Herança do bisavô, há 35 anos violeiro luta para manter catira viva
Desde jovem, Girsel Lima aprendeu a tocar viola para que o bisavô e o pai pudessem dançar
A herança da catira ou cateretê, que o bisavô do violeiro, Girsel Lima de Assis, deixou, é motivo de orgulho e paixão pela dança que ele luta para manter viva no Estado. Sem muita fama e em segundo plano na memória das pessoas quando comparada ao chamamé, o ritmo ganhou o coração do violeiro que há 35 anos está envolvido no sapateado e nas palmas ritmadas.
Girsel toca violão desde 1986 e viola desde 1990. Ele conta que precisou aprender para que o bisavô, Joaquim Campeiro, o avô, Mariano Campeiro, e o pai, Geraldo Campeiro, dançassem a catira. A dança em si Girsel deixa para os outros, para ele o negócio é representar a cultura nas cordas.
Nascido e criado em Camapuã, a 139 quilômetros da Capital, o músico conta que a dança é muito presente no município, mas que o ritmo ainda precisa ser mais conhecido. Ele explica que a catira é dançada em par e que precisa de um violeiro ou uma dupla na viola.
“A viola tá presente no sangue, o catira também, e lá ela é muito presente. Ela em si é uma mistura de dança indígena e africana. Eles, no passado, tinham um tipo de dança ritmada com pés e mãos e sempre dançavam em grupos. Claro que não era o catira ainda. Cada estado dança de uma forma, eu particularmente estou envolvido desde 1990. Como sempre esteve presente, a gente puxou essa responsabilidade para cima da gente para manter viva essa tradição.”
Ao longo dos anos e com a cultura da catira desaparecendo, Girsel percebeu que os mestres catireiros de 70, 60 ou 80 anos precisavam que os jovens também tomassem o gosto pela catira e aprendessem a dançar, assim poderiam ensinar as futuras gerações. Para que o cenário mudasse, ele começou a levar os mestres às escolas para divulgar a dança.
“Eles moravam em fazenda e precisavam voltar para tirar leite cedo, isso impossibilitava que eles tivessem uma rotina dentro de um projeto do município de dar aula de catira.”
Nessa época, Girsel já era músico e sempre fez questão de incluir a catira nos shows com o parceiro de palco Luís Goiano. A carreira dos dois já soma 28 anos de estrada.

“A gente tá empenhado em dar visibilidade ao catira. Essa bandeira vinha defendendo informalmente até chegar a 1998, quando eu comecei profissionalmente. A gente vem defendendo ela, levando apenas em rodas de amigos, em festa, aniversário, mas aí a coisa tomou dimensão maior e, quando comecei a tocar profissionalmente, fomos convidados para o Festival de Inverno de Bonito em 2004, depois 2005, 2006 fomos para o Festival América do Sul, tudo junto com o grupo de catira.”
Em 2009, ele fundou a Associação de Catireiros de Camapuã. Ele acrescenta que a catira é uma continuidade de gerações e uma das raízes da cultura do país.
“A gente vai lutar com todas as forças, com projetos, com o que a gente tiver de melhor para poder manter essa tradição, tanto na nossa geração como nas futuras gerações. Hoje a gente tem um pessoal do Mato Grosso, dois meninos, Marcos e André, conhecidos como os Irmãos Diamantes, que estão dançando catira pra gente. Estamos fazendo o intercâmbio através da Associação. Eles estão aprendendo um pouco do nosso catira e também o catira daqui aprendendo um pouco do deles.”
Girsel conta que a Associação tem feito muitas oficinas de catira e isso tem despertado o interesse das pessoas, mesmo que ainda pequeno.
“Nós já estamos aqui com algumas turmas de crianças dançando catira. E é isso, a gente pretende levar ela para o Mato Grosso do Sul. Os meninos do catira aqui hoje têm vídeo deles dançando com 5 milhões de visualizações.”
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