Casa Buainain reabre como sede da Casacor com 25 ambientes
Alguns ambientes tiveram inspiração na poesia de Manoel de Barros; mas casa do poeta ficou fora do circuito

A Casa Buainain, endereço de décadas de memórias familiares, reabre as portas em Campo Grande como sede da Casacor Mato Grosso do Sul. São mais de 800 m² convertidos em 25 ambientes por arquitetos, designers e engenheiros sob o tema “Semear Sonhos”. A visita não mostra um estilo único ou um conceito fechado, mas sim um conjunto de escolhas. Em alguns pontos a casa foi preservada, em outros reinterpretada, e em vários adaptada para caber marcas e soluções práticas de obra. O resultado é uma mistura de memória e mercado.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
A Casa Buainain, em Campo Grande, reabre como palco da Casacor Mato Grosso do Sul, exibindo 25 ambientes criados por arquitetos, designers e engenheiros. Com o tema "Semear Sonhos", a mostra explora a memória da residência, mesclando elementos preservados, reinterpretados e adaptados, resultando em uma fusão entre história e tendências contemporâneas. A exposição destaca a madeira em formas curvas e superfícies tratadas, pedras naturais e tons quentes, além de obras de arte que convidam à reflexão. Ambientes como o hall de estar, o living e o corredor/circulação foram transformados em espaços de contemplação e aconchego. O "Refúgio do Tempo" utiliza objetos de família para criar uma atmosfera nostálgica, enquanto o restaurante e o café exploram conceitos como a poesia e a experiência sensorial. Apesar da inspiração na obra de Manoel de Barros, a visita à Casa do Poeta não foi integrada à mostra devido a questões estruturais e falta de apoio institucional. A Casacor MS está aberta ao público com ingressos a R$ 90.
Parte dos pisos originais foi mantida e virou ponto de partida de paginações novas. Na escadaria, a estrutura antiga ficou, mas os azulejos portugueses, já com peças quebradas, saíram. A artista Marcela Riedel trouxe cor aos degraus e tratou de responder à pergunta que surgiria com os azulejos remanescentes, reconstituiu visualmente “como era” e transformou peças em quadros, deslocando a memória do revestimento para a parede.

Dentro da mostra, o paisagismo aparece com mais vigor nas áreas externas; por dentro, a recorrência está na madeira, não no registro rústico, mas com volumes curvos e superfícies tratadas, em pedras naturais e tonalidades quentes.
No hall de estar, a intenção é “aconchego” e elementos conectados pedra travertino, madeira, peças de design. A autora do espaço desenhou banco/pufe, cômoda-bar, prateleiras, molduras, almofadas e uma banqueta de tamanduá; o acervo também inclui peças de Jader Almeida e cerâmicas de Daniela (Casa Boaz). A cômoda que “vira um bar” organiza o gesto funcional.

No living assinado por Pedro Olavo, a atmosfera de fim de tarde é construída por tinta de fundo rosado, mesa de centro rosa, laranjas nas obras, pedra e madeira, com destaque ao pau-ferro. “Trazer esses elementos naturais… tons quentes, madeira, pedras”, diz o arquiteto, citando um revestimento de pedra desenvolvido para a mostra. A referência ao pôr do sol e às belezas naturais do estado orienta o uso de cor e matéria.
O corredor/circulação vira galeria nas mãos de Felipe Cordeiro e Carolina Arruda. Linhas curvas e paredes orgânicas claras respondem a Manoel de Barros, “nada quieto nem parado, tudo dança e muda no ar” e abrem campo para obras de artes. “A gente quis fazer esse convite”, explica a Carolina, de passagem habitual a permanência, sobre pedras naturais Michelangelo.
No ambiente de Lorena Capuci, chamado “Refúgio do Tempo”, a matéria da obra são objetos de família: cartas, receitas manuscritas, fotos, a cadeira da avó, uma sala que exige leitura e escuta. “Ela fez um livro de receita para mim”, conta a autora, que dedica o espaço aos bisavós e à avó falecida há dois anos. Em meio a recursos expositivos contemporâneos, o que fica é o tempo como programa.

O Território Ristoranti, no piso inferior, é projeto de Isadora Zatorre e Ana Carolina Guimarães do Amaral e será operado pelo Território do Vinho. Na leitura das autoras, o material “é mais que suporte, é linguagem, memória e arte”, uma “escultura habitável” que transforma o ato de estar à mesa “em experiência poética”. A proposta traduz “a essência do vinho, denso, complexo, cultural” em arquitetura.
O Café do Poeta, de Douglas Raldi, trabalha tons terrosos, madeira, couro e palha em marcenaria, pedra natural, tecidos e pendentes de selenita. O texto de conceito fala em maximalismo e pausas preciosas, um espaço pensado para estar antes de circular pela casa
No jardim, o Refúgio Santa Inês, de Amanda e Arthur Madeira, se apresenta logo na entrada com um painel de LED que reproduz o pôr do sol de Campo Grande gravado ao longo de dias. O mobiliário é autoral da +55 Design. No piso, quartzo azul aparece como detalhe artesanal colocado no porcelanato; pergolado em madeira e paisagismo com primaveras e orquídeas fecham o conjunto.
Frases de Manoel de Barros surgem em artes, inscrições e detalhes em vários ambientes. Drinques fazem menção direta à poesia. A curadoria evidencia a presença do poeta como inspiração.

A visita que não foi: por que a casa do poeta Manoel de Barros ficou fora do circuito
Na fala de abertura, o franqueado Ricardo Câmara cravou o vínculo simbólico — “a gente tá aqui na sombra da casa… Manoel de Barros foi o grande inspirador para todo esse projeto”. Mas, na prática, o percurso integrado prometido lá em abril (começar pela mostra e terminar na Casa do Poeta) não aconteceu. Ricardo explica: “Por questões estruturais, não se conseguiu fazer o que a gente queria…”. E detalha o esforço para transformar o imóvel em centro cultural: “A gente tá batalhando muito para viabilizar que o imóvel fique para ser um centro cultural… fomos atrás de todos os poderes públicos e empresas privadas… e ninguém se comprometeu.”
Sem apoio institucional, a solução foi separar a experiência: “Quem visita a Casacor tem acesso à Casa Quintal com pulseirinha ou código para agendar visita”. Com patrocínios pontuais (R$ 30 mil do Sesc e R$ 35 mil da Documenta Pantanal), a equipe priorizou telhado, pintura e a biblioteca, “onde vai estar reunida toda obra do Manoel e sobre o Manoel”. Também firmou parceria com a Companhia das Letras para disponibilizar e vender os livros do autor no local. A ambição é clara, o caminho ainda é de viabilidade financeira.
A mostra de arquitetura já está aberta ao público a partir de hoje e o ingresso para entrada custa R$ 90. A casa fica na Rua Manoel Seco Thomé, 1389, Jardim dos Estados. Ingressos aqui.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.