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Carlo Acutis, o mais novo santo católico, usa Nike e veste moletom esportivo

Por Rodrigo Toniol (*) | 02/09/2025 08:30

No próximo dia 7 de setembro, um garoto italiano falecido aos 15 anos de idade, em 2006, será declarado santo pela Igreja Católica. O curto período de tempo entre sua morte e a beatificação, em 2020, contrasta com o tempo alargado desses processos no catolicismo, que não raramente demoram mais de cem anos. Agora, com a canonização marcada, a razão da pressa é uma: Carlo Acutis é o santo da Igreja para o século 21 e peça-chave de sua estratégia digital, com especial alcance no Brasil.

Em todas as lojas de souvenirs ao redor da Basílica de São Pedro, em Roma, a imagem de são Acutis é uma das mais disputadas entre os turistas, com tanto destaque quanto têm são Pedro e são José. Ao contrário desses, no entanto, na imagem do mais novo santo da Igreja ele não segura cajado nem veste túnicas. Em seu caso, com algumas variações, aparece de camiseta vermelha, calça jeans, mochila às costas e celular nas mãos.

A estética de são Acutis não para por aí. Sob um altar de traços modernos, seu corpo está permanentemente exposto em um santuário em Assis (ITA). Dentro de uma urna de vidro, vê-se o corpo coberto por fina camada de cera para preservar as feições do momento da morte. Ele veste agasalho esportivo e tênis Nike.

Acutis está sendo transformado em modelo de santidade moderna: jovem, católico, conectado e disposto a ser o que o Vaticano tem chamado de missionário digital. Há pouco mais de um mês, centenas desses missionários e influenciadores católicos estiveram em Roma para um encontro feito exclusivamente para eles, conduzido por bispos e cardeais, com o objetivo de orientar suas ações nas plataformas.

Acompanhei de perto a presença deles nos arredores do Vaticano. A imagem que mais se destacava em camisas, bordados nas mochilas e adesivos nos celulares que usavam era a de são Acutis. Embora viessem de diferentes partes do mundo, a presença massiva entre esses missionários digitais era de latinos e asiáticos.

Quando vivo, em 2004, aos 13 anos, Carlo Acutis, descrito como um geek até nos fóruns católicos, criou a página da sua paróquia e um site de voluntariado. Na mesma época, montou também um portal que catalogava informações sobre milagres eucarísticos e aparições marianas registradas ao redor do mundo.

A morte de Acutis ocorreu poucos dias depois de ele ser diagnosticado com leucemia. Não demorou muito para que milagres começassem a ser atribuídos a ele ao redor do mundo. O primeiro dos milagres reconhecidos pelo Vaticano, atribuído ao novo santo e que acelerou sua beatificação, ocorreu em Mato Grosso do Sul.

Matheus Vianna tinha 3 anos de idade e foi diagnosticado com uma doença congênita no pâncreas. A piora de sua saúde fez sua família levá-lo até a Capela Nossa Senhora de Aparecida, em Campo Grande, onde estava exposto um pedaço da camiseta de Acutis, então já reconhecido como milagreiro. Matheus foi curado, e o milagre confirmado por uma junta médica.

(*) Rodrigo Toniol, professor de antropologia da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Ciências, através da Folha de S.Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.