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Meio Ambiente

Marina Silva previu drama no Pantanal, como no RS, mas União não preveniu

Apesar de alertas feitos por ministra, governo federal não tentou evitar o pior, analisam ambientalistas

Por Anahi Zurutuza | 24/06/2024 11:35
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante discurso no Senado Federal (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante discurso no Senado Federal (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, previu tragédia sem precedentes no Pantanal, no início de junho. À época ela chegou a citar que a região pantaneira viveria algo semelhante ao enfrentado pelo Rio Grandes do Sul, só que ao invés de água, a seca e o fogo provocariam os estragos.

"O que estamos vendo em chuva no Rio Grande do sul, nós vamos ver em estiagem, provavelmente na Amazônia e no Pantanal. E o que a gente tem como consequências —de desmoronamento, perda de lavouras— associadas às chuvas, vamos ter o fenômeno terrível que são os incêndios e queimadas", afirmou a ministra, em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.

Na semana passada, ela voltou a comentar o assunto pelas redes sociais, afirmando que o governo já havia tomado providência para tentar frear os incêndios que, em poucos dias, já haviam tomado conta de vários pontos da planície pantaneira.

Uma sala de situação foi montada para acompanhar os focos de calor e mandar socorro para onde precisa. "Estamos vivendo uma situação de agravamento dos problemas em função de uma combinação de El Niño e mudança do clima. O Pantanal já enfrenta uma estiagem severa e escassez hídrica inédita. A sala de situação, criada na última sexta-feira (14/6) durante reunião ministerial comandada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin, vai tratar sobre ações de prevenção e combate aos incêndios e da seca".

Marina Silva lembrou que as chamas surgiram e progrediram antes da hora. "Historicamente o período de seca no Pantanal ocorre no segundo semestre, mas o bioma já enfrenta aumento dos focos de incêndio. Para combater o problema, na reunião, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, informou que o órgão já contratou mais de 2 mil brigadistas para atuar em todo o país, com foco inicial no Pantanal e na Amazônia. Atualmente, os brigadistas atuam principalmente no entorno de Corumbá, onde a situação é mais grave, na Transpantaneira e a oeste do rio Paraguai. Brigadistas também realizam ações de prevenção na Terra Indígena Kadiwéu e em unidades de conservação da região".

Bombeiros trabalhando no combate a incêndio na região do Abobral, próximo a Estrada Parque Pantanal, em Corumbá (MS) (Foto: CBMS/Divulgação)
Bombeiros trabalhando no combate a incêndio na região do Abobral, próximo a Estrada Parque Pantanal, em Corumbá (MS) (Foto: CBMS/Divulgação)

Meio ambiente para escanteio - Contudo, conforme analisaram ambientalistas que deram entrevista a Folha de S. Paulo, o caos poderia ter sido evitado se a pauta ambiental fosse prioridade para o governo federal. O jornal afirmou em reportagem publicada nesta segunda-feira (24) que "a ministra defende desde o início de 2023 o plano de prevenção a desastres, mas ele só se tornou uma prioridade de Lula após a tragédia das chuvas do Sul".

A análise diz ainda que as questões ambientais são usadas como moeda de troca nas negociações com o Legislativo. "Os protagonistas do governo hoje são as agendas econômica e da governabilidade. A briga é evitar derrotas no Legislativo, e o meio ambiente é o último da lista de prioridades. É uma derrota atrás da outra, com um esforço mínimo. Não é falta de vontade do ministério, mas do governo de priorizar essa agenda", avalia Mariana Mota, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace Brasil, à Folha.

Ainda de acordo com a matéria, a lista de dificuldades de Marina Silva é extensa. "Tem sabotagem dentro do governo. E, na própria Casa Civil, o ministro Rui Costa não tem simpatia com a agenda ambiental", disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também ao jornal de alcance nacional.

Balanço trágico - O que se sabe até agora é que o fogo avança mais rápido do que as equipes do Ibama (Instituto Nacional de Meio Ambiente) e Corpo de Bombeiros consegue fazer o controle. Neste fim de semana, vídeo feito do alto mostrando a Festa do Banho de São João em Corumbá acontecendo de um lado do Rio Paraguai, enquanto o Pantanal "morre" queimado na outra margem escancarou essa realidade.

Reforços da Força Nacional e Exército estão sendo enviados e são a esperança para o Pantanal sul-mato-grossense que de 1º de janeiro a 22 de junho deste ano perdeu 541.575 hectares torrados. A área queimada do bioma equivale a mais de três vezes o território da cidade de São Paulo, ou 5 vezes o tamanho de Campo Grande, conforme dados  do boletim emitido pelo Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) do Departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e comparativos feitos pela reportagem.

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