Aos 95 anos, Zélia tenta incluir o nome do pai na certidão de nascimento
Terapeuta ocupacional aposentada participou do mutirão "Meu Pai Tem Nome" promovido pela Defensoria Pública
Um sonho cultivado por quase um século pode, enfim, estar prestes a se realizar. Aos 95 anos, a terapeuta ocupacional aposentada Zélia Pereira Ribeiro fez questão de ir pessoalmente até o mutirão da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul neste sábado (16), em Campo Grande, para participar da ação “Meu Pai Tem Nome”.
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Aos 95 anos, Zélia Pereira Ribeiro busca incluir o nome do pai, Faustino Pereira Leite, em sua certidão de nascimento. A terapeuta ocupacional aposentada participou do mutirão "Meu Pai Tem Nome", promovido pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Zélia, que nasceu em 1930, nunca teve o registro formal do pai devido a questões burocráticas da época, mas sempre manteve o desejo de homenageá-lo. A iniciativa conta com o apoio da filha de Zélia, Dolores, que reuniu documentos históricos para comprovar a paternidade. O mutirão nacional visa regularizar registros de paternidade, um problema que afeta milhares de famílias no Brasil. Para Zélia, a inclusão do nome do pai na certidão representa a realização de um sonho que carrega desde a juventude.
O desejo de Zélia é simples, mas carregado de emoção: incluir o nome do pai, Faustino Pereira Leite, em sua certidão de nascimento.
Apesar de nunca ter tido o registro formal do pai no documento, Zélia faz questão de exaltar o carinho paterno que sempre recebeu. “Meu pai sempre esteve presente. Eu nunca me senti sem pai. Mas sempre tive o sonho de ver o nome dele escrito na minha certidão, como uma forma de homenagem”, contou.
Burocracia impediu registro há quase um século - Faustino Pereira Leite e Maria da Conceição tiveram seis filhos que nasceram em casa, sem a presença de testemunhas no momento do registro, uma exigência do cartório da época, já que ambos não eram casados no papel. Sem cumprir a formalidade, o pai constava no cartório apenas como declarante.
Zélia nasceu em 27 de março de 1930, em São Roque (SP) e viveu a vida toda com o pai, a mãe e cinco irmãos, quatro deles já falecidos. Hoje, tem apenas uma irmã que vai ajudá-la a fazer o teste de DNA, caso seja preciso para dar continuidade ao processo.
O empenho da filha - O esforço para realizar o sonho de Zélia tem sido conduzido há anos pela filha, Dolores Pereira Ribeiro Coutinho, de 62 anos.
Ela reuniu a documentação e localizou parte do material no colégio onde a mãe estudou na infância em São Roque. “Encontrei atestados médicos, registros de vacinação e até matrículas escolares assinadas pelo meu avô”, afirma Dolores.
O entusiasmo de Zélia com a possibilidade de ver o nome do pai no registro é tão grande que, mesmo não sendo obrigatória sua presença por conta da idade, ela fez questão de comparecer pessoalmente ao mutirão.
Zélia vive em Campo Grande desde 1984 e carrega em sua trajetória outro feito marcante: fez parte da primeira turma de Terapia Ocupacional da USP (Universidade de São Paulo). Mãe de dois filhos, acredita que finalmente poderá realizar o sonho que a acompanha desde a juventude.
“É um presente que quero dar para mim e para a memória do meu pai”, resume Zélia.
Ação Nacional - O mutirão nacional “Meu Pai Tem Nome” foi realizado neste sábado em todo o Brasil. Segundo o defensor público Marcelo Marinho, , coordenador do Núcleo de Direito de Família e Sucessões da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em todo o Brasil diariamente 460 crianças são registradas sem o nome do pai.
No Estado, de janeiro a julho, a justiça recebeu 3.250 pedidos de reconhecimento de paternidade, sendo 1.836 casos somente em Campo Grande.