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Comportamento

Depois de nove meses, resultado de ir catar guavira aparecia na "barriga"

Paula Maciulevicius | 28/11/2016 08:46
"Fulana foi catar guavira e voltou ó", lembra chef Dedê, sobre as histórias que rondavam os casais e guavirais. (Foto: Marcos Ermínio)
"Fulana foi catar guavira e voltou ó", lembra chef Dedê, sobre as histórias que rondavam os casais e guavirais. (Foto: Marcos Ermínio)

Há quem diga que os nascimentos se justifiquem por dois fatos: Carnaval e época de guavira. Nove meses depois, era só fazer as contas de qual deles tinha acontecido. No final de semana, o Lado B esteve no Cata Guavira, evento que reuniu chefs em torno da fruta, em Bonito. Nas aulas e também com o povo nas ruas, a guavira está relacionada às histórias ouvidas no passado, de quem "pegava barriga" na volta dos guavirais. 

Taxista, neto da família dos fundadores de Bonito, seu Sidney Nolasco, de 61 anos, tem isso na ponta da língua. "Moça apaixonada que saiu para catar guavira, em nove meses surgia o resultado. Desde moleque eu lembro disso", brinca.

E ele não fica sozinho nessa. Tradição na cidade, o motorista Adelmo Nazareth, de 57 anos, recorda exatamente da "desculpa" dada pelos casais de namorados. "Falava que se perdia nas guaviras, mas não era nada disso não e em nove meses nascia o bebê", reforça.

Adelmo lembra que a desculpa dada pelos namorados era de que eles tinham se perdido. (Foto: Marcos Ermínio)
Adelmo lembra que a desculpa dada pelos namorados era de que eles tinham se perdido. (Foto: Marcos Ermínio)

E se tem alguém com propriedade para falar de guavira, é seu Almiro Kelm. Aos 70 anos, ele é o criador da especiaria de guavira, tempero feito a partir da casca e das sementes da fruta. Há quatro décadas no Estado, "essas histórias" ele ouviu e muito.

"Na minha época, não namorava que nem vocês hoje. Aí então era o que acontecia muito. As famílias iam para os campos e os namorados iam junto, mas os casaizinhos davam um jeito de se separar e ia catar guavira, onde aconteciam as coisas", explica.

Até conto existe para reforçar a crendice. "Maria falou pra Sebastião, domingo de manhã, garoando, você sabe que dia faz hoje? Ele falou sei ué, hoje faz 10 anos que nós fomos no guaviral. O Joãozinho perguntou: papai, eu fui também? Não, você não foi, mas veio de lá".

Até conto tem sobre a guavira, de Joãozinho, filho que voltou do guaviral com os pais. (Foto: Marcos Ermínio)
Até conto tem sobre a guavira, de Joãozinho, filho que voltou do guaviral com os pais. (Foto: Marcos Ermínio)

E o que muda o conto não é nem os tempos "modernos", onde namorados não precisam de enredo para ficarem a sós. Hoje em dia, catar guavira está mais difícil na cidade e também nos campos. A fruta está virando raridade e é mais fácil comprar do que catar. "Está acabando sim e pela ganância na pastagem, mecanização das lavouras. Praticamente não existe mais abundância, só nas reservas", explica seu Almiro. 

Chef de cozinha da Capital, Dedê Cesco, tem na guavira uma memória de infância, da época em que saía com os pais para catar aos finais de semana. "À tarde, as famílias iam ali perto, dentro de Campo Grande mesmo, tinham fazendas e sítios e a gente ia catar para os lados de Três Lagoas, saída para Rochedo, Terenos, era parte do cotidiano", narra. 

Junto com o costume, também vinham as histórias. "Era uma piadinha, porque a gente ia para o mato e as pessoas falavam com malícia: 'fulana saiu para catar guavira', ou 'fulana foi catar guavira e voltou ó'. Isso era quando uma menina aparecia grávida, que naquela época não era uma coisa corriqueira como hoje", conta Dedê. 

Na cidade, ela acredita que as piadinhas pararam de ser feitas não só pela mudança de comportamento, como também falta de oferta de guavira. "Desmatamento, o mercado imobiliário que não respeita. Hoje a gente não cata, tem que comprar".

Relembrar os causos da guavira além do sabor traz também uma nostalgia. "Era muito legal, a gente tem que resgatar isso que está se perdendo..."

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Junto com o costume vinham também várias histórias. (Foto: Marcos Ermínio)
Junto com o costume vinham também várias histórias. (Foto: Marcos Ermínio)
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