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Meio Ambiente

Rio Paraguai tem seca histórica e rompe padrão de cheias desde 2019

Bacia do Paraná também sofre com redução contínua de água por conta do baixo índice de chuva

Por Inara Silva | 28/09/2025 07:32
Rio Paraguai tem seca histórica e rompe padrão de cheias desde 2019
Vegetação é percebida com a falta d'água em trecho do Rio Paraguai (Foto: Viviane Amorim)

Mato Grosso do Sul atravessa uma das fases mais críticas de escassez hídrica de sua história. Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), desde 1981, indicam que as duas principais bacias do Estado, a do rio Paraguai e a do rio Paraná, enfrentam períodos prolongados de seca severa.

RESUMO

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O Mato Grosso do Sul enfrenta uma das piores crises hídricas desde 1981, com as bacias dos rios Paraguai e Paraná em situação crítica. Segundo o Cemaden, o estado permaneceu em seca excepcional por 18 meses consecutivos desde 2024, mesmo com volume maior de chuvas em 2025. No Pantanal, o rio Paraguai registra índices alarmantes, sem cheias expressivas desde 2019. Na Bacia do Paraná, a hidrelétrica de Itaipu enfrenta vazões abaixo da média, comprometendo a segurança energética. Especialistas alertam que mudanças climáticas e desmatamento agravam a situação, exigindo estratégias urgentes de adaptação.

A pesquisadora em hidrologia do Cemaden, Elisangela Broedel, explica que, desde 2019, a combinação de chuvas e vazão abaixo da média, aliada à distribuição espacial e temporal altamente irregular das precipitações, tem dificultado a recuperação dos rios e o equilíbrio dos reservatórios, resultando em redução contínua da disponibilidade de água.

A bacia do rio Paraguai permaneceu por 18 meses consecutivos (fevereiro/2024 a julho/2025) em situação de seca excepcional, o nível mais grave da escala do TSI (Índice Padronizado Bivariado Chuva-Vazão), que varia de 1 (seca fraca) a 5 (seca excepcional).

Segundo a pesquisadora, embora o volume de chuvas em 2025 tenha sido superior ao registrado em 2024, a distribuição espacial e temporal irregular compromete a plena recarga dos aquíferos e mantém os rios em níveis críticos, prolongando os impactos sobre a disponibilidade hídrica e resiliência dos sistemas aquáticos.

De acordo com Elisangela Broedel, a ocorrência de chuvas concentradas em curtos períodos, intercaladas com longos intervalos de estiagem, tende a reduzir a eficiência da recarga hídrica, uma vez que grande parte da água escoa superficialmente, limitando a infiltração nos aquíferos.

“O sistema hidrológico não consegue restaurar seu equilíbrio de um ano para o outro. Embora as chuvas aliviem momentaneamente a situação, elas não solucionam o déficit estrutural”, ressalta.

Rio Paraguai tem seca histórica e rompe padrão de cheias desde 2019
Rio Paraguai, em Ladário, tem situação agravada desde 2019 (Fonte: Cemaden)

PantanalO quadro já trouxe consequências históricas. No rio Paraguai, no Pantanal, na bacia afluente à estação fluviométrica de Ladário, o TSI-12 indica atualmente seca hidrológica de intensidade extrema de -1,80, após 18 meses consecutivos de seca excepcional.

“Desde 2019, o índice TSI evidencia que a combinação de chuvas e vazão permanece negativa na bacia, com uma tendência clara de esgotamento dos recursos hídricos”, explica a pesquisadora.

Em Porto Murtinho, o TSI-12 chegou a -1,63 em agosto de 2025, caracterizando seca hidrológica extrema. Os dados apontam que, desde 2019, não ocorrem cheias expressivas na região, rompendo o padrão histórico dos anos 1980 e do início da década de 1990.

Bacia do Paraná - Na região do baixo Paraná, onde está localizada a hidrelétrica de Itaipu, considerada uma das maiores e mais importantes do mundo, o cenário também preocupa. O índice atual é de -1,76, também caracterizando seca hidrológica de intensidade extrema.

"Desde 2019, estiagens tornaram-se mais frequentes e intensas, substituindo as grandes cheias anteriores. Em 2024, foram registradas em Itaipu seis quebras de recordes mínimos de vazão e, desde janeiro de 2025, as vazões permanecem consistentemente abaixo da média, evidenciando a persistência do déficit hídrico da região", explica Elisangela.

Em Porto Primavera, a situação é menos crítica, com seca moderada (-1,24). Ainda assim, desde 2014, a região enfrenta seca persistente, com raros períodos de recuperação. Segundo a pesquisadora, mudanças no regime climático, modificações no uso e na cobertura do solo e intervenções humanas alteram a dinâmica de escoamento e recarga hídrica, contribuindo para a persistência de condições de seca prolongada na região.

Rio Paraguai tem seca histórica e rompe padrão de cheias desde 2019
Estação de Porto Primavera registra seca moderada (-1,24) no rio Paraná (Fonte: Cemaden)

Alerta - Elisangela Broedel alerta que os efeitos da crise hídrica vão muito além do curto prazo.

“É como a fatura do cartão de crédito, mas, em vez de dinheiro, estamos falando de água. No início, parece que está tudo bem, mas, com o tempo, o rombo se torna enorme. É isso que estamos vivendo”, compara.

De acordo com a pesquisadora, além da irregularidade das chuvas, fatores como desmatamento e elevação das temperaturas médias intensificam a crise hídrica. A perda da cobertura vegetal compromete a infiltração e a retenção da água no solo, reduz a recarga dos aquíferos e aumenta a vulnerabilidade dos rios durante períodos de estiagem prolongada.

“Com menor infiltração, ocorre maior escoamento superficial, resultando em picos mais intensos de inundação durante a temporada de chuvas e menor disponibilidade de água na estiagem, já que o sistema subterrâneo não consegue sustentar a vazão dos rios”, afirma.

Medidas - As projeções climáticas indicam que os próximos anos devem registrar aumento na frequência e intensidade de eventos extremos, incluindo secas prolongadas. Diante desse cenário, a pesquisadora enfatiza a importância de estratégias robustas de adaptação e prevenção, tais como:

  • Ampliação do monitoramento hidrometeorológico em níveis local e regional, assegurando dados confiáveis e oportunos para apoiar a gestão hídrica e a redução de riscos e a
  • Integração das informações produzidas por instituições como o Cemaden ao planejamento e à gestão do uso da água, permitindo decisões mais embasadas e eficientes na mitigação de riscos hidrológicos.

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