, espera que atitudes sejam tomadas, inclusive espera contar com o apoio da equipe do Rio Branco e das autoridades locais a fim de obterem provas, para que possam tomar as providências cabíveis no âmbito criminal", disse o presidente Ilê Vidal.

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