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Meio Ambiente

Cercada por dique para fugir da cheia, Murtinho assiste a seca do Rio Paraguai

Na década de 80, as águas expulsaram moradores, que passaram a habitar a “cidade de lona”

Aline dos Santos | 15/12/2021 08:46
Porto Murtinho foi cercada com dique, mas as águas do Rio Paraguai, agora, vivem em baixa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Porto Murtinho foi cercada com dique, mas as águas do Rio Paraguai, agora, vivem em baixa. (Foto: Henrique Kawaminami)

Saber o nível do Rio Paraguai é lugar-comum em Porto Murtinho, cidade de 17.460 habitantes e a 439 km de Campo Grande. De frente para o rio e para a vizinha paraguaia Isla Margarita, Enrique Gaioso, 43 anos, diz que o normal para dezembro era as águas atingirem ao menos três metros, mas, atualmente, não chega a 1m60.

Por dez reais, ele faz a travessia de ida e volta entre Porto Murtinho e o Paraguai. Com a baixa temporada devido ao período de defeso, em que a pesca é proibida, o movimento cai drasticamente sem os turistas. “Quando fecha a pesca, fica um silêncio”, diz Enrique, enquanto que, num barco vizinho, fardos de refrigerante são embarcados com destino à Isla Margarita.

Rio Paraguai ainda não chegou a 1m60 neste mês, em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Rio Paraguai ainda não chegou a 1m60 neste mês, em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)

O volume das águas do Rio Paraguai obrigou a cidade a erguer um dique para se proteger das cheias. De 1970 a 1990, foram quatro enchentes. Mas a maior data de 1982, quando a população foi expulsa pelas águas e formou uma cidade de lona. No mesmo ano, houve a construção do dique de contenção ao redor da cidade, que salvou Porto Murtinho da cheia de 1988, quando o rio atingiu 6m64.

Agora, o rio não permite nem a circulação de barcaças para exportação. “Muitos contratos previstos não saíram por Porto Murtinho. Ainda não tem calado. Mas a gente acredita que nos próximos dias, começa a fazer a operação de barcaças novamente. Porém, já estamos em dezembro e, normalmente, isso está resolvido em novembro. Ainda não houve recomposição do nível que deveria ter. Mesmo no próximo ano, não teremos a normalidade em operação das barcaças”, afirma o titular da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), Jaime Verruck.

Barcos parados em Porto Murtinho. Ida e volta para Isla Margarita (ao fundo) custa R$ 10. (Foto: Henrique Kawaminami)
Barcos parados em Porto Murtinho. Ida e volta para Isla Margarita (ao fundo) custa R$ 10. (Foto: Henrique Kawaminami)

De acordo com a série histórica da Marinha, em 15 de dezembro de 2018, o Rio Paraguai registrou cinco metros. Desde então, o retrato é de águas baixando. No ano de 2019, na mesma data, o rio não passou de 2m52. Em 2020, atingiu 1m44.

Na semana passada, o boletim do Serviço Geológico do Brasil destacou que o rio teve comportamento diferenciado em Porto Murtinho. “A tendência de elevação de seu nível foi observada em Porto Conceição (MT), Ladário (MS), Porto Esperança (MS) e Forte Coimbra (MS). Em Cáceres (MT), o nível do rio apresentou um declínio significativo e ao sul da bacia, em Porto Murtinho (MS), uma pequena oscilação para menos.”

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