Mais da metade das crianças em MS não toma 2ª dose da tríplice viral
O abandono também afeta vacinas como a pneumocócica e a rotavírus
A taxa de evasão entre a primeira e a segunda dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) ultrapassa os 50% em 14 estados brasileiros, entre eles Acre, Pará, Amapá, Maranhão e Mato Grosso do Sul, o que compromete a efetividade da imunização e aumenta o risco de reintrodução de doenças controladas.
RESUMO
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A taxa de evasão entre a primeira e a segunda dose da vacina tríplice viral ultrapassa 50% em 14 estados brasileiros, incluindo Acre, Pará, Amapá, Maranhão e Mato Grosso do Sul. O problema compromete a efetividade da imunização e aumenta o risco de retorno de doenças controladas. Segundo o Anuário VacinaBR 2025, elaborado pelo Instituto Questão de Ciência, mesmo com a recuperação observada em 2023, mais de 80% da população brasileira vive em municípios que não atingiram as metas de cobertura vacinal. O Ministério da Saúde afirma ter revertido a tendência de queda nas coberturas vacinais após uma década de retrocesso.
O abandono também afeta vacinas como a pneumocócica e a rotavírus, o que dificulta o cumprimento das metas mesmo onde as primeiras doses tiveram boa cobertura.
Esses são alguns dos achados do Anuário VacinaBR 2025, elaborado pelo IQC (Instituto Questão de Ciência) com apoio da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e parceria do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), lançado nesta terça (17).
O relatório analisa doses aplicadas, taxa de abandono e cobertura da vacinação infantil e da vacina HPV para adolescentes, a partir do cruzamento de bancos públicos de vacinação com dados populacionais e de nascidos vivos. A proposta é dar transparência e acessibilidade a essas informações.
As disparidades regionais e municipais ainda preocupam muito, segundo o documento. Mesmo quando a média estadual é satisfatória, há uma variação grande entre os municípios, que apresentam coberturas vacinais muito diferentes ainda que sejam vizinhos.
"Se a gente pega municípios do Brasil por taxa de sucesso [da tríplice vira], só um punhadinho está com a cobertura adequada. E estamos vendo surtos de sarampo na América do Norte e casos ressurgindo por aqui", diz Paulo Almeida, diretor executivo do IQC e coordenador do relatório.
Neste ano, o Brasil voltou a apresentar casos de sarampo autóctones (com transmissão no país), após quase três anos sem registros. Em março, foram notificados dois casos em São João de Meriti, no Rio de Janeiro. Em abril, São Paulo registrou o seu primeiro caso autóctone.
De acordo com análise epidemiológica que integra o anuário, as tentativas de contenção do sarampo por meio de campanhas pontuais ou nacional nos últimos anos, em geral, não obtiveram adequada adesão da população e é fundamental desenvolver estratégias locais para resgate dos não vacinados.
Entre as ações sugeridas estão horário estendido de vacinação, abertura de postos de imunização nos finais de semana, vacinação casa a casa em localidades de difícil acesso e postos volante em áreas desassistidas de postos de vacinação.
Almeida diz que a proposta do anuário é fazer o que o Atlas da Violência faz na segurança pública. "Levantar dados, dar clareza e disponibilidade. E garantir para que não haja competição com o Ministério da Saúde em relação a isso."
O estudo considera dados entre 2000 e 2023. A partir de 2015, o país apresentou uma queda contínua e generalizada nas coberturas vacinais infantis, intensificada em alguns casos após a pandemia de covid.
O relatório mostra que, em termos populacionais, apesar da recuperação observada em 2023, 80% ou mais da população brasileira ainda vivia em municípios que não atingiram as metas de cobertura vacinal para a maioria das vacinas analisadas individualmente.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que reverteu a tendência de queda nas coberturas vacinais após quase uma década de retrocesso. Afirma que, em 2023 e em 2024, 13 das 16 vacinas recomendadas para o público infantil apresentaram aumento de cobertura. A tríplice viral, segundo a pasta, ultrapassou a meta de 95% de cobertura nacional.
Em 2024, o Brasil saiu da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas no mundo (zero-dose), até 2022, o País ocupava o 7º lugar no ranking mundial. Além disso, recebeu a recertificação de país livre do sarampo, conquista possível graças ao avanço da vacinação.
De acordo com o ministério, os resultados alcançados se devem ao fortalecimento do PNI (Programa Nacional de Imunizações) a partir de 2023, ao enfrentamento ao negaciosismo, à retomada das grandes mobilizações nacionais, como o Dia D de Vacinação, e a vacinação nas escolas, além da garantia do abastecimento de imunizantes em todo o país.
A pasta afirma também que, para incentivar a vacinação nos estados e municípios, destinou um repasse extra de R$ 150 milhões por ano para fortalecer as ações regionais, adaptadas às realidades locais.
Um estudo da CNM (Confederação Nacional de Municípios) realizado no mês passado mostrou, porém, que o País segue com um problema de desabastecimento de imunizantes: 33,7% dos 1.490 municípios brasileiros pesquisados alegam enfrentar falta de vacinas.