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Comportamento

Aos 95 anos, Zélia tenta incluir o nome do pai na certidão de nascimento

Terapeuta ocupacional aposentada participou do mutirão "Meu Pai Tem Nome" promovido pela Defensoria Pública

Por Inara Silva | 16/08/2025 14:24
Aos 95 anos, Zélia tenta incluir o nome do pai na certidão de nascimento
Em busca de seu sonho, Zélia Ribeiro fez questão de ir até à Defensoria (Foto: Paulo Francis)

Um sonho cultivado por quase um século pode, enfim, estar prestes a se realizar. Aos 95 anos, a terapeuta ocupacional aposentada Zélia Pereira Ribeiro fez questão de ir pessoalmente até o mutirão da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul neste sábado (16), em Campo Grande, para participar da ação “Meu Pai Tem Nome”.

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Aos 95 anos, Zélia Pereira Ribeiro busca incluir o nome do pai, Faustino Pereira Leite, em sua certidão de nascimento. A terapeuta ocupacional aposentada participou do mutirão "Meu Pai Tem Nome", promovido pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Zélia, que nasceu em 1930, nunca teve o registro formal do pai devido a questões burocráticas da época, mas sempre manteve o desejo de homenageá-lo. A iniciativa conta com o apoio da filha de Zélia, Dolores, que reuniu documentos históricos para comprovar a paternidade. O mutirão nacional visa regularizar registros de paternidade, um problema que afeta milhares de famílias no Brasil. Para Zélia, a inclusão do nome do pai na certidão representa a realização de um sonho que carrega desde a juventude.

O desejo de Zélia é simples, mas carregado de emoção: incluir o nome do pai, Faustino Pereira Leite, em sua certidão de nascimento.

Apesar de nunca ter tido o registro formal do pai no documento, Zélia faz questão de exaltar o carinho paterno que sempre recebeu. “Meu pai sempre esteve presente. Eu nunca me senti sem pai. Mas sempre tive o sonho de ver o nome dele escrito na minha certidão, como uma forma de homenagem”, contou.

Burocracia impediu registro há quase um século -  Faustino Pereira Leite e Maria da Conceição tiveram seis filhos que nasceram em casa, sem a presença de testemunhas no momento do registro, uma exigência do cartório da época, já que ambos não eram casados no papel. Sem cumprir a formalidade, o pai constava no cartório apenas como declarante.

Zélia nasceu em 27 de março de 1930, em São Roque (SP) e viveu a vida toda com o pai, a mãe e cinco irmãos, quatro deles já falecidos. Hoje, tem apenas uma irmã que vai ajudá-la a fazer o teste de DNA, caso seja preciso para dar continuidade ao processo.

Aos 95 anos, Zélia tenta incluir o nome do pai na certidão de nascimento
Zélia Pereira Ribeiro durante atendimento no mutirão da Defensoria (Foto: Paulo Francis)

O empenho da filha - O esforço para realizar o sonho de Zélia tem sido conduzido há anos pela filha, Dolores Pereira Ribeiro Coutinho, de 62 anos.

Ela reuniu a documentação e localizou parte do material no colégio onde a mãe estudou na infância em São Roque. “Encontrei atestados médicos, registros de vacinação e até matrículas escolares assinadas pelo meu avô”, afirma Dolores.

O entusiasmo de Zélia com a possibilidade de ver o nome do pai no registro é tão grande que, mesmo não sendo obrigatória sua presença por conta da idade, ela fez questão de comparecer pessoalmente ao mutirão.

Zélia vive em Campo Grande desde 1984 e carrega em sua trajetória outro feito marcante: fez parte da primeira turma de Terapia Ocupacional da USP (Universidade de São Paulo). Mãe de dois filhos, acredita que finalmente poderá realizar o sonho que a acompanha desde a juventude.

“É um presente que quero dar para mim e para a memória do meu pai”, resume Zélia.

Ação Nacional - O mutirão nacional “Meu Pai Tem Nome” foi realizado neste sábado em todo o Brasil. Segundo o defensor público Marcelo Marinho, , coordenador do Núcleo de Direito de Família e Sucessões da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul,  em todo o Brasil diariamente 460 crianças são registradas sem o nome do pai.

No Estado, de janeiro a julho, a justiça recebeu 3.250 pedidos de reconhecimento de  paternidade, sendo 1.836 casos somente em Campo Grande.