Força da política sul-mato-grossense no cenário nacional hoje tem nome de mulher
De Marisa Serrano à Simone Tebet e Tereza Cristina: o que mudou com os nomes femininos na política?
Simone Tebet (MDB) e Tereza Cristina (PP). Atualmente, ninguém de Mato Grosso do Sul "manda mais" no cenário nacional do que as duas. A primeira, ministra do Planejamento e Orçamento ao lado do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e a segunda senadora e amiga do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Além delas, outros dois nomes de MS conquistaram espaço no Congresso Nacional e na mídia, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil) e a deputada federal Camila Jara (PT).
São 30 anos desde a chegada de Marisa Serrano à Brasília, mulher ícone da política sul-mato-grossense. O que mudou de lá para cá na política que as personalidades de “MS fazem no Brasil”?
A mulher, de fato, pode transformar ou fazer a política diferente por ter habilidades de alguém biologicamente diferente do homem? Ser ou ver outras mulheres sendo vice e assumindo papéis coadjuvantes incomoda? Como cada uma delas rompeu a “bolha” do poder, que estava somente nas mãos de figuras masculinas?
Do começo
A trajetória é longa, mas resumindo, Marisa foi professora, vereadora, candidata ao governo, vice-prefeita de Campo Grande, primeira mulher eleita senadora pelo MS e conselheira do TCE-MS (Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul).
Ela acredita que muita coisa mudou nos últimos 60 anos, no País, de modo geral, porque a política ficou “mais inclusiva e voltada mais para os problemas da sociedade”, além do que a economia deixou de ser somente “pela economia”, mas ganhou viés de políticas voltadas para fazer a “população viver melhor”.
A diferença
Para Marisa, as mulheres têm sim esse olhar diferenciado na política justamente por sua relação com a economia ser diferente da dos homens.
“Elas têm a rotina das crianças que vão para a escola ou que não têm creche para botar os pequenininhos. Na falta de vagas no trabalho, que é fundamental, até para melhorar a economia, a força de trabalho da mulher ajudaria muito. E na saúde é ela que leva os pais, os filhos, o marido para se tratar e eu estou dando aqui exemplos básicos. E ela que faz a comida geralmente em casa. Então, ela sabe onde dói, onde mais aperta”, comenta Marisa.
Para a senadora Tereza, os dados mostram que a equidade na política é importante não apenas para as mulheres, mas para a sociedade.
"Uma maior representação feminina está vinculada à maior estabilidade democrática e inclusão econômica, enfim favorece níveis mais elevados de paz e prosperidade", avalia a senadora Tereza Cristina.
Camila Jara acredita que as mulheres fazem a diferença na política e transformam a sociedade. "Mas não por conta de uma diferença biológica ou porque as mulheres são boas por natureza, mas porque a nossa construção social não nos leva a buscar essas mudanças", afirma.
A deputada e pré-candidata a prefeita da Capital, questiona: "Então, por que quando existem índices de que quando as mulheres chegam no espaço de poder a gente tem uma maior, uma melhora em todas as áreas de desenvolvimento social? Porque nós fomos ensinadas a focar na área do cuidado", comenta Camila.
"Então a mulher quando chega no espaço de poder sabe o quanto ela sofreu porque não tem creche na cidade para cuidar de seus filhos. A mulher quando chega no espaço de poder sabe a falta que faz ter uma unidade básica de saúde perto da sua casa. Então, tudo isso vai se transformando porque ela sofreu essas faltas durante a vida, mas não porque naturalmente, as mulheres são mais bondosas que os homens", avalia a deputada federal Camila Jara.
O que mudou
Tereza destaca que o voto feminino no Brasil tem apenas 92 anos. A conquista é fruto de uma luta histórica das chamadas sufragistas, movimento que exigiu reuniões, protestos e passeatas.
"Enfim , uma maratona de convencimento da sociedade e dos poderes contra o machismo e a favor da ideia de que as mulheres, como cidadãs, deveriam ter seu lugar além do lar no trabalho, nas artes e também política. Enfim, onde elas quisessem", comenta a senadora, uma das 15 mulheres que ocupam cadeiras no Senado Federal hoje. Para ela, é tempo de "comemorar as conquistas, mas continuar exigentes e vigilantes".
Um longo caminho
A senadora lembra que quase um século depois, apesar das mulheres serem a maioria da população e do eleitorado, ocupam, mesmo com as cotas partidárias obrigatórias e incentivos de financiamento eleitoral, apenas cerca de 20% das cadeiras da Câmara dos Deputados e do Senado.
Embora o número de mulheres no Parlamento tenha quase dobrado nas últimas duas décadas, o Brasil, segundo o Fórum Econômico Mundial, caiu 22 posições desde 2006 na classificação que avalia a representação de mulheres nos mais altos níveis de cargos políticos e públicos, conforme a senadora.
"No ritmo atual de evolução, levaríamos mais de 145 anos para alcançar a paridade de gênero no chamado círculo de poder político!", diz a senadora Tereza Cristina.
A senadora avalia que as "dificuldades persistem em razão de desigualdades estruturais, da falta de incentivo e apoio ao engajamento político das mulheres, do desconhecimento e da aplicação inadequada da legislação existente".
O segundo lugar
Ser vice em uma chapa, que é a porta, muitas vezes, para ascensão de mulheres na política, não incomoda, na opinião de Marisa. Pelo contrário, ela acredita que uma vice-prefeita, por exemplo, pode fazer por conta própria várias ações que mudam a vida das pessoas. Foi o que ela sentiu ao ser vice-prefeita de Campo Grande na chapa de Nelson Trad Filho.
Chegando lá
Como elas ocuparam os espaços e ascenderam na política, seja em décadas ou muito rapidamente, como no caso da deputada Camila, que foi eleita vereadora e antes mesmo de terminar o mandato conseguiu o cargo de deputada federal, ganhando apelido de “meteórica” nos bastidores?
Marisa lembra que não começou na política há 30 anos e sim na época do ginásio, em que fez integrou a União Campo-grandense de Estudantes e depois na faculdade, no diretório acadêmico. “Eu já vinha de uma militância social e política de longa data”, resume.
Camila acredita que conseguiu ocupar o lugar em que está hoje, porque outras mulheres vieram antes e lutaram para que as mulheres pudessem ter cotas e, assim, voz para falar da representação de mulheres na política.
A trajetória de todas as mulheres que foram eleitas e militaram nos partidos fez diferença para que as mulheres conseguissem se organizar e entender que precisam ocupar um mandato para conseguir pautar as transformações que querem na sociedade, na opinião da deputada.
"Então, é um orgulho para mim e é um orgulho ter outras mulheres que, assim como eu, chegaram na Câmara de Deputados sem compromisso com nenhum financiador ou com alguma família, mas sim com o povo para realmente fazer a diferença", afirma Camila.
Para a senadora Soraya, mais do que homenagens em 8 de março, as mulheres ainda precisam de incentivos, apoio e respeito.
"É um orgulho, como mulher, poder homenagear algumas das brasileiras que ultrapassaram barreiras que antes nos impediam de exercer nossos direitos de forma plena. É com exemplos como esses que construiremos um país mais justo para todas nós", comenta a senadora Soraya Thronicke.
Agendas para as mulheres
A ministra Simone está em viagem. Na quinta-feira (7), ela chegou a República Dominicana e deve visitar também o Peru para discutir rotas de integração com ministros da América do Sul. Em função da agenda, o Campo Grande News não conseguiu entrevista com Simone para comentar a representação feminina de MS no cenário nacional.
Na segunda-feira (4), Simone entregou, junto a Ministra das Mulheres, Aparecida Gonçalves, "Cida", o relatório da Agenda Transversal das Mulheres, que integra o PPA (Plano Plurianual) 2024-2027. Isso significa que, desta vez, a maioria dos programas têm previsão do que cada um vai fazer pela mulher brasileira.
"A partir deste ano, os programas do governo Lula têm como metas e objetivos a transversalidade na pauta feminina. Juntas, estamos construindo um país mais justo e igualitário para todas nós!", declarou a ministra.
Cida é outro nome que remete a MS. A ministra não é sul-mato-grossense, mas vive em Campo Grande desde a década de 1980, onde desenvolveu sua carreira na área da assistência social.