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Comportamento

Há 40 anos, Tetê Espíndola vencia o Festival dos Festivais da MPB

Em conversa com o Lado B, artista campo-grandense revisitou memórias e refletiu sobre longevidade da carreira

Por Clayton Neves | 28/10/2025 07:49

Quarenta anos se passaram desde que Tetê Espíndola, no auge dos 30 anos, conquistou o Brasil com seu timbre único e foi a grande campeã do Festival dos Festivais da TV Globo com “Escrito nas Estrelas”. Era 26 de outubro de 1985, e a artista campo-grandense deixava seu nome marcado na história da música popular brasileira.

RESUMO

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A cantora Tetê Espíndola celebra 40 anos da vitória no Festival dos Festivais da TV Globo com a música "Escrito nas Estrelas". Em entrevista, a artista sul-mato-grossense relembra os bastidores do evento que a consagrou nacionalmente em 1985, incluindo a escolha do icônico macacão branco usado na apresentação. Aos 72 anos, Tetê mantém sua essência artística ligada às raízes pantaneiras e comemora o recente retorno viral de "Escrito nas Estrelas", após interpretações de Márcia Fu em um reality show e regravação por Lauana Prado. A cantora segue em atividade, com shows regulares e um público cada vez mais jovem.

Produzido pela TV Globo, o Festival dos Festivais teve eliminatórias em diferentes cidades do País, com final lotada no Maracanãzinho. O concurso teve 12 mil inscritos e o objetivo era resgatar a era dos festivais de canções dos anos 60.

Quatro décadas se passaram desde o momento histórico. Em entrevista concedida ao Lado B, Tetê revisitou memórias, comentou sobre o retorno viral de sua música em 2023, e refletiu sobre a longevidade de uma carreira que nunca perdeu o vínculo com suas raízes. (Confira o vídeo com a entrevista na íntegra no fim desta reportagem).

As memórias do festival que mudou tudo

Tetê recorda com carinho os bastidores do festival que a consagrou como uma das grandes vozes da MPB. “A gente se inscreveu com duas músicas: uma, minha com Carlos Rennó, ‘A Visão da Terra’, e ‘Escrito nas Estrelas’, do Arnaldo Black e do Carlos Rennó. Eu lembro bem da gente esperando o resultado no Fantástico. A cada chamada, eles anunciavam alguns dos classificados e a nossa vez nunca chegava, até que, por fim, divulgaram ‘Escrito nas Estrelas’. Aí foi aquela festa”, lembra.

A partir da classificação, Tetê conta que começou a se preparar para as seletivas que apresentaram ao País o talento com DNA sul-mato-grossense. A preparação incluiu a escolha do figurino, o icônico macacão branco com franjas, que virou destaque da apresentação. Segundo ela, o conceito nasceu depois de uma “premonição”.

“Eu sonhei com aquela roupa, tirei a ideia do meu sonho. Naquela época ainda nem se usava o macramê. Quem fez pra mim foi um rapaz chamado Jairo. Ele produziu aquele macacão do jeito que eu queria no meu corpo, colocando aquelas franjas para dar um tcham na hora que eu dançasse. Eu tive essa premonição de que deveria usar aquela roupa até o fim. E deu certo, fui para a final com ela”, destaca.

Há 40 anos, Tetê Espíndola vencia o Festival dos Festivais da MPB
Look usado por Tetê em 1985 foi criado a partir de sonho da cantora

A cantora lembra ainda da participação dos backing vocals Jerry Espíndola e Virgínia Rosa, que subiram ao palco com ela. “Eu também sonhei que eles eram os corações, mas no final, eles me deram essa surpresa, se fantasiaram de noiva e noivo e se casaram no final”, relata.

Composta por Arnaldo Black e Carlos Rennó, Escrito nas Estrelas nasceu como uma homenagem ao casamento de Tetê. “Quando o Arnaldo me mostrou a melodia, eu senti que tinha algo forte. Pedi que o Rennó colocasse letra e ficou uma canção muito pessoal. Eu me apaixonei imediatamente”, recorda.

Há 40 anos, Tetê Espíndola vencia o Festival dos Festivais da MPB
Prestes a fazer 50 anos de carreira, Tetê Espíndola segue fazendo shows. (Foto: Gal Oppido)

A vitória que ela não esperava

Apesar da entrega e da performance marcante, Tetê garante que não imaginava vencer. “A gente nunca acha que vai. Eu, como fã dos artistas que estavam junto comigo, só achava que tinha muita gente boa para ganhar. Mas eu estava com tudo, inteira, no auge da minha voz”, pontua.

