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Diversão

Escolas encerram desfile com alusões ao Pantanal, indígenas e cultura de rua

Segundo dia de desfiles na Praça do Papa, na Capital, teve as últimas quatro apresentações e público lotou

Guilherme Correia | 22/02/2023 06:21
Evento teve início por volta das 20h desta terça-feira; apuração de votos será na quarta-feira. (Fotos: Alex Machado)
Evento teve início por volta das 20h desta terça-feira; apuração de votos será na quarta-feira. (Fotos: Alex Machado)

Com público em maior número que a noite anterior, a terça-feira (22) de desfiles das escolas de samba de Campo Grande, na Praça do Papa, foi marcada por apresentações que faziam menção ao bioma do Pantanal, povos indígenas e várias outras questões, tais como as culturas de rua.

O evento começou por volta das 20h15, após pequeno atraso na entrada dos primeiros carros alegóricos. A plateia lotou as arquibancadas montadas no local  e muitos assistiam à beira das grades. Pessoas de todas as idades celebravam a festa. A estimativa da GCM (Guarda Civil Metropolitana) é que mais de 10 mil pessoas compareceram.

Referências à cultura indígena foram feitas no primeiro desfile da noite. (Foto: Alex Machado)
Referências à cultura indígena foram feitas no primeiro desfile da noite. (Foto: Alex Machado)

Cinderela - A primeira escola foi a Cinderela, com o enredo “No rufar da bateria, me entrego à emoção. Cinderela! 30 anos de amor e paixão”. Celebrando as três décadas de existência, a agremiação fundada em 31 de maio de 1992 por Gilberto Carlos Corrêa Lopes trouxe a história da escola e, consequentemente, de todo o samba campo-grandense.

O trabalho contou com referências às diversas classes sociais que curtem o Carnaval e mencionou também os trilhos do Pantanal.

Em dado momento, carro alegórico com representações indígenas tomou conta da avenida, seguido por carnavalescos com cruzes páteas - símbolos utilizados por portugueses durante a colonização do Brasil. O grupo seguinte foi formado por passistas que vestiam máscaras e símbolos que associavam à morte.

Enredo trouxe elementos históricos, além de retratar o samba da Capital. (Foto: Alex Machado)
Enredo trouxe elementos históricos, além de retratar o samba da Capital. (Foto: Alex Machado)
Fantasias foram produzidas pela escola. (Foto: Alex Machado)
Fantasias foram produzidas pela escola. (Foto: Alex Machado)

No início da apresentação, no entanto, também teve espaço para garotas vestidas da personagem Mulher Maravilha, dentre várias outras fantasias.

Antes da apresentação, uma das responsáveis pelos ensaios, Tatiane Gonçalves, ressaltou que a expectativa é poder ajudar jovens envolvidos no projeto social, por meio de diversas atividades, como a organização do desfile. “Sempre estamos apoiando, quem faz tudo aqui é o nosso pessoal”.

Passistas da Deixa Falar durante abertura da apresentação. (Foto: Alex Machado)
Passistas da Deixa Falar durante abertura da apresentação. (Foto: Alex Machado)

Deixa Falar - Campeã em 2018, 2020 e 2022, a escola Deixa Falar começou com queima de fogos coloridos e figuras conhecidas da cultura carnavalesca - os pierrots e arlequins.

Com o refrão “deixa falar quem quiser, o carnaval é a maior festa popular”, a escola ressaltou a importância da cultura de rua e trouxe referências de ciganos, indígenas, bem como dos carnavais da Bahia e Rio de Janeiro. Ao final, blocos independentes como o Calcinha Molhada também participaram.

A passista Pâmela Costa, de 26 anos, está na escola desde 2015 e retornou no último ano a Campo Grande, após morar em Corumbá. Neste ano, ela foi destaque de um dos carros alegóricos. “É uma energia inexplicável, o público estava cheio, hoje, devido a ontem ter tido muita chuva. Hoje não choveu, graças a Deus, e o pessoal veio”.

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O campo-grandense precisava disso, foi bem emocionante a energia do pessoal. É inexplicável a gente trazer essa alegria. Aqui tinha bastante família e as pessoas precisavam disso depois de tanta tristeza que a gente passou nos últimos anos", diz Pâmela.

Ela ressalta que a preparação é feita no ano interior, mas que os ensaios e montagens foram intensificadas nos últimos meses.

Abre-alas da Unidos do Aero Rancho. (Foto: Alex Machado)
Abre-alas da Unidos do Aero Rancho. (Foto: Alex Machado)

Unidos do Aero Rancho - A escola do bairro mais populoso de Campo Grande contou com passistas de todas as idades, com fantasias únicas e com muita cor. O principal carro alegórico trazia referências às casas de periferia e à cultura do grafite.

