Gostem ou não, Campo Grande é terra de Carnaval e história comprova
Em livro, pesquisador mostra que festas de Carnaval acontecem em Campo Grande desde a década de 1920
Por mais que muita gente ainda torça o nariz, queira negar a importância ou até tente impedir, Campo Grande respira carnaval de rua desde os seus primórdios. A folia atravessou gerações, se reinventou e continua, até hoje, ocupando a cidade com música, dança e resistência popular.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
É essa trajetória que o pesquisador e escritor Teylor Fuchs resgata no livro “Do Clube dos Fidalgos ao Cordão Valu: Alegria e Resistência Ocupando as Ruas da Cidade”, fruto de seu mestrado em Estudos Culturais pela UFMS.
“Quando Campo Grande só tinha uma rua, já existia carnaval. Era por meio do entrudo, uma brincadeira de jogar água e farinha. Então, a pesquisa demonstrou que desde o início de Campo Grande tem carnaval”, afirma.
A pesquisa levou três anos e percorreu a hemeroteca da Biblioteca Nacional, o Arquivo Histórico de Campo Grande e uma infinidade de páginas de jornais antigos. No processo, o autor também reuniu entrevistas com foliões e organizadores de blocos atuais, costurando memórias de mais de um século de festas populares.
Do pioneiro Clube dos Fidalgos, no início do século XX, até o Cordão Valu, que no século XXI transformou a folia em fenômeno cultural capaz de mobilizar milhares de campo-grandenses. No caminho, Teylor recupera passagens marcantes como os salões da década de 1920, voltados à elite e a multiplicação de blocos nos anos 1930 e 40.
O material também destaca as primeiras escolas de samba nos anos 1960 e, já nos anos 1980, a invenção campo-grandense do Jacaré Elétrico. “Era um carro equipado com som, decorado em formato de jacaré, que ficava rodando a Praça Ary Coelho com samba e passistas. Uma versão sul-mato-grossense do trio elétrico”, conta.

Além da cronologia e resgate histórico, Teylor, que é sociólogo e também um dos fundadores do Cordão Valu, discute o carnaval como expressão do direito à cidade.
“Todo ano o Carnaval de rua enfrenta pressão, seja da Justiça, da igreja ou de forças conservadoras que tentam dificultar sua realização. Essa luta mostra como é difícil ocupar uma praça, usar uma rua. E meu interesse foi justamente unir a militância com a pesquisa acadêmica”, explica.
Ainda assim, o otimismo do escritor prevalece. Ele cita, por exemplo, a evolução do Cordão Valu, que em 2007 estreou com 100 pessoas, e, em 2023, levou mais de 40 mil às ruas.
“Eu vejo com bastante esperança o futuro do Carnaval de rua. Cada vez surgem mais blocos, existe hoje um aglomerado para organizar e enfrentar a burocracia. Por parte dos foliões, só tende a crescer. Mas, em relação ao poder público, ainda vamos ter que lutar muito para que entendam que Carnaval também é política pública”, avalia.
Para Teylor, as ruas não são apenas espaços de passagem, mas de permanência, convivência e expressão. “A rua também é lugar de arte, de cultura, de corpos livres. O carnaval é isso, mas também as feiras, as praças ocupadas, os blocos da identidade. Tudo isso é resultado dessa história de resistência. O direito à cidade passa pela alegria e pela festa”, finaliza.
O lançamento do livro “Do Clube dos Fidalgos ao Cordão Valu” será nesta quinta-feira (11), a partir das 19h, no Eden Beer – Av. Mato Grosso, 68. A animação fica por conta do Valu Samba Trio.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.