ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

“Perdi minha melhor amiga porque ela não acreditava na covid”

Após um adeus doloroso, amiga luta para conscientizar, ensinar e combater as mentiras a respeito da covid

Thailla Torres | 18/05/2021 06:42

Você não cumpriu sua parte do trato. Você falou que ia estar aqui para o que eu precisasse, preciso de você. Sua família precisa de você. Seus filhos, mulher. Dói, dói demais cara, como dói tanto”.

As palavras acima são de um trecho da ‘carta aberta’ que Priscila*, de 32 anos, publicou à melhor amiga em suas redes sociais no último dia 2 de maio. O texto em tom de desabafo virou, para alguns, um alerta sobre a importância de acordar para uma doença que já matou mais de 437 mil pessoas no Brasil.

Ela perdeu a melhor amiga para a doença no início de maio.  Aos 30 anos, ela estava grávida de 33 semanas e precisou passar por parto de emergência ao contrair a covid-19. A bebê sobreviveu ao procedimento cirúrgico, mas sua mãe não resistiu depois de ser internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Duas semanas depois, a mãe, de 60 anos, morreu depois de complicações do coronavírus.

Ela não culpa a amiga pela própria morte, mas um conjunto de ideias sobre a doença que fortemente ‘abraçado’ no último ano sim, e ele fez com que muitos se despedissem de melhores amigos, amores e familiares.

Talvez se todos soubesse que aquele seria último adeus seriam mais cuidadosos? Com tantos exemplos da letalidade da doença, porque há quem não acredite? Os questionamentos são o que tem levado a Priscila* falar sem medo sobre a covid-19 e tentar combater as mentiras.

“Ela era de opinião forte, ela achava que era exagero da mídia, que a vida não podia parar. Era uma briga quando íamos sair porque ela não queria colocar a máscara, falava que incomodava. Era difícil conversar sobre isso, porque ela vinha com umas teorias, que já revirava o olho e ela dava risada”, lembra.

Em sua carta aberta ainda deixou recado aos que pregam contra a vacina e que falam em tratamento preventivo com uso de medicamentos. “Espero que vocês encontrem conhecimento e saiam do limbo onde vocês se encontram antes que seja tarde demais. A Bel era igual vocês, tratamento preventivo, cloroquina e duvidava do vírus, achava que tudo era exagero da mídia”, destaca.

Hoje a família chora assim como a melhor amiga. Ela virou mais um número na pandemia deixando três filhos, de 7 e 3 anos e uma caçula que hoje completa 17 dias de vida, que nem chegou a conhecer a mãe, assim como ela não pôde conhecer a filha.

“Quando descobriu a covid ela não queria ir para o hospital, ela sabia que provavelmente iria para o tubo. Teimou e quando foi já estava com 85% do pulmão comprometido”, lembra.

As duas eram amigas há anos, se conheceram através de uma prima. “Ela era minha amiga, minha irmã, minha mãe quando eu precisava. Era aquela amiga que me xingava quando eu fazia alguma coisa errada e ela idem. Meu casamento no civil quase toda decoração foi feita com peças da casa dela. Ela era assim, costuma tirar dela para dar aos outros. Ela era única, nunca conheci alguém como a Bel, que acolhia, fazia a gente se sentir parte de algo, no caso eu era parte da família dela”.

Agora, tudo o que Priscila* quer é passar os ensinamentos da amiga e de sua mãe para os filhos da melhor amiga. Além, claro, de continuar falando da doença aos que resistem.

“O que falta para as pessoas é se colocar no lugar do outro. Lembra que o meu direito de “não usar máscara” termina onde começa o direito da outra pessoa de querer cuidar dela e da família dela usando a máscara. É pensar no coletivo, em algo maior do que meu umbigo. As pessoas são egoístas, “se não dói em mim eu não me importo””, alerta

Ela lembra que chegou a se afastar de pessoas que propagam desinformação sobre os casos, mas não vai desistir. “Esse fim de semana passando correndo atrás de uma medicação para o tio de uma amiga que está internado com covid. Não tem a medicação no SUS, nas distribuidoras, está faltando a nível nacional. Como chegamos a esse ponto?”, questiona. “É algo tão surreal que me deixa com raiva. Mas eu trabalho todos os dias para não me alimentar esse tipo de sentimento. A raiva cega. Informação liberta”.

*Priscila é um nome fictício para não identificar as personagens envolvidas.

Curta o Lado B no Facebook. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias