Em festival, arquiteto mostra o valor do complexo ferroviário para cidade
Caminhada no Campão Cultural destacou a beleza e importância histórica da região que é a 'casa' do festival
Uma das melhores maneiras de conhecer uma cidade e seus detalhes é andar a pé. Por isso, o Campão a Pé, projeto do historiador e arquiteto João Santos chegou ao Campão Cultural como forma de mostrar o valor do Complexo Ferroviário para a cidade.
Na manhã deste domingo (10), João realizou essa andança com moradores e participantes do festival. A proposta foi conhecer a fundo o Complexo Ferroviário, um local de grande valor histórico e arquitetônico e que faz parte do dia a dia campo-grandense.
João apresentou a região comparando-a a uma pequena cidade, com seus estratos sociais e também com toda a estrutura que os trabalhadores da ferrovia necessitavam.
Pelos caminhos da história
O ponto de partida da caminhada foi o Monumento Maria Fumaça, que é uma homenagem ao Complexo Ferroviário, o grande motivo do passeio. Ele compreende o espaço de 22 hectares, 135 imóveis, além dos diversos trilhos, viadutos e bens móveis e imóveis que o compõem.
A primeira parada foi em uma casa localizada na Orla Ferroviária, logo atrás da Maria Fumaça. Ela foi a primeira construção de alvenaria do complexo e hoje encontra-se inteiramente conservada. É possível observar que em sua estrutura foram utilizados até mesmo os próprios trilhos.
Logo depois, atravessando a avenida Mato Grosso, o grupo chegou a um dos prédios mais icônicos da Esplanada Ferroviária: a casa do Engenheiro-Chefe. Construída na década de 1930, hoje ela é utilizada ocasionalmente como Gabinete da Prefeitura Municipal de Campo Grande.
A estação em si é uma construção digna de atenção, composta por um pavilhão central e duas alas laterais. Em sua fachada, o relógio – um dos poucos da cidade, em 1914 – marcava as horas para quem chegava ou partia. Hoje, o salão que acompanhou tantas idas e vindas, é a sede da AFAPEDI – Associação dos Ferroviários, Aposentados, Pensionistas, Demitidos e Idosos. As alas laterais também foram ressignificadas, o antigo armazém de mercadorias, tornou-se o Armazém Cultural e a estação também dá lugar a um ponto de cultura, com a Casa de Vidro e seu espaço externo.
A caminhada então chegou às ruas perpendiculares à Estação: a rua Doutor Temístocles e a General Mello. “Aqui viviam funcionários intermediários, por isso temos casas menos generosas, menos ornamentadas, mas ainda com detalhes lindíssimos como os ladrilhos hidráulicos”, apontou o professor. No caminho, o grupo passou ainda pela antiga sede administrativa da Noroeste do Brasil, onde hoje se encontra a sede do IPHAN, que está sendo restaurada, e a antiga escola dos filhos dos ferroviários, que hoje abriga a sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/MS).
A próxima parada foi a rua Doutor Ferreira, a conhecida vila de casas geminadas, onde viviam os funcionários que trabalhavam pegando no pesado na estação. O professor apontou que as casas não têm recuo frontal como as anteriores e, as que mantiveram suas características originais, têm tijolos aparentes e poucos elementos decorativos, dando um ar de vila operária.
Após finalizar a simpática rua de paralelepípedos, o professor guiou o grupo pela rua 14 de Julho até chegarem ao Complexo da Rotunda, o ponto alto do conjunto ferroviário. Sua instalação, no início da década de 1940, foi muito esperada, pois ela dinamizaria o serviço da Noroeste do Brasil. Antes disso, as locomotivas precisavam ir até Bauru para que fossem realizadas manutenções. Com a construção do complexo, que conta com a Rotunda, um Girador (que direcionava as máquinas para as baias de conserto) e um abrigo de locomotivas, isso não seria mais necessário.
“A beleza dele está em sua brutalidade e monumentalidade. Hoje existem apenas três rotundas tombadas em todo o Brasil: a de São João Del-Rey, em Minas Gerais, a de Porto Velho, em Rondônia e a nossa, em Campo Grande”, destacou João. No entanto, apesar da grandiosidade desse conjunto, ele encontra-se atualmente abandonado e em estado de degradação. Os visitantes se encantaram com a beleza do local que está em ruínas, tiraram fotos e muitos refletiram sobre a necessidade de um projeto para que o local seja recuperado e conservado.
Após cerca de duas horas e meia de caminhada, o tour chegou ao final, ao lado da Maria Fumaça, em frente ao Ateliê 118, um espaço de cultura urbana que ocupou uma das casas de antigos ferroviários.
Para João, poder oferecer atividades como o Campão a Pé é fundamental para a cidade e seus moradores. “Tenho certeza que quem participou vai multiplicar a experiência que teve com outras pessoas, contando que viveu uma ação que quer reconhecer e reviver espaços e memórias ligados a nossa história, cultura, economia e aos nossos problemas sociais e econômicos”, explicou.
Ele pontuou ainda que o projeto é uma forma de sensibilizar que temos espaços locais belíssimos com poucos investimentos e problemas sociais para serem enfrentados. “Além de um passeio é uma beliscada! É um lembrete de que tudo isso aqui é nosso e que precisamos acordar para isso”, finalizou.
Quem perdeu essa edição da Oficina Campão a Pé, deve ficar ligado. A próxima acontece na manhã do próximo sábado (15) e percorrerá o centro de Campo Grande. A saída é em frente ao Sesc Cultura, na avenida Afonso Pena, às 8 horas da manhã.
A programação completa do Campão Cultural pode ser conferida aqui.
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