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Mato Grosso do Sul

Pesquisa mostra que motociclista negro é o que mais sofre acidente e morre em MS

Mato Grosso do Sul está entre os 3 estados com maior índice de morte e hospitalização

Mylena Fraiha | 19/03/2023 10:16
Pesquisador aponta que esse crescimento nas taxas de internação de pessoas negras tem relação com o “boom” de aplicativos de entrega (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Pesquisador aponta que esse crescimento nas taxas de internação de pessoas negras tem relação com o “boom” de aplicativos de entrega (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Mato Grosso do Sul é um dos três estados com maior índice de internações de pessoas negras, causadas por acidentes com motocicletas e também a maioria dos mortos. O levantamento foi apresentado no Boletim n. 2/2023 de Saúde da População Negra do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde).

Dados mostram que o Estado tem uma taxa anual de 14,3 internações por 10 mil habitantes, perdendo apenas para Tocantins, que tem 16,4, e para Paraíba, com 15,2.

De acordo com o cientista político e pesquisador do IEPS, Rony Coelho, o aumento pode estar relacionado à melhora do questionamento quando o quesito é raça/cor, mas também ao crescimento dos aplicativos de entrega, nos quais a maioria de quem trabalha é negra.

"A gente percebeu que a medida que os dados faltantes diminuem, para os negros, os níveis de internação e mortalidade aumentam. O de brancos se mantém no mesmo patamar. Ou seja, quando os dados melhoram, há uma piora para a população negra. Isso foi um dos achados da pequisa".

Coelho aponta que o Mato Grosso do Sul está entre os três estados com maiores taxas de internação e mortes ocasionados por acidentes com moto, inclusive para brancos, que vêm em segundo lugar no recorte estadual.

“O levantamento mostra que o Mato Grosso do Sul tem altas taxas, tanto para brancos, quanto para negros, mas isso não impede de dizer que há um diferencial racial. As taxas para negros é de 14,3 e para brancos é de 8,6. Isso dá uma diferença grande, de 67% a mais de internações para negros, do que para brancos”.

As taxas de internação de pessoas brancas também estão entre as mais altas no Brasil. De acordo com o Boletim do IEPS, as maiores taxas estão nos estados de Mato Grosso do Sul (8,6), Santa Catarina (6,6) e São Paulo (5,4). “Ao considerar a variável racial, a taxa é expressiva. Mas o que nós pontuamos nas considerações da pesquisa é que o Mato Grosso do Sul tem essa característica de ter taxas altas para as duas categorias, isto é, brancos e negros, em 2021”, explica Coelho.

Segundo o pesquisador, o estudo da IEPS analisou dados de 2021, uma vez que eram os dados mais recentes e completos disponíveis. Segundo ele, para compreender a situação do Estado, seria necessário fazer uma série temporal e comparar os dados de diferentes anos. “Seria necessário fazer uma série temporal, isto é, olhar para outros anos para podermos afirmar categoricamente que há essa diferença”.

Dados nacionais - Em nível nacional, no comparativo traçado entre janeiro de 2016 e janeiro de 2021, a taxa de mortes entre pessoas negras cresceu de 0,06 a cada 100 mil habitantes (aproximadamente 75 mortes mensais) para 0,08 (aproximadamente 102 mortes mensais).

No caso de pessoas brancas, a taxa mensal permaneceu 0,05 a cada 100 mil habitantes, o que representa uma variação de aproximadamente 48 mortes para 55.

Tocantins, Paraíba e Mato Grosso do Sul lideram taxas de internação, conforme levantamento do IEPS (Imagem: Reprodução/IEPS)
Tocantins, Paraíba e Mato Grosso do Sul lideram taxas de internação, conforme levantamento do IEPS (Imagem: Reprodução/IEPS)

A pesquisa “Painel da Gig Economy no setor de transportes do Brasil: quem, onde, quantos e quanto ganham”, divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2022, aponta que esse crescimento nas taxas de internação de pessoas negras vítimas de acidente motociclísticos possuem uma relação com o “boom” de aplicativos de entrega.

Neste aumento verificado, Coelho aponta que é importante levar em conta o fato de que, ao longo da década de 2010, mais pessoas passaram a se autodeclararem pretas ou pardas, de acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O pesquisador também ressalta que a pesquisa entende a categoria "pessoas negras" como o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pelo IBGE.

Na análise por estados, feita em 2021, foi verificado que esse aumento foi constatado em 23 dos 26 estados brasileiros. A exceção são os três estados da região Sul e o estado do Amapá.

O levantamento mostra que as maiores diferenças estão nos estados de Tocantins e Paraíba, ambos com aproximadamente 14 pontos de diferença nas taxas de internações entre brancos e negros.

Políticas públicas - Rony Coelho explica que o levantamento foi realizado por pesquisador da Cátedra Çarê-IEPS, que foi criada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde e pelo Instituto Çarê, com o propósito de promover a produção de pesquisas e informações de alta qualidade sobre a saúde da população negra no Brasil.

“Esses dados mostram a necessidade de políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades raciais no acesso à saúde e segurança no trânsito, além de evidenciarem a importância da coleta de dados sobre raça/cor para a construção de políticas mais efetivas e justas para todos", explica.

O pesquisador ressalta que, atualmente, o campo de estudos da SPN (Saúde da População Negra) tem sido amplamente explorado para entender os fatores relacionados às desigualdades raciais, com o objetivo de embasar políticas públicas que busquem promover a equidade em saúde.

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