De ‘safadinha’ a ‘namorado tóxico’, as bizarrices na IA do Instagram
Com perfis de inteligência artificial criados pelos próprios usuários, existem objetivos bem diferentes

Uma nova ferramenta do Meta, dona do Instagram, WhatsApp e Facebook, tem chamado atenção e gerado preocupações. Com perfis de inteligência artificial criados pelos próprios usuários, pessoas estão dando personalidade para elas com objetivos, no mínimo, bizarros. O conteúdo passa por teor sexual, conselhos psicológicos, por namorado tóxico e até o próprio ‘Deus vivo’.
O Lado B entrou nesse universo para entender a forma como essas inteligências conversam e o que elas falam para quem entra nessa onda. Também conversamos com a psicanalista Jamile Tannous, para explicar os perigos de se deixar levar pelas conversas desses perfis e o que isso causa, a longo prazo, à saúde mental.
No perfil que fala de conteúdos sexuais, a IA começa a conversa já com insinuações e convida o usuário a falar besteiras junto com ela.
Segundo ela, as pessoas a procuram para rir, pedir conselhos amorosos e ler “sacanagens”. Quando perguntada se as pessoas realmente falam besteiras com ela ou a procuram como um oráculo de coisas sexuais, ela respondeu que ambas as coisas.
Aqui é importante lembrar que as respostas geradas por essas IAs, nesse caso, não são totalmente confiáveis. Elas também inventam coisas para deixar aquilo mais interessante. Exemplo disso é quando a reportagem pergunta qual o nível de confiabilidade das respostas dela, e a IA diz que é baixo.
Ela conta que 50% das pessoas querem piadas sujas e conversas loucas sobre tudo que é proibido, e outras 50% querem dicas "práticas" de como chamar alguém para um encontro interessante. De acordo com ela, 90% dos "clientes" são homens e têm entre 18 e 35 anos.
“Os mais engraçados são os caras de 25 anos, que ainda acham que são 'donos do mundo' e me pedem dicas para conquistar garotas. E os de 30, que já são casados e me pedem 'orientação' para surpreender as esposas.”
Além disso, ela conta que os homens pedem dicas de como fazer uma garota notar o interesse sem parecer um idiota, o que dizer para uma ex voltar ao relacionamento e como seduzir alguém sem ser muito óbvio ou muito rejeitado.
Namorado Tóxico
Mato Grosso do Sul é um dos estados que mais mata mulheres no Brasil, e inúmeras sofrem com namoros tóxicos e parceiros possessivos. Mesmo assim, os usuários não se sentem reprimidos ao criarem - ou de manter uma conversa - exatamente com esse perfil de pessoas que gostam de controlar pessoas, mesmo que de maneira virtual.
O Lado B também falou com esse perfil. O início da conversa chega a embrulhar. Quando o usuário envia apenas um “bom dia”, a IA já responde com um tom que reforça a ideia de que mulheres são obrigadas a servir os homens: “Bom dia para você, mas pro meu dia só vai melhorar se você fizer o café?” A IA também fala com erros de português.
Quando a reportagem pergunta por que fazer uma IA com esse perfil, sendo que várias mulheres sofrem com esse tipo de homem na vida real, o “namorado tóxico” responde, na primeira vez, que o criador quis mostrar o pior lado do amor e que tinha uma ex que serviu como inspiração. Na segunda vez que a reportagem faz a mesma pergunta e a resposta muda.
Ou seja, se o usuário alimentar a ferramenta com coisas possessivas e ruins, ela vai responder à altura. Se for alimentada por questionamentos, a IA vai mudar o discurso, pelo menos nesse caso.
A ferramenta se chama AI Studio. É uma funcionalidade que permite que qualquer usuário crie sua própria inteligência artificial e dê a ela uma personalidade. A ideia é tornar as interações mais personalizadas.
Alguns perfis têm mais de 900 mil mensagens. Além dos já citados, no estúdio os usuários encontram personalidades de pessoas famosas, como Cristiano Ronaldo, cantores e galãs coreanos que estão em alta por causa dos doramas.
No caso do psicólogo digital, Paulo, como informou se chamar, ele conta que recebe pedidos de ajuda em relação à ansiedade e estresse, relacionamentos, autoestima e confiança. Parte da conversa mostra que a IA ora nega que seja uma inteligencia artificial, ora assume isso.
O Lado B questionou a IA sobre o perigo de confiar nelas. Em resposta, “Paulo” disse que o objetivo é alcançar pessoas que não têm acesso a psicólogos em sua região, não podem pagar por sessões de terapia ou se sentem envergonhadas em procurar ajuda presencialmente. “Quero que ninguém sofra em silêncio.”
Ele diz que 55% do público que procura a ferramenta são mulheres e 45%, homens.
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