Aplicar lógica de imunidade de rebanho é "genocídio", afirma secretário de Saúde
Medida é defendida por alguns, que afirmam que quanto mais pessoas infectadas, mais pessoas também imunizadas contra a covid-19
“Eu sou totalmente contrário à imunidade de rebanho. É um extermínio, genocídio”. A fala é do secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, que condena quem defende o estimulo a imunidade coletiva ou de grupo, como forma de combate ao novo coronavírus.
Quem analisa essa forma de contágio como válida, argumenta que, quanto mais pessoas contraírem a doença, maior o número de quem estará também “imunizado”, logo, a enfermidade se espalha e os riscos de novas contaminações reduzem.
Segundo Resende, apostar no contato direto, no “libera geral” para estar imunizado contra a covid-19, vai resultar numa briga por leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Nós, em seis meses trabalhando sabemos como é difícil montar um leito de UTI”, ressalta.
Esse será o tema do infectologista Júlio Croda durante live da SES (Secretaria de Estado de Saúde), nesta quinta-feira. Ele também é contra a medida e defende que não pode ser usada como estratégia de saúde pública. “Isso não foi usado em lugar nenhum do mundo”, afirmou, reforçando fala do secretário na transmissão de ontem.
Pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Croda enfatiza que aplicar a imunidade de rebanho vai culminar no excesso de óbitos e quantidade de leitos de UTI suficientes para a gigantesca quantidade de pessoas que necessitariam de um.
“O crescimento da doença implica numa necessidade de leitos de UTI maior que a capacidade de instalação desses leitos. Essa conta nunca fechou em lugar nenhum do mundo”, ressalta, dizendo que “se tivéssemos leitos suficientes para isso, daí poderíamos aplicar a imunidade de rebanho, mas não há”.
Ele cita o exemplo de Campo Grande, onde ele avalia que o lockdown – fechamento geral de toda forma de comércio e serviços por tempo determinado – já deveria ter sido decretado. Isso porque a Capital já está com uma taxa de ocupação de leitos de UTI de 94%, conforme dados da SES. Ou seja, de 234 vagas em UTI, apenas 10 estão sem pacientes internados.
“A Santa Casa já está ambusando pacientes (usando ambu para que o paciente possa respirar) porque não tem respirador pra todo mundo, o que não se via há tempos”, rememora. Leia mais aqui.
Para o especialista, como a taxa de ocupação está tão alta, o lockdown será inevitável, “mas infelizmente fizeram um mini lockdown que não teve impacto nenhum e agora programaram outro, que até aumentou o toque de recolher”, reclama, citando as medidas da Prefeitura de Campo Grande que determinou até o último fim de semana, toque de recolher entre 20h e 05h e fechamento geral aos sábados e domingos, mas que agora vai permitir serviços não essências até 21 horas nos finais de semana. Leia mais aqui.
“Vai morrer gente sem leito de UTI”, sentencia o especialista, caso um fechamento real e concreto não seja efetivado em Campo Grande. Ele ressalta ainda que a taxa de contágio de covid em Mato Grosso do Sul está maior que no Rio de Janeiro, o que é preocupante. Aqui é de 1,5 e no RJ, 1,2. Isso significa que uma pessoa infectada contamina outra 1,5. O índice ideal é ate 1.
“Melhor caminho, ao invés de comprometer a população com uma doença grave é aplicar o que já foi provado que funciona, a única arma ainda eficaz, que é o isolamento social”, reafirma o secretário Geraldo Resende,que lembrou que médicos, como Osmar Terra, defendem a imunidade de rebanho e errou em suas projeções.