Manifestantes de oposição vestem verde e amarelo para retomar símbolos nacionais
Professores, estudantes e outros militantes entendem que a bandeira do Brasil representa todos
Na tarde desta terça-feira, 7 de setembro, manifestantes de oposição à atual gestão do governo federal decidiram utilizar também as cores verde e amarelo para protestarem na Praça Ary Coelho, em Campo Grande. A escolha foi feita na tentativa de ressignificar a paleta, que virou símbolo de simpatizantes do presidente, Jair Bolsonaro.
Marcado para 15h, o "Grito dos Excluídos" já chamava pessoas por volta das 13h. O ato está em sua 27ª edição e ocorre em todo o Brasil, sempre no feriado do Dia da Independência.
A professora Kelly Ribeiro, de 40 anos, foi uma das primeiras a chegar com a coloração auriverde, em uma camiseta polo amarela estampada com a bandeira do País, e admite que a escolha chamou a atenção de outras pessoas.
“Vim de amarelo, porque essa camiseta é do Brasil, de todo brasileiro. Representa nossa luta social, por dignidade, porque do jeito que está hoje, não está havendo igualdade. Todos necessitamos de comida, educação e gasolina".
O amarelo é do povo, não de um partido”, diz Kelly.
O estudante de Direito João Oliveira, de 26 anos, fez questão de combinar camiseta amarela, bermuda verde e tênis azul e branco. Ele entende que é necessária a apropriação do símbolo, mesmo em grupos de esquerda, sempre conhecidos pelo vermelho. “A bandeira é nossa, e as cores mostram o amor a nossa bandeira”.
João levou panelas para fazer barulho, enfeitadas com fitas com as cores brasileiras, e comenta a polêmica de hastear bandeira do Brasil utilizada na época do Império, no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). “Quiseram usar a bandeira do Brasil imperial e isso é uma ofensa”, completa.
Muitos tons - Outras tons que colorem o protesto na Praça Ary Coelho são o preto que indica luto, o vermelho dos partidos de esquerda e o arco-íris da diversidade sexual.
O amarelo também estava presente nas bandeiras do movimento LGBTQIA+. Com o estandarte nas costas, o integrante desse grupo setorial do PT (Partido dos Trabalhadores), Plínio Bressani, de 60 anos, reforça que o movimento é de luta por liberdade de expressão e manifestação, além de ser exercício de cidadania dentro de uma democracia.
Para ele, os grupos que fizeram atos pró-Bolsonaro e contrários ao STF (Supremo Tribunal Federal) querem desmobilizar entidades democráticas para instituir, diz, “uma ordem fascista”. “Por isso, fazem ataques, para que o STF não venha a se manifestar contra as ilicitudes deles”.
Vários outros docentes, de diversos municípios do interior de Mato Grosso do Sul, foram até a manifestação na Capital, mobilizados por sindicatos da categoria. Partidos mais alinhados à esquerda, como o PT ou PDT, também levaram filiados e políticos, além de sindicatos, movimentos estudantis, associações e a população em geral. Os que não puderam comparecer, foram convidados a protestar em suas cidades.
Vindo de Nova Andradina, Edson Gramado, de 60 anos, ressalta que o verde e amarelo não representa um espectro político, assim como a manifestação em questão. “O verde e amarelo é de todos, não é de esquerda, de direita. Assim como o "Grito dos Excluídos" também sempre foi um movimento de todos os partidos que quisessem participar”.
Jean Antônio, de 21 anos, é estudante Terena que vive na aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande. Hoje, ele resolveu usar a tradição como vestimenta, para aproveitar o "Grito dos Excluídos" para lembrar dos riscos que a população indígena corre diante da tentativa de fixar o marco temporal das demarcações, que pode retirar dessa população o direito à terra que estava nas mãos de fazendeiros, antes da Constituição de 1988.
"O movimento é contra todo o retrocesso que está acontecendo neste governo que está contra as demarcações", finaliza.