Lauro, à esquerda, era novato na apresentação. (Foto: Alex Machado)
Lauro, à esquerda, era novato na apresentação. (Foto: Alex Machado)

Lauro de Oliveira, de 46 anos, nunca tinha desfilado e foi convidado por moradores do bairro para participar. “Foi minha primeira vez e gostei. Moro perto do Aero Rancho, e o pessoal perguntou quem queria ir e eu fui e gostei. Costumo acompanhar bem pouco de carnaval. Está sendo uma nova experiência, uma nova vida”.

O intérprete e compositor Thompson Alves de Souza, que é natural do Rio de Janeiro (RJ), foi o responsável por compor o enredo e relata que não foi difícil construir a letra que trata do bairro em que vive há anos. “O processo de criação começou a partir do momento que recebi o convite e falaram que era sobre o bairro onde eu moro. Por isso, não foi muito difícil fazer”.

Ele, que participa de carnavais desde 2008, já foi campeão com a Igrejinha e com a Deixa Falar, por duas vezes. A mudança de escola ocorreu por querer contribuir com o local onde vive. “Esse ano dei essa chance para ser feito sobre um lugar onde eu moro”.

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A sensação foi de superação, um trabalho feito em cima da hora, até por conta de verba, mas houve muita superação", diz Thompson, que cantou durante desfile.

Sandra Regina Duarte da Silva, de 51 anos, participa do Projeto Passinho - que ensina dança semanalmente em escola do Aero Rancho - há três anos. O grupo do qual faz parte se uniu à agremiação e ela afirmou estar satisfeita com o resultado, mesmo sendo novata. “Por ser a primeira vez, as pernas até tremem de emoção. É uma coisa que você nunca fez e quando você vê, está animado, dançando e cantando.

É um pouquinho cansativo, mas a cada dia você tem que mostrar aquilo que gosta. Independentemente do que estiver fazendo, faça com amor e carinho. Carnaval é vida, mudança, e muda teu jeito”, afirma.

Ela relata que uma das principais atividades que a fizeram se recuperar de uma depressão foi justamente a dança, além de acompanhamento no Caps (Centro da Atenção Psicossocial) do Aero Rancho. “A pessoa que é depressiva, olha como eu estou hoje. Tudo graças à comunidade do Passinho e onde faço tratamento de saúde, no Caps. Estou a cada dia mais mudando meu eu, porque senão não estaria aqui”.

Última apresentação da noite terminou em grande estilo. (Foto: Alex Machado)
Última apresentação da noite terminou em grande estilo. (Foto: Alex Machado)

Catedráticos do Samba - A última escola demorou alguns minutos para entrar, mas animou todos os que estavam na plateia, com queima de fogos de artifício e cavaquinho afinado. O carro inicial transportava a águia, mascote da bateria Águia Negra, e a escola abordou o município de Coxim, considerado o “Portal do Pantanal”.

Com diversas referências ao bioma pantaneiro - tais como alegorias de rios, peixes, araras vermelhas e azuis - o enredo e as fantasias destacavam o caju e o pé de cedro como importantes personagens.

Primeiro casal da Catedráticos do Samba. (Foto: Alex Machado)
Primeiro casal da Catedráticos do Samba. (Foto: Alex Machado)

Vinícius Santana, de 53 anos, está há três anos na escola, mas ainda se surpreende com a emoção de apresentar. “É uma coisa inexplicável, você chega na avenida e tudo se transforma. Vem do coração, da alma, e não tem como não se emocionar depois. A preparação é o ano todo, começa em março, após a sinopse do samba, e já vamos preparando”.

O musicista Elvis Cavaquinho, de 42 anos, relata que ‘nasceu’ na escola, já que é filho do fundador, agora falecido. “Comecei como ritmista e aprendi os instrumentos com o meu pai, que deixou de herança a escola para a nossa família”.

“É inexplicável, é uma sensação de vitória, uma sensação realizada. Toda a comunidade abraçando nosso espetáculo, nosso trabalho e nossa luta. Isso é importante, é resultado do trabalho duro de desfilar em uma escola grande, completa e bonita.”

Em relação ao tema, que trouxe muito do Pantanal sul-mato-grossense, ele destaca que teve um apelo para a preservação ambiental. “A gente faz isso para estar até divulgando aos turistas que vão no Pantanal, para curtir a nossa biodiversidade, que é muito importante conhecer, mas também cuidar e preservar nossa natureza e nossos animais”.

Carro alegórico com referências à biodiversidade. (Foto: Alex Machado)
Carro alegórico com referências à biodiversidade. (Foto: Alex Machado)

Desfiles - Na quarta-feira (22), a partir das 17h, haverá a apuração das notas dos jurados para definir a campeã do Carnaval 2023. O evento será na Praça do Rádio e a entrada também é gratuita.

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Confira a galeria de imagens:

  • Passistas da escola Cinderela. (Foto: Alex Machado)
  • Primeiro casal do desfile da escola Cinderela. (Foto: Alex Machado)
  • Músicos da Cinderela. (Foto: Alex Machado)
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