O festival, transmitido pela Rede Globo, parou o País para acompanhar as promessas da música da época. “O Brasil inteiro parava diante da televisão. Esse festival foi um dos últimos grandes festivais que a gente teve, infelizmente. Devia ter mais. A televisão promove mesmo, faz o negócio virar popular”, diz.

A vitória, segundo ela, elevou o patamar da carreira. “Eu ter ganhado um festival da Globo me colocou como uma estrela nacional. A partir dali o negócio ficou inteiro pra mim”, avalia.

O reencontro com uma nova geração

Quase quatro décadas depois, “Escrito nas Estrelas” renasceu nos palcos e nas redes sociais, após ser cantada pela ex-jogadora Márcia Fu, no reality ‘A Fazenda’, e ser regravada por Lauana Prado.

“Foi uma surpresa. Eu estava me apresentando lá com o Moinho Cultural, em Corumbá, e veio uma pessoa e falou que eu tinha viralizado. Eu falei: ‘Como assim? Virei um vírus?’”, brinca.

A nova versão fez a música alcançar o público jovem e mudar o perfil dos seguidores de Tetê.

“Foi lindo porque a geração nova começou a ouvir e ir atrás de mim. A saber o que eu tinha feito, quem eu era. Meu público aumentou muito. Foi um boom maravilhoso no ano em que eu estava comemorando meus 70 anos”

Voz da natureza e do Pantanal

Nascida em Campo Grande, no então estado de Mato Grosso, Tetê fala com orgulho da influência do Estado em sua obra. Referências que vêm da natureza e das culturas pantaneiras e do campo. “Minha composição é paisagem sonora, o ritmo dos pássaros marca muito minhas composições”, define.

Mesmo vivendo em São Paulo há muitos anos, ela diz que preserva a ligação com o Estado natal. “Eu preservo a raiz, a coisa do Pantanal. Agora, principalmente, pego mais o ritmo de fronteira. Gosto de conservar as nossas raízes, o sertanejo puro, cascatinha e Inhana”, destaca

Segundo a cantora, ela e os irmãos cresceram inseridos em um lar onde a arte sempre teve incentivo. Ao lado dos seis irmãos, Tetê cresceu ouvindo as canções cantadas pela mãe, dona Alba Miranda.

“A gente nasceu ouvindo ela. E Humberto [Espíndola], por ser o irmão mais velho, também incentivava bastante. A arte veio muito desse espírito, da mamãe com o Humberto junto”, detalha.

Quase meio século de carreira

Prestes a completar 50 anos fazendo música, Tetê atravessou gerações sem perder a essência. Mesmo com o passar dos anos, a artista manteve um ritmo com shows e gravações. Na fase atual, ela se orgulha de ver novos públicos aparecendo nos shows.

“Hoje meu público tem ficado mais jovem e tudo é novo para eles. Eu me sinto realizada, porque uma música que entra na memória das pessoas é algo muito forte”, analisa.

Aos 72 anos, Tetê encara o tempo com leveza e lida bem com as mudanças que a idade trouxe. Essas transformações modificaram até a voz marcante, que ganhou traços mais graves. “É normal essa diferença; vai ficando mais grave. Mas estou feliz com meu agudo e, quando o chamo, ele vem”, garante.

Há 40 anos, Tetê Espíndola vencia o Festival dos Festivais da MPB
Nascida em Campo Grande, artista levou MS a nível nacional com sua música. (Foto: Arnaldo Black)

Para manter o vigor, ela faz musculação e não dispensa o hábito de tocar seus instrumentos. No palco, além da voz, Tetê empunha a craviola de 12 cordas. “É mais pesada que o violão e, por isso, faço musculação para manter a força. É importante tocar um instrumento e poder fazer um show solo. Para mim, isso é uma dádiva”, conta.

Sobre a cena atual, ela reconhece as mudanças trazidas pela internet, inclusive, sobre as maneiras de se fazer fama no País. “No começo eu tive dificuldade, mas comecei a aceitar. É um negócio que não tem volta. Tá tudo muito imediato, muito rápido, mas tem muita gente boa nesse meio”, comenta.

Apesar disso, a artista reconhece o avanço do sertanejo comercial e destaca certo desequilíbrio. “O mercado da música para show mudou muito e há um investimento maior no show sertanejo. Eu acho isso uma pena porque tem tanta coisa boa e tanto show maravilhoso para o povo ver. Também acho que o público precisa ir atrás e valorizar mais”, pondera.

Sem data confirmada para um novo show em MS, Tetê deixa um recado aos conterrâneos. “Estou com saudade de tocar por aí. Entrem no meu Spotify, tem discos e um álbum ao vivo com orquestra. Um beijo para todo mundo de Mato Grosso do Sul”, finaliza.

Confira a entrevista completa com Tetê Espíndola:

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