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Artes

Irritada, presidente deixa prédio da Fundac depois de conversar com prefeito

Ângela Kempfer, Kleber Clajus e Paula Maciulevícius. | 03/03/2015 10:03
Presidente deixa Fundac na manhã de hoje. (Foto: Marcelo Calazans)
Presidente deixa Fundac na manhã de hoje. (Foto: Marcelo Calazans)

A presidente da Fundac, Juliana Zorzo, deixou há pouco o prédio da Fundação Municipal de Cultura, na Rua Brasil, depois de uma conversa por telefone com o prefeito Gilmar Olarte.

Artistas que fazem manifestação hoje no órgão já haviam solicitado a saída de todos os funcionários. "Queremos ser vistos, não ficar aqui como se fossemos invisíveis, porque é isso que eles estão fazendo", justificaram os manifestantes. Eles pretendem permanecer acampados na sede da Fundac, pelo menos, até às 14 horas de quarta-feira.

Depois de passar pelas salas e pedirem a saída, artistas e produtores culturais se concentraram no saguão do prédio, cantando e dançando, sempre reforçando o objetivo pacífico da mobilização.

“Falam que querem trabalhar e não deixam a gente trabalhar”, reclamou Juliana Zorzo ao deixar o prédio, escoltada por assessores. A declaração provocou risos. "Como assim trabalhar? Não há nenhum investimento em Cultura nesta cidade", gritaram manifestantes.

Segundo os manifestantes, não houve outra forma de chamar a atenção, já que, apesar de inúmeras conversa, o problema só piora, sem nenhuma proposta concreta de retomada dos investimentos. "Aqui tem vidas, tem história de uma cidade. Quem sabe juntos podemos chegar a uma solução. A última coisa que queremos é o enfrentamento, mas nós estamos dispostos a apanhar aqui hoje", avisou o ator Thiago Moura, de 29 anos.

O vereador Eduardo Romero, que é ligado ao teatro, também foi até o prédio conversar com a presidente da Fundac, na tentativa de evitar o confronto, já que a presidente havia dito que acionaria a Tropa de Choque, caso continuasse a "baderna". 

Antes, ela conversou com os artistas, tentando a desocupação do lugar. “Eu entendo o protesto, mas tem de ser respeitoso. Não pode chegar pedindo para os funcionários saírem das salas. Se quiserem ficar aqui até o fim do expediente, tudo bem, a gente pede até almoço”, argumentou.

Juliana lembrou que está marcada audiência pública na Câmara Municipal, justamente para discutir o destino de 1% do orçamento para a Cultura, respeitando lei aprovada em 2012. "Não acho necessário discutir isso hoje e amanhã também", defendeu a presidente.

Artistas em frente ao prédio da Fundac. (Foto: Marcelo Calazans)
Artistas em frente ao prédio da Fundac. (Foto: Marcelo Calazans)

Revolta - Músicos, atores e atrizes exigiram o direito ao protesto pacífico, principalmente, porque há meses tentam a retomada de investimentos culturais na cidade, sem sucesso. Além de reclamarem da inércia atual na Cultura, muitos se mostram indignados porque nem sequer receberam pagamentos de 2013. "Quem entrou na Justiça para receber, recebeu", argumentou Juliana.

Os últimos tempos tem sido complicados para quem vive de fazer Cultura em Campo Grande. Além dos cancelamentos dos editais de incentivo ao teatro e à Cultura, o Fmic e o Fomteatro, os artistas ficaram sem cachê de apresentações em projetos itinerantes, também suspensos, e não há qualquer previsão da publicação de editais de incentivo à cultura em 2015. "Dependemos de orçamento", declarou Juliana Zorzo.

Além de todos os cortes, os artistas e produtores reclamam do despreparo na administração da Fundac. "A assessora dela falou que isso é uma palhaçada. Pelo menos aqui, eles deveriam entender que palhaço é uma profissão. Mas não, são completamente incompetentes para trabalhar com a Cultura", avaliou o ator Anderson Lima, 36 anos.
Para os funcionários da Fundação Municipal de Cultura, esse tipo de ato é novidade. Hoje cedo, ao começarem mais um dia de trabalho foram surpreendidos por artistas determinados em fazer desta terça-feira uma data definitiva para o setor em Campo Grande. Organizados, os artistas apareceram na Fundac ao lado de advogados e preparados para um longo dia de protesto.

“Quem tiver textos para ler, figurinos de espetáculos para desenhar, pode começar a trabalhar. Vamos aproveitar para ocupar o tempo com o que a gente sabe fazer”, recomendou um dos coordenadores do grupo Imaginário Maracangalha, Fernando Cruz.

Para a velha guarda da cultura sul-mato-grossense, já era hora de uma atitute. "Demorou, mas sempre é tempo. Acho que, em 25 anos que eu moro aqui, nunca vi uma revolta dessaw. Mas ja aceitamos muito", comentou o músico Zé Geral, de 61 anos.

Manifestantes são observados por guardas municipais. (Foto: Marcelo Calazans)
Manifestantes são observados por guardas municipais. (Foto: Marcelo Calazans)
Manifestante fixa cartaz na fachada da Fundac. (Foto: Marcelo Calazans)
Manifestante fixa cartaz na fachada da Fundac. (Foto: Marcelo Calazans)
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