Último pedido do pai foi que bailão não acabasse, e Janete atendeu
Antes de morrer, último pedido de Olário foi que os filhos não deixassem os bailes que fazia morrer
Toda vez que a música começa a tocar, Janete Martins de Oliveira deixa de ser apenas anfitriã da pista de dança e cúmplice da alegria alheia, para assumir também o papel de guardiã de um legado que começou nos anos 90, com os bailes improvisados no quintal da casa do pai.
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Janete Martins de Oliveira, 71, celebra mais um aniversário à frente dos bailes que se tornaram seu projeto de vida. O legado teve início nos anos 90, com festas improvisadas no quintal da casa de seu pai, Olário, um comerciante festeiro. Janete cresceu em meio à música e dança, mas só aos 42 anos, a pedido do pai, começou a organizar os eventos com ele. Em 1998, realizaram o primeiro "Baile Velha Oeste", atraindo mais de 400 pessoas. Após o falecimento do pai, em 1999, Janete assumiu a promessa de manter os bailes vivos. Atualmente, comanda a "Casa de Dança da Janete", um espaço dedicado à dança, frequentado principalmente pela terceira idade, com bailes aos sábados, domingos e terças-feiras. Apesar dos desafios, Janete persiste, movida pelo amor à dança, em homenagem ao pai e à comunidade que a acompanha.
Nesta quarta-feira (30), ela completa 71 anos. Mais um à frente do comando dos bailes que escolheu escolheu como projeto de vida. “Cada baile que eu faço, tudo que eu realizo na casa de dança é com prazer. Às vezes fico cansada porque já não tenho mais a disposição de antes, mas lembro que não estou preparada para parar. Não quero parar”, diz.
Janete cresceu cercada de música. Filha de Olário de Oliveira França, comerciante conhecido na cidade e festeiro de carteirinha, ela lembra que os domingos da infância eram regados a som ao vivo e poeira levantando no terreiro.
“A gente dançava na terra mesmo. Meu pai fazia baile com os filhos tocando, os sobrinhos e os vizinhos. A vida inteira foi assim”, detalha.
Mesmo com esse histórico, só aos 42 anos ela aceitou o convite do pai para organizar um baile junto com ele. E não foi fácil. “Minha mãe era muito ciumenta e não queria que eu fizesse baile. Mas meu pai insistiu. Ele dizia que me queria ao lado dele ajudando", relembra.
O primeiro evento que comandaram juntos foi no Clube Capital, em 1998, e logo na estreia, atraiu mais de 400 pessoas. “O nome foi ideia do meu irmão, Baile Velha Oeste. Era em um areeiro, em frente ao Rancho do Cowboy. Nunca me esqueço”, explica.
Desde então, os passos de Janete não pararam. Quando o pai adoeceu, o baile se tornou ainda mais simbólico. “Ele ia para o hospital e levava panfletos do baile. Entregava para os médicos e enfermeiros. Era a paixão dele”, lembra.
Antes de morrer, em 1999, Olário fez um último pedido para que os filhos não deixassem o baile acabar. E Janete levou a missão como promessa de filha. “Até hoje, quando termina o baile, eu entro lá no fundo e falo: 'Pai, missão cumprida'. É aqui que eu me sinto mais próxima dele”, confessa.
Em 30 anos, a baileira esteve afastadas das festas apenas 2 anos quando se mudou para Goiânia para acompanhar a criação de uma neta. Mesmo nesse período, Janete nunca se desligou totalmente da música, nem do salão.
Ela voltou antes da pandemia e, desde 2023, mantém viva a tradição na “Casa de Dança da Janete”, um espaço próprio que alugou, reformou e transformou em ponto de encontro, especialmente de pessoas da terceira idade.
No local, o sábado à noite é o carro-chefe, mas também tem dança domingo e até terça-feira à tarde. “Eu sou muito feliz aqui. Tem gente que frequenta meus bailes até hoje desde 1998. Já perdi muitos, é verdade, mas continuam vindo novos também. Vai se formando uma família”, resume.
Apesar das dificuldades de manter o negócio, Janete segue firme, sustentada pelo amor ao que faz e pela rede de apoio que inclui irmãos, sobrinhos, amigos de infância e o marido. “Eles me ajudam muito e tem dado certo. Tudo que você faz com amor e dedicação dá certo. E a dança me dá vida”, pontua.
Aos 71 anos, ela ainda enfrenta dias de cansaço, mas diz que sente crises emocionais só de pensa em parar. “Se eu parar, eu entro em depressão. Não estou preparada porque isso aqui é minha realização. Não faço por dinheiro, nunca fiz. É por amor, pelo meu pai. Por mim e pelo povo que dança comigo”, afirma.
O Baile da Janete fica na Avenida Ernesto Geisel, 3761, em Campo Grande. As festas dançantes são aos sábados, das 19h30 às 23h30, domingos das 18h às 22h e às terças-feiras, das 13h30 às 15h30.
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