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Comportamento

“Pedalada Para Cegos” resgata memórias de infância e sensação de liberdade

Passeio ciclístico aconteceu na manhã deste sábado (25) no Parque dos Poderes

Idaicy Solano e Geniffer Rafaela | 25/03/2023 14:33
Passeio ciclistico aconteceu no Parque dos Poderes na manhã deste sábado. (25). (Foto: Juliano Almeida)
Passeio ciclistico aconteceu no Parque dos Poderes na manhã deste sábado. (25). (Foto: Juliano Almeida)

Imagine que você está andando de bicicleta. De repente abre os braços, fecha os olhos e sente o vento batendo no rosto. A sensação de liberdade por trás do ato é comum para muita gentes. Mas para quem possui deficiência visual, pode ser sinônimo de "impossível". Mas, neste sábado (25), passeio feito em bicicletas tandem, com uma pessoa que enxerga na frente e a pessoa com baixa visão ou cega atrás, realizou esse sonho.

O estudante Gabriel Ferreira Rodrigues, 15 anos, ficou cego aos 9 anos idade após desenvolver um glaucoma. Foi através do projeto que ele pôde voltar a andar de bicicleta, já na adolescência. Por conta da falta de visão, a experiência acaba sendo intensificada pelos outros quatro sentidos, principalmente a audição. A experiência do estudante, por exemplo, foi sonora. "O vento, a velocidade, escutar o barulho do pneu no asfalto, é bem legal".

Gabriel perdeu a visão aos 9 anos de idade e voltou a andar de bicicleta graças ao projeto. (Foto: Juliano Almeida)
Gabriel perdeu a visão aos 9 anos de idade e voltou a andar de bicicleta graças ao projeto. (Foto: Juliano Almeida)

Valdir Lustosa, 49 anos, descreve a sensação como "única". Ele não nasceu cego, mas perdeu a visão aos 23 anos de idade, desde então, nunca mais andou de bicicleta. Hoje, 26 anos depois, experimentou a sensação pela primeira vez após perder a visão.  “Para mim foi uma experiência única, muito bom, que venham mais outras vezes”.

Assistente social do Ismac (Instituto Sul-Mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas) há quatro anos, Cristiane Citiecher, 47 anos, é a idealizadora do projeto. Ela relata que já nasceu sem poder enxergar, mas o primeiro contato que teve com uma bicicleta foi ainda criança, com apoio do pai e do irmão.

Ela relembra que o objeto foi um presente do pai e aprendeu a andar com o auxílio do irmão. "Eu já nasci com  deficiência visual então tudo o que eu aprendi já foi cega mesmo, eu não conheço as coisas por outro lado. Meu irmão ia falando 'para frente, para frente, vira'".

Cristiane é assistente social e uma das idealizadoras da pedalada. (Foto: Juliano Almeida)
Cristiane é assistente social e uma das idealizadoras da pedalada. (Foto: Juliano Almeida)

O comerciante José Elias Leão, 44 anos, participou da pedalada como um dos guias. Ele relata a experiência como uma verdadeira troca de informações. Enquanto pedala ao lado das pessoas, aproveita para conversar com elas sobre como se sentem.

José Elias conta que ouve de tudo, relatos de pessoas que nunca andaram de bicicleta na vida, que estão andando novamente pela primeira vez, e como se sentem sobre isso. ”Pode parecer clichê, mas o sentimento que fica é de gratidão por estar proporcionando esse momento para outra pessoa”.

Como participar -  Tanto pessoas com deficiência visual quanto voluntários para ser guia, devem ir até o Instituto, localizado na Rua Vinte e Cinco de Dezembro, n° 62, no Centro e informar que deseja participar da próxima pedalada e deixar um número para contato. "Não tem requisito, basta ter predisposição", enfatiza a assistente social Cristiane.

A segunda edição da Pedalada Para Cegos, realizada pelo Ismac (Instituto Sul-Mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas) e pela Associação dos Deficientes Visuais de Mato Grosso do Sul, aconteceu na manhã deste sábado (25) no Parque dos Poderes. A programação promove momentos de lazer e atividades físicas gratuitas para pessoas com deficiência de todas as idades.

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