Meses após sair na Playboy, assédio transformou modelo em uma radical na igreja
Fama, dinheiro e a possibilidade de se tornar conhecida em todo o Brasil e até fora do País era uma meta para a ex-modelo Jéssica Machado, de 25 anos. Nesse caminho, ela conseguiu ser uma dentre tantas a posar nua na Playboy. As fotos saíram na edição de agosto de 2013, mas meses depois os objetivos mudaram radicalmente.
O sucesso chegou em partes, e com ele também os estigmas de uma mulher que decidiu tirar a roupa para uma revista masculina. Vieram as primeiras propostas “indecentes” e Jéssica diz que se assustou o que a fez abandonar a super exposição para se tornar evangélica.
Isso tudo ocorreu muito antes da história mais famosa envolvendo conversão do tipo, a de Andressa Urach, ex-modelo que recorreu também à religião depois de quase morrer por conta de uma infecção em 2015.
Jéssica esperava que a revista fosse um divisor de águas em sua vida, mas nem imagina qual transformação estava por vir. “Eu gostava de malhar, cultuava meu corpo e sabia que através da beleza poderia despertar o interesse de alguns profissionais, como modelo. Meu maior objetivo era ficar famosa e ganhar dinheiro”, comenta.
Naquela época, mesmo com a rotina intensa de treinos como estudante de Educação Física, Jéssica ainda conciliava os estudos como dançarina e modelo fotográfica. Ela já foi bailarina de programa de televisão em Campo Grande, ring girl em lutas de MMA e até musa do CENE Futebol Clube.
E tanta dedicação para chamar a atenção e manter o corpo em forma, garantiu que ela passasse na rigorosa seleção de “coelhinhas” da revista, em Campo Grande. “Eu participei de uma seletiva que reuniu aproximadamente 140 candidatas. Dentre todas elas eu fui uma escolhida”, afirma.
Em agosto de 2013, as fotos sensuais de Jéssica surgiram em algumas das 8 páginas da revista dedicadas ao trio campo-grandense. Intitulado de “As Belezas do Pantanal”, o editorial trazia, além da ex-modelo, a psicóloga Maria Thereza Trad e a promotora Carla Chacarosqui, todas nuas, em ensaio produzido pelo fotógrafo Alexis Prapas, em Bonito.
Com o sucesso da edição, Jéssica conta que chegou a ser convidada para ser dançarina do cantor Latino e de Naldo. Até de seletivas para participar do reality show Big Brother Brasil ela participou, mas os quinze minutos de fama não geraram só bons convites.
“Junto dessa fama momentânea, o peso maior foi em relação ao preconceito. As pessoas acham que uma mulher que posa nua é necessariamente uma prostituta. Recebi diversas propostas indecentes em troca de dinheiro, notei que no próprio meio artístico, algumas práticas eu não aprovava”, se queixa.
Diante da frustração ela explica que a insatisfação emocional falou mais alto. “A realidade é que eu vislumbrei algo que era diferente da realidade. Tive um momento de fama, mas na prática, o ensaio não me trouxe nada de útil. Eu estava me sentindo vazia, estava machucada emocionalmente”, desabafa.
Jéssica conta que encontrou na religião a saída para todas as suas frustrações. A convite de uma amiga, em setembro de 2014 ela compareceu a um “Encontro com Deus da Igreja Batista Imperial”. Começou ali um processo radical.
Aos poucos, os hábitos que ela tanto gostava foram perdendo sentido, até o dia em que escolheu ser batizada na Igreja Batista. “A partir do meu primeiro encontro, eu senti o amor e a grandeza de Deus e notei que era aquilo que eu precisava. Passei a me sentir uma ingrata, quando percebi o estilo de vida que eu levava”, comenta.
A ex-modelo também deixou para trás as rotinas de atividades físicas, as roupas curtas e baladas. Até o atual relacionamento amoroso segue as orientações da igreja. O primeiro beijo só irá acontecer no altar e no dia do casamento.
As mudanças também causaram estranhamento de quem já a conhecia, há muito tempo. “No começo, alguns amigos não gostaram da minha mudança, outros não acreditaram, mas Deus foi me mostrando que aquela forma de vida não me cabia mais e foi me moldando aos poucos”, ela conta.
Na Igreja Batista do Jardim Imperial, ela é líder de evangelização das crianças e integra os “Radicais Livres”. O grupo é composto por jovens que assim como ela, seguem na contramão da maioria: nada de festas ou bebidas alcoólicas, por exemplo.
“Ao contrário de outras pessoas da mesma idade, somos um grupo de jovens que assim como o próprio nome diz, é radical em tudo: nos relacionamentos, comportamento. Vivemos a juventude de acordo com os ensinamentos de Deus”, explica.
Com boa parte do tempo dedicada à igreja, Jéssica acredita que sua experiência de vida pode até servir de exemplo.
“Alguns amigos perceberam a mudança que Deus fez em minha vida e me procuraram, pedindo orações ou uma palavra de conforto. Tento mostrar o amor e o poder de Deus para todos que estão a minha volta e que isso só foi possível, depois que eu escolhi deixar ele entrar na minha vida”, completa.
Jéssica diz que prefere esquecer o passado de Playboy, mas usa a história como testemunho e uma estratégia de evangelização.
“Com o ensaio eu me expus para todo o Brasil, mas é algo que ficou no passado e isso não me importa mais. Eu vejo a minha mudança como uma espécie de testemunho de vida, para quem pensa da mesma forma que eu pensava. Eu deixei Deus me transformar e hoje, eu acredito que meu corpo é um templo do espírito santo”, conclui.