Opção de Riedel e Reinaldo pelo PL pode rachar o que sobrou do PSDB em MS
Geraldo Resende e Dagoberto Nogueira sinalizam que deixariam o grupo, mas ainda apostam na fusão

A indefinição do comando nacional do PSDB em pacificar reações contrárias à fusão que pode incorporar o Podemos e outros parceiros, como o Solidariedade, à sigla, está afetando o último bastião do partido.
RESUMO
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Os tucanos de Mato Grosso do Sul, liderados pelo governador Eduardo Riedel e pelo ex-governador Reinaldo Azambuja, estão numa encruzilhada. Terão de escolher nos próximos dias se permanecem na sigla que criou o Plano Real e polarizou por 20 anos as disputas com o PT ou migram para uma das legendas que os assediam, o PSD e Republicanos, que gravitam unidos em torno da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas à presidência, MDB ou o PL, cuja estrela, o ex-presidente Jair Bolsonaro divide a força política sul-mato-grossense mais expressiva.
Caso Riedel e Azambuja optem por assumir o PL, haverá descontentamento na extrema direita local e um racha de cima para baixo no PSDB estadual, embora até agora todas as lideranças jurem que marcharão unidas.
Dos três deputados federais com assento no diretório nacional e são maioria na bancada de Mato Grosso do Sul, dois, Geraldo Resende e Dagoberto Nogueira, deixariam o partido imediatamente se a opção for pelo PL. “O PL não é a hipótese que eu alimento ou o caminho que almejo”, disse Resende ao Campo Grande News.
Ele acredita que seja possível um acordo que mantenha a união dos tucanos em torno de Riedel e Reinaldo, mas ressalva que o país precisa se livrar da polarização PL/PT e se aliar, nacionalmente, a uma alternativa que “não seja “nem pelo lulismo e nem pelo bolsonarismo”.
Contrário também a uma opção que envolva os extremos na direita ou na esquerda, Dagoberto é ainda mais enfático e afirma que “não há nenhuma condição” de acordo que envolva uma eventual migração para o PL caso seja essa a decisão dos líderes do PSDB. Se isso acontecer, frisa ele, “acho que vai ter descontentamento de uma parte ou de outra e nós vamos procurar um partido de centro mesmo”.
O terceiro nome da bancada, Beto Pereira, ainda acredita na consolidação da fusão com o Podemos, diz que adotará a posição que Riedel e Reinaldo definirem, mas pensa com cautela. “Quando aprovada a incorporação do Podemos, nós, os deputados, vamos ficar sem janela para trocar de partido. Governador não tem janela. Então temos de aguardar. Vou tomar decisão lastreada naquilo que Reinaldo e Riedel somarem conosco”.
Embrulhado - Na avaliação de Dagoberto, o diretório nacional do PSDB deve decidir acordos com novos parceiros dentro dos próximos 15 dias, sob o risco de provocar um esvaziamento ainda maior no partido caso se mantenha em “cima do muro”, hábito que o tucanato conserva desde que nasceu.
A inércia do comando facilitou o assédio do PSD aos governadores, com a conquista de Raquel Lyra, de Pernambuco, e há poucos dias, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Último tucano de alta plumagem no ninho, o governador Eduardo Riedel ainda mantém um fio de esperança ao diretório nacional e, segundo fontes do partido, dificilmente se incorporaria ao PL por seu conhecido temperamento moderado.
A força do PSDB no Estado, que controla a política estadual e tem como aliados no governo até o PT, é um atrativo para qualquer um dos grandes partidos: são 280 dos 800 vereadores, 45 das 79 prefeituras, seis dos 24 deputados estaduais, além de três dos oito deputados federais.
“Eu acho que o Riedel e o Reinaldo, até por consideração ao Marconi (Marconi Perillo, presidente do PSDB e ex-governador de Goiás) estão esperando uns dias. Mas se Marconi também ficar embrulhando como está fazendo aí (em Brasília), eles também vão tomar uma decisão aqui (MS)”, alerta Dagoberto.
O deputado diz que na sua opinião o melhor caminho para os tucanos, caso a incorporação faça água mesmo, é juntar-se aos Republicanos e fechar questão em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas. Nos bastidores, Tarcísio já se movimenta como presidenciável, enquanto seu grupo estimula o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) a disputar o governo estadual, o que abriria brecha para acomodar no mais importante município do país o PL do coronel da PM Ricardo Mello Araújo, o vice indicado por Bolsonaro.
“Na minha avaliação o melhor seria ir para o partido de Tarcísio. Ele é um candidato de centro e tem capacidade para unir todo mundo”, diz, referindo-se aos demais partidos e presidenciáveis do centro-direita. Entre eles estão Ratinho Júnior (PR), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado e um possível nome a ser indicado por Bolsonaro _ Michelle ou Eduardo Bolsonaro _ caso o ex-presidente não consiga anular a sentença de inelegibilidade. A frente de direita que vem sendo articulada para enfrentar o presidente Lula no ano que vem só deve ganhar corpo no início do ano que vem, depois que o Supremo Tribunal Federal decidir o destino de Bolsonaro.
Caminhos - A disposição da bancada federal do PSDB é apostar que ainda seja possível consolidar a incorporação do Podemos, na adesão do Solidariedade e de outras siglas menores sem, no entanto, abrir mão do nome inspirado em seus fundadores, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Caso esse caminho se feche, o PSD, com Raquel e Leite já assimilados, e o Republicanos, ligados pelo cordão umbilical que une o secretário de Governo e Relações Instituições do Estado de São Paulo e presidente da legenda, Gilberto Kassab a Tarcísio de Freitas, é um caminho viável.
“O PSD pode ser um caminho a ser construído”, afirma Geraldo Resende, favorável a um nome que quebre a polarização nacional e garanta a reeleição de Riedel. Mas o assédio parte também do PL.
Na semana passada, Riedel e Reinaldo se encontraram com o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto em Brasília e deram início a tratativas que também podem evoluir em função do prestígio eleitoral de Bolsonaro no Estado, que exerceu forte influência como cabo eleitoral tanto em 2022 quanto nas eleições municipais do ano passado.
Uma nova rodada de conversas está agendada para a semana que vem. A um interlocutor ligado ao grupo, Reinaldo chegou a especular que a hipótese PL só seria viável de “porteira fechada”, com os grupos que se digladiam na extrema direita submetidos ao comando de seu grupo e, no plano nacional, com o apoio de Bolsonaro a Tarcísio de Freitas.
“Nós vamos tomar a decisão em conjunto. Definimos marchar juntos para fazer o processo de incorporação ou ver se a gente vai tomar outro caminho. A incorporação é o que foi apontado na última reunião”, afirma Resende.
O problema é que há dificuldades de assimilação da parceria em Estados do Nordeste, como o Ceará. Dagoberto Nogueira frisa que a incorporação é, em tese, a única opção do PSDB para interromper a debandada e se reposicionar nacionalmente, mas ressalva que há um prazo que não pode passar de 15 dias para que o comando nacional se defina.
Caso contrário, diz ele, “Riedel e Reinaldo vão sair do partido igualzinho fizeram Eduardo Leite e Raquel. Se não der uma solução nós vamos pegar outro rumo, sim. O partido só existe aqui no Mato Grosso do Sul. Não tem mais nada, acabou no país inteiro”.