Lavar escadaria e louvar Iemanjá são conquistas de quem vive religião
Movimento Negro de Anastácio e Aquidauana se reuniu para garantir os novos compromissos e pedidos
Para os integrantes do Mona (Movimento Negro de Anastácio e Aquidauana), 2025 começou com a fé renovada com base em mais uma conquista: encerrar o ano anterior fazendo seus rituais sem medo de repressão. Em homenagem a Iemanjá, lavaram as escadas da igreja de Aquidauana e festejaram suas crenças às margens do Rio Aquidauana.
Babalorixá André Kevin Constantino detalha que esta é a segunda vez que o movimento consegue autorização para o evento.
“Realizamos a lavagem da escadaria e logo em seguida vamos em procissão por Iemanjá ao som dos atabaques e cantigas para a praiana de Anastácio. Por lá, acontece uma grande roda de axé de Iemanjá às margens do Rio Aquidauana”.
Tanto os fiéis quanto pessoas que apoiam o movimento se reúnem para tomar passe e fazer os pedidos à “rainha do mar”, como é chamada pelo babalorixá. “Para nós, é um grande avanço termos essa ação em frente à igreja, lá mostramos a união de um só povo pela fé”.
Militar aposentado, Orivaldo de Medeiros Carvalho sente a religião pulsar cada vez mais e, para quem aprendeu os caminhos da religião com a mãe, estar em espaços públicos é mais um passo na garantia de direitos.
“Sou candomblecista da nação Angola e fiz minhas obrigações ainda pequeno, com sete anos de idade. [...] É muito importante renovarmos a fé nos orixás e na mãe Iemanjá. Com muito esforço, conseguimos fazer a união das religiões de matriz africana, o que gira em torno de quarenta casas”.
E, sobre o preconceito, ele relata que é uma quebra de paradigmas diária. “Mostrando aos leigos que não temos nada a ver com coisas que nos julgam, acham que a umbanda e candomblé é satanismo, mas nada disso. É uma filosofia antiga e o preconceito perdura até hoje”.
Diretor de eventos do MNAA, José Roberto Ferreira Guerra, mais conhecido como Betinho, explica que ver as ações se manterem é uma forma de fechar o ano com olhar vitorioso.
De Corumbá, ele explica que frequenta terreiros desde criança, mesmo sendo de família católica. “Sempre tivemos esse sincretismo com a umbanda e, em 2004, eu entrei para a religião mesmo. Sou ogã desde essa época e filho de santo do Pai Antônio Carlos Seizer”.
Com o sincretismo sendo algo comum para o ogã, conseguir a autorização para celebrar as religiões com a lavação das escadas católicas significa reforçar que o preconceito tão duro precisa ser constantemente revisitado.
O preconceito por aqui é terrível. Há alguns dias, acompanhamos uma matéria sensacionalista e o povo intolerante desceu a lenha na religião. Então, começamos a incomodar com os nossos eventos”, descreve Betinho.
Sabendo do cenário, ele pontua que todo o esforço é para que seus filhos, netos e bisnetos não sofram no futuro com intolerância e preconceito.
Para além do evento realizado no dia 30 de dezembro, outras ações têm sido empenhadas no decorrer do ano. Betinho destaca a Roda de Tambores, um evento que une os terreiros na praça de Anastácio com o maior número possível de atabaques.
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