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Comportamento

Na adolescência, meninas têm medo de andar sozinhas por conta do assédio

Thailla Torres | 20/02/2017 08:00
Roda de conversa chamou atenção de meninas que carregam dúvidas sobre direitos e prevenção contra violência. (Foto: Thailla Torres)
Roda de conversa chamou atenção de meninas que carregam dúvidas sobre direitos e prevenção contra violência. (Foto: Thailla Torres)

O assunto surgiu de maneira informal entre meninas que compartilham do mesmo medo. A maioria entre elas tem receio de andar sozinha e ser vítima de assédio, violência moral e sexual. A preocupação com o tema e a necessidade de informação quanto aos direitos, acabou incentivando o tema o debate no Coletivo Menina Livre.

Na Orla Ferroviária, o bate-papo durou cerca de 1 hora, com meninas entre 16 e 27 anos. A ideia surgiu entre as amigas Sarah Santos e Mariana Duenha. “A roda aberta é para que o assunto não fique só dentro da universidade. Sou professora de História e na juventude percebo que o assunto é mais difícil ainda de ser abordado, por medo ou vergonha. Então, aqui é uma forma da gente quebrar todo receio”, explica Mariana.

O medo de andar só é unânime entre as adolescentes.
O medo de andar só é unânime entre as adolescentes.

Como forma de desconstruir o medo, a ideia é que as meninas compartilhem histórias e procurem ajuda.

“É claro que a proposta de falar das individualidades de cada uma, é sempre respeitando. Mas o que a gente busca é desconstruir o medo da própria cobrança que vem as vezes dentro de casa”, explica.

Acadêmica de Jornalismo, Sarah Santos, é uma das organizadoras da roda e comenta que ideia veio da violência que meninas sofrem logo nos primeiros relacionamentos amorosos. “É importante porque quando a gente fala de violência, não é só da mulher casada, mas também das meninas que estão no primeiro namoro, na descoberta sexual e no assédio na infância. E a sociedade precisa parar de reprimir essas meninas”, pontua.

A convite do Coletivo, a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres em Mato Grosso do Sul, Luciana Azambuja, participou da conversa. Entre dúvidas sobre como denunciar e amparo, Luciana pontuou a necessidade de levar informações as meninas cada vez mais jovens.

“Parece simples, mas essa é a construção. Porque na minha época, não existia esse tipo de diálogo, nem nas escolas, principalmente, sobre violência contra mulher. Então temos que trazer mais meninas para conversar sobre os meios de proteção e para que elas tenham consciência sobre seus direitos”, diz.

Luciana Azambuja, foi a porta voz para levar conhecimento sobre a prevenção e amparo a meninas que já sofreram algum tipo de violência.
Luciana Azambuja, foi a porta voz para levar conhecimento sobre a prevenção e amparo a meninas que já sofreram algum tipo de violência.

No entanto, ela pontua que a maior dificuldade é que as meninas percebam a violência que sofrem. “Às vezes, a adolescente acha que violência é só apanhar. Mas não, o poder do masculino sobre o feminino, o ato de estar julgando, humilhando e ofendendo essa menina também é uma violência. Tanto que existem casos de feminicídio entre adolescentes de 14 anos”, relata.

A estudante Sara Carvalho Ortega tem 16 anos e decidiu ir ao Coletivo por incentivo da irmã mais velha. O medo de ter um relacionamento amoroso abusivo é o que mais toca a adolescente. "A gente fica sabendo de tantos casos e o medo só aumenta. Eu fui para ter um toque de realidade, saber como me proteger e entender que nenhuma menina precisa ficar no silêncio", comenta. 

Entre as dúvidas, o principal questionamento foi como pedir ajuda, quando se tem medo de recorrer à família.

"É importante as meninas entenderem que a Lei Maria da Penha é para proteger todas as mulheres, não importa a idade. No entanto, qualquer caso de violência, as meninas podem procurar as delegacias DPCA ou DEAM, mesmo sem o acompanhamento da família. Não é preciso um adulto para ser feito a denúncia, e após isso, em cada caso, elas vão receber o amparo", explica.

Sarah Santos, uma das idealizadoras do Coletivo.
Sarah Santos, uma das idealizadoras do Coletivo.

Durante a conversa, Luciana explicou maneiras de ampliar o entendimento sobre a violência, além da denúncia. "A gente percebe que enquanto pedimos para denunciar, isso não acontece, porque as vezes a menina ou a mulher adulta não querem ver o agressor preso. Então, mudamos a abordagem, agora mostramos que todas têm o direito de procurar um órgão de apoio, para que entendam que não precisam e não devem continuar com a violência. E assim a gente vai conseguindo levar informação e quem sabe tenhamos relacionamentos saudáveis entre meninos e meninas", pontua.

Quem quiser participar do Coletivo Menina Livre, as reuniões serão sempre ar livre e agendadas pela página grupo no Facebook.

 

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