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Cidades

Batida policial não mudou planos de grupo para "tomar" jogo do bicho na Capital

Organização liderada pelo deputado Neno Razuk aguardava ofensiva do Gaeco contra rival, revelam interceptações

Por Lucia Morel | 29/02/2024 19:25
Registro de pontos em toda Capital anotados pelo major reformado, Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução processo)
Registro de pontos em toda Capital anotados pelo major reformado, Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução processo)

Mesmo depois que o Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), em 16 de outubro de 2023 apreendeu 700 máquinas de jogo do bicho em “QG” no bairro Monte Castelo, grupo supostamente liderado pelo deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL), manteve o plano de controlar o seguimento em Campo Grande, que seria efetivado em janeiro deste ano, quando esperava-se operação policial contra a quadrilha rival, o “MTS”.

Detalhamentos estão em documentos do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apresentados à Justiça nos pedidos de prisão e busca e apreensão. Em uma conversa entre Diogo Francisco, o “Barone” e Mateus Júnior Aquino, este dizia ter informações privilegiadas sobre possível operação policial contra o MTS.

“Falou também que nós vamos começar a trabalhar só em janeiro, depois de uma operação que vai ter, diz que até janeiro vai ter uma operação nós vamos entrar”, contou Mateus a Diogo sobre conversa anterior daquele com o considerado gerente das operações do jogo do bicho na região sul, José Eduardo Abdulahad (“Zeizo”, “Zenzo” e/ou “Z”).

Abdulahad, por sua vez, passou a se comunicar através de outros números e até por orelhão com os cambistas e recolhes porque dizia que foi “grampeado”, ou seja, que seu número de telefone estava sob investigação.

Nesse meio tempo Entre a ação do Garras até o fim de novembro e começo de dezembro, quando tais conversas foram registradas – os motociclistas que já teriam sido cooptados do MTS e aceitado trabalhar com o grupo de Razuk em Campo Grande, ficaram sem “salário” e eles conversavam frequentemente sobre isso. Abdulahad teria prometido pagar R$ 1 mil  na quinzena para eles, até que as operações ilegais começassem.

“O denunciado Mateus Júnior Aquino propõe que se aguarde operação policial contra organização criminosa conhecida por “MTS” para que com o enfraquecimento daquele grupo, encontrassem facilidades na investida”, cita o Gaeco, ao que completa com a transcrição de fala de Aquino. “É o que eu disse para você Diogo, a gente começar sem ter uma operação primeiro para colocar os caras para correr, aí fica difícil para a gente, porque a gente vai entrar de peito aberto aí não dá não”.

Trecho de conversa sobre operação contra o "MTS" em Campo Grande. (Foto: Reprodução processo)
Trecho de conversa sobre operação contra o "MTS" em Campo Grande. (Foto: Reprodução processo)

Em 3 de dezembro, dois dias antes da deflagração da Operação Successione, Mateus fala novamente com Diego dizendo para este que “Z” pediu, através de outro contato, para que ninguém entrasse em contato direto com ele, porque “ele está sendo investigado”. Entretanto, teria passado recado de que “ele vai mandar nossa quinzena