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Conversa de Arquiteto

Os 72 anos do Hipódromo de Campo Grande: dos dias de glória até a decadência

Ângelo Arruda | 22/06/2016 06:25
Os 72 anos do Hipódromo de Campo Grande: dos dias de glória até a decadência

Para muitos historiadores de Campo Grande, a história da cidade se confunde e se mistura com a do Jockey Club, que completou 72 anos nesse mês de junho. Mês passado, passando pelas redondezas, me dei de cara com o edifício, majestoso, de excelente arquitetura moderna, mas totalmente largado. Vandalizado.

O Hipódromo Aguiar Pereira de Souza, que guarda muitas lembranças para milhares de campo-grandenses, a partir das provas que ali aconteceram e que teve início ainda no Parque de Exposições, com a doação de 10 hectares para a Sociedade Hípica Campo-Grandense, está precisando de um enorme socorro da sociedade e do Estado.

É dele que vamos conversar hoje. Esse artigo usou como fontes, o trabalho de Valdenira Macedo e Neimar Machado de Souza da UCDB – Hipódromo Aguiar Pereira de Souza, a história esquecida – e artigo publicado no Jornal Correio do Estado de Heitor Freire.

Os 72 anos do Hipódromo de Campo Grande: dos dias de glória até a decadência

Segundo Heitor Freire, Campo Grande tem cinco entidades basilares em sua história: “pela ordem de antiguidade: a Santa Casa, a Associação Comercial, a Associação dos Criadores (Acrissul), a Sociedade Hípica (embrião do Jockey Club) e o Rádio Clube.

Essas associações, frutos do idealismo e da força criadora dos nossos mais antigos habitantes têm em sua semente e em sua criação a demonstração clara do amor e da vontade de contribuir para tornar a nossa cidade um lugar maravilhoso para se viver e trabalhar. Gente disposta ao trabalho e afeita a enfrentar desafios e a vencê-los”.

Eu concordo com o Heitor e já comentei diversos desses prédios e vou retornar ainda esse ano, comentando seus estados de conservação e alterações em suas arquiteturas.

Jóquei hoje, quase não tem corridas.
Jóquei hoje, quase não tem corridas.
E também parece sem manutenção.
E também parece sem manutenção.

Retomando o tema desse artigo de hoje, o Hipódromo, ele nasceu da Sociedade Hípica Campo-Grandense fundada em junho de 1944 por Moacir Rolim, localizada em uma área de 10 ha cedida pela Acrissul, na época presidida por Eduardo Olímpio Machado. Por lá ficou, até 1981, quando se mudou para sua sede própria e definitiva, na saída de São Paulo.

Ainda segundo Heitor Freire, a sociedade passou por um período de decadência de 1958 a 1964, quando foi reativada por Silas Barbosa, chegando a ser o quarto jóquei em arrecadação no Brasil. Uma história brilhante, mas que passou por altos e baixos. Seu último presidente foi Jamil Name, em eleição recente que assumiu um novo desafio: reerguer o Jockey Club, recuperando-o fisicamente, economicamente, financeiramente para transformá-lo de novo naquilo que sempre foi: local de encontro do nosso povo, da nossa comunidade, reativando o seu restaurante, e, naturalmente restabelecendo as corridas de cavalo que tanta alegria proporcionou, disse Heitor.

Mas o que vi mês passado, não é exatamente isso. O edifício aberto, com portões de entrada quebrados, sem segurança de acesso, mato alto, conservação ruim e pior: o telhado da arquibancada que teve um destelhamento recente está lá, sem consertos. As cadeiras da arquibancada quebradas ou arrancadas. O prédio estava fechado, mas os pombos e morcegos por lá andam. Apesar desse estado de conservação, encontrei cavalos com jóqueis treinando na pista e uma movimentação nas estribarias. Era um dia de sábado.

Lugar tem estrutura grande.
Lugar tem estrutura grande.

Pesquisando sobre a história do edifício, encontrei em 2001, numa entrevista que fiz com Elizabeth Saboya, esposa do arquiteto Domingos Saboya (1943-1988) que houve um projeto de 1975, por meio de sua empresa S & SM Arquitetos, com assessoria do engenheiro João da Costa Ribeiro, publicado no Jornal o Globo de 19 de janeiro de 1975 – figura abaixo – numa área de 90 hectares no quilômetro quatro da saída de São Paulo.

A obra foi do mandato do presidente Major Valter Rodrigues. O projeto previa duas pistas – uma para corrida outra para exercícios – com 1600 metros e 20 metros de largura, com duas retas de 400 metros. A obra contaria com 400 boxes e, além da hípica, o projeto previa uma escolinha e uma praça esportiva completa. Esse projeto não foi executado.

Projeto original.
Projeto original.

Anos depois, o Jockey Club vai receber seu projeto arquitetônico e urbanístico definitivo, agora elaborado pelo escritório do arquiteto Lauro Veloso Malaquias. Esse projeto, que usa uma estrutura metálica e de concreto armado aparente, podemos caracterizar como de estilo moderno.

O edifício é um marco importante na história da arquitetura de nossa cidade e por isso, resolvi escrever esse artigo para chamar a atenção de todos. Aquele prédio e aquele espaço precisam de urgente manutenção e mais do que isso, de apoio da cidade, pois, o Hipódromo, é um tradicional espaço que nos levou a erguer o orgulho de Campo Grande em épocas passadas, com profissionais do hipismo.

Lembro-me de conversas com que tinha seu “Seu Sater” pai do Almir Sater, fervoroso da hípica, o quanto seus olhos brilhavam quando se falava em cavalos. Precisamos unir para erguer. É sempre assim, nas lutas.

Interior do Hipódromo.
Interior do Hipódromo.
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