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Arquitetura

"Eu vivi essa época": moradores lembram chegada do trem durante passeio

Projeto "Fronteiras" fez percurso pelo antigo complexo ferroviário, atraindo moradores e até turistas

Por Izabela Cavalcanti | 20/06/2025 12:15
"Eu vivi essa época": moradores lembram chegada do trem durante passeio
Eneida na antiga estação de trem de Campo Grande, no complexo ferroviário (Foto: Henrique Kawaminami)

Experiências históricas, passos atentos e olhos curiosos cruzaram a Avenida Calógeras, na manhã desta sexta-feira (20). Moradores, turistas e pesquisadores foram guiados não apenas por calçadas e muros, mas por lembranças profundas e a curiosidade de saber sobre a história de Campo Grande.

RESUMO

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Em Campo Grande, a 10ª edição do projeto "Fronteiras: Arte, Psicodrama e Filosofia" promoveu uma caminhada imersiva pela história da cidade. O evento, parte do movimento "Campão a Pé", percorreu locais emblemáticos como o Instituto Histórico e Geográfico, o antigo complexo ferroviário, a Maria Fumaça e a Estação Ferroviária, despertando memórias e reflexões nos participantes. A antiga estação ferroviária, inaugurada em 1914, marcou o início do desenvolvimento urbano e social de Campo Grande. Moradores relembraram com nostalgia as viagens de trem, os encontros e as despedidas que testemunharam no local. A ferrovia atraiu pessoas de diversas regiões do Brasil, impulsionando o comércio e transformando a cidade. O projeto "Fronteiras" busca conectar a história local com a comunidade, valorizando as memórias e a cultura da região.

Foi assim que a 10ª edição do projeto "Fronteiras: Arte, Psicodrama e Filosofia" chegou, pela primeira vez, a Campo Grande, como parte do movimento “Campão a Pé”.

A experiência imersiva partiu do IHG (Instituto Histórico e Geográfico), conduzido pelo arquiteto e superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), João dos Santos. Depois, o percurso seguiu pelo antigo complexo ferroviário, atravessando monumentos como a Maria Fumaça, os muros vivos com arte urbana e a Estação Ferroviária.

Para os moradores, pisar novamente na antiga estação foi nostálgico. Ali, onde tudo começou para a cidade, as paredes ainda sussurram histórias de partidas, encontros e esperanças embaladas pelo apito do trem.

“Eu vivi essa época”, disse com brilho nos olhos, a psicóloga e psicodramatista, Eneida Maciel. Ao pisar na estação ela relembrou das viagens para Corumbá.

“A gente ia muito de trem para Corumbá. Eram 12 horas de trem, embarcávamos 20h e amanhecia em Corumbá. Quando pisei aqui, eu me vi chegando no trem. Muito bonito. Acho que é um presente que a gente tem que preservar, porque essas histórias eu contei para os meus filhos, mas nunca tiveram a oportunidade de andar num trem. Hoje, meus filhos conhecem a ferrovia como a Feira Central”, contou.

Inaugurada em 1914, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil foi o que marcou um novo tempo em Campo Grande, trazendo o início do desenvolvimento urbano e social. As casas brotaram ao redor, e uma nova cidade começou a se desenhar em torno das possibilidades que o trem trazia.

"Eu vivi essa época": moradores lembram chegada do trem durante passeio
Monumento Maria Fumaça, inaugurado em 2018 em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

A inauguração atraiu pessoas de várias partes do Brasil e fomentou o comércio, o transporte e o desenvolvimento da região. A cidade começou a crescer ao redor da ferrovia.

De acordo com o Iphan, o Complexo Ferroviário foi tombado em dezembro de 2009. A área abrange 22,3 hectares e é composto por 135 edifícios em alvenaria e madeira, erguidos em diferentes épocas durante a expansão das atividades da companhia ferroviária na região.

A psicóloga e psicodramatista, Leila Dittmar, também reviveu histórias na manhã fria de hoje.

"Eu vivi essa época": moradores lembram chegada do trem durante passeio
Leila Dittmar dando entrevista ao Campo Grande News, na esplanada ferroviária (Foto: Henrique Kawaminami)

“Recordei da minha infância, porque eu sou campo-grandense e vivia muito isso. Era muito bacana a gente ver a estação, esperar os parentes chegarem, levar as pessoas para viajar. Era uma maravilha, a coisa mais gostosa a gente ver essa manobra do trem.Reviver a história de Campo grande, dá uma valorização para essa cidade, que de repente não se tornou mais humanizada, se tornou uma cidade comercial, ligada a outras questões. Esqueceram essa parte da cultura”, destacou.

O projeto também atraiu turistas. É o caso da psicóloga, Laura Vomero, que veio de Florianópolis.

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Laura no monumento Maria Fumaça, na Avenida Calógeras (Foto: Henrique Kawaminami)

“Queria conhecer a cidade. É a primeira vez que venho, fui na Feira Central ontem, comi uns pratos típicos, comi sopa Paraguaia, comi o sobá. O que me fez vir para cá foi justamente por ser um território indígena e queria conhecer a cidade”, explicou.

Projeto - O evento é idealizado pelos psicodramatistas Valéria Brito e Devanir Merengué, e acontece desde 2011. O tema central desta edição, "Transver o Mundo – o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo", é em homenagem e inspiração na obra do poeta Manoel de Barros.

O evento é uma imersão nos fundamentos conceituais, filosóficos, artísticos e culturais do Psicodrama por meio de experimentos práticos, discussões enriquecedoras e a proposição de novas ideias.

A escolha de Campo Grande como sede reforça a conexão do evento com a obra e o espírito de Manoel de Barros, que tem linguagem sensorial rica em imagens da natureza pantaneira.

Valéria Brito explica que a ideia é se colocar em situações que permitam investigar, por meio da ação, as relações cotidianas entre seres humanos.

“Entendemos que é nosso trabalho como profissionais de saúde, de educação, de serviço social, criar meios e modos de que a nossa teoria, nosso jeito de pensar e de trabalhar se articule com a comunidade. É disso que vamos falar, de um lugar de memória, é um lugar em que a gente pode transitar para, inclusive, agradecer e honrar a história das pessoas, especialmente ligadas às ferrovias, que fizeram o Brasil se interiorizar”, destacou.

Antes de iniciar o trajeto, o arquiteto João explicou, primeiro, que Campo Grande começou com a chegada de José Antônio Pereira, em 1872, e que somente em 1899 foi elevada à condição de município, com o nome de Santo Antônio de Campo Grande e mais tarde somente Campo Grande.

Além disso, também destacou que a região onde hoje está Campo Grande era habitada por povos indígenas, que com a chegada da ferrovia foram expulsos de seus territórios.

Como a atividade está sendo realizada por meio do "Campão a pé", no qual, ele é o idealizador, ele explica que a ideia é fazer o próprio morador conhecer a história da Capital.

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Arquiteto João dos Santos contando sobre a história de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

“Teremos turistas aqui, mas o foco dessa atividade é sempre para o morador. O morador se reconhecer, entender um pouco da sua história, onde que esses espaços cruzam com suas memórias pessoais, suas memórias coletivas. Estamos falando aqui de uma área embrionária da nossa cidade, que muitas vezes as pessoas não sabem. Esse espaço não é um espaço morto, aqui a vida pulsa, assim como pulsava há 110 anos, ela ainda pulsa na existência desses moradores que trazem consigo essa memória ferroviária para além das edificações”, finalizou.

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