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Artes

Caramujo-flor: Manoel de Barros e o legado da ternura pelo desprezível

Aline dos Santos | 13/11/2014 09:51
Manoel no escritório, na casa da rua Piratininga (Foto: Marcelo Duailibbi)
Manoel no escritório, na casa da rua Piratininga (Foto: Marcelo Duailibbi)

Caramujo-flor. O desconcerto da imagem, título de um filme visto na escola, foi o convite para conhecer o mundo das grandezas do chão. O anfitrião era Manoel de Barros, que mais parecia um menino que andava plantando bananeira do que o senhor já de cabelos brancos.

A ótica invertida, de quem vê no chão horizonte, fez brotar em mim a ternura pelo desprezível, uma simpatia velada pelas latas jogadas fora, pelas estradas esquecidas, pelos caramujos com vocação para flor, pelos loucos que arrastam estrelas.

No universo das pequenezas, o poeta se esmera na busca pela infância das palavras. Parece que as vê nascendo, ouve seus primeiros “ais”, adivinha seus murmúrios e as transportas, docemente, na pontinha do lápis, para seus domínios.

E só a entrega voluntária pode construir tardes azuis, pentes solitários, silêncios composto de imagens, estradas desertas por abandono ou desprezo. Não resta duvida, as palavras amam ser poesia nas mãos de Manoel de Barros. Pois, como segredaram ao poeta: é pelo tato que a fonte do amor se abre.

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