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Meio Ambiente

Pousada que usava jacarés como atrativo é embargada no Pantanal

Marta Ferreira | 05/10/2011 18:16

Estabelecimento é de funcionário aposentado do Ibama que é alvo de investigação da PF

Gerson Zahdi observa jacarés, que servem de atração em pousada embargada, em foto do site da Cacimba de Pedra). (Foto: Divulgação
Gerson Zahdi observa jacarés, que servem de atração em pousada embargada, em foto do site da Cacimba de Pedra). (Foto: Divulgação

Nos últimos 15 anos, o médico veterinário e funcionário do Ibama em Mato Grosso do Sul Gerson Bueno Zahdi, 64 anos, era tido como um exemplo de consciência ambiental aliada à atividade comercial e, com essa fama, apareceu em diversas publicações e reportagens de TV no Brasil e em outros países, mostrando sua criação de jacarés e a pousada vizinha, a Cacimba de Pedra, em Miranda. Do dia 18 de agosto para cá, quando ele, a mulher e a filha foram presos acusados de crime ambiental, isso mudou. Zahdi passou de exemplo a investigado e os negócios estão paralisados, segundo o Campo Grande News apurou.

Primeiro, foi o criadouro de jacarés, que teve 3 mil animais apreendidos, e colocados sob a guarda do próprio Zahdi, por falta de outro lugar para serem levados. O Ibama também aplicou multa de R$ 297 mil ao proprietário. Agora, foi a pousada Cacimba de Pedra, vizinha ao criadouro, que foi embargada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis) e não está recebendo hóspedes. Neste caso, foi aplicada multa de R$ 10 mil.

A pousada, que usava os jacarés como um de seus atrativos a turistas brasileiros e estrangeiros, não tinha licenciamento ambiental nem para a atividade turística nem para a vistação aos bichos, para a qual as regras são rígidas quanto ao contato entre humanos e animais. Além dos jacarés, a fazenda tem animais silvestres apreendidos do Espírito Santo, em 2009, e soltos no local com o aval do Ibama, como forma de reintrodução na natureza.

Zahdi se aposentou recentemente. Até julho, ele atuava no setor responsável pelas autorizações ambientais relativas à fauna, ou seja, por onde passaram todos os procedimetnos envolvendo o criadouro de jacarés dele. Deixou o setor em julho, para ser lotado no gabinete do superintendente do Ibama, Davi Lourenço. Logou depois, saiu sua aposentadoria, no fim de agosto.

Dúvidas-Segundo o Campo Grande News apurou, a criação nunca foi fiscalizada como deveria, situação que é alvo de investigação da PF. A corporação suspeita que Zahdi tenha sido beneficiado por ser funcionário do Ibama e também investiga o conflito de interesses entre as atividades dele como funcionário público e como empresário.

Desde que as acusações contra ele vieram a público, a partir da apreensão de carne de jacaré com a filha, na estrada, o Ibama se manifestou dizendo que o criadouro de jacarés é legal, mas que não tinha autorização para abater os animais. Por isso e por transportar animais abatidos sem autorização, Zahdi recebeu a multa de R$ 297 mil.

No dia 13 de setembro, na semana após uma matéria do SBT mostrar artistas visitando o local e brincando com os jacarés, foi expedida a ordem de embargo da pousada, por falta de licenciamento ambiental.

A coordenadora de Fauna do Ibama, Paula Mochel, informou que todas as atividades de Zahdi estão sendo investigadas pelo órgão. São 15 ofícios da Polícia Federal a serem respondidos. “Se forem confirmadas as irregularidades, ele vai ser punido”, afirmou.

Segundo ela, ainda não havia confirmação do recebimento pela pousada da ordem de embargo, porque isso é feito por meio dos Correios, cujos funcionários estão em greve.

Artistas brincam com jacaré em pousada que não tem autorização para visitação de animais.
Artistas brincam com jacaré em pousada que não tem autorização para visitação de animais.

Estranho- Quando o criadouro de jacarés foi alvo de ação da PF, Gerson Zahdi conversou com o Campo Grande News e disse que seus negócios respeitam o meio ambiente e devem ser encarados como um incentivo à atividade comercial sustentável.

Ele admitiu problemas com as licenças ambientais, atribuídos a lapsos.

Hoje, ele não quis dar entrevista. Pediu para conversar com os advogados dele.

Um deles, Carlos Alberto Miranda, disse que a pousada ainda não recebeu a notificação de embargo, mas a orientação foi para que deixasse de funcionar. Segundo ele, o estabelecimento pertence à esposa de Zadhi, Rosaura Dittmar Duarte.

O advogado disse que a decisão de não receber mais hóspedes foi tomada na semana passada, após uma diligência da Polícia Federal no local.

De acordo com ele, a licença ambiental, obtida junto aos órgãos estaduais, está para ser oficializada. O advogado disse que a falta desse tipo de autorização é uma algo comum aos empreendimentos turísticos na região.

Para ele, a situação envolvendo a família Zahdi é estranha, e está havendo ação “muito incisiva” da Polícia Federal em torno do caso.

O advogado disse que Zadhi recorreu da multa de R$ 297 mil no Ibama, e que ainda não entrou com medida judicial para liberar os animais apreendidos no próprio criadouro.

Embora o Ibama tenha dito que o criadouro está legal, o advogado afirmou que, com os animais apreendidos, a atividade está parada.

A PF não comenta o inquérito sobre o caso nem fala em prazo de conclusão.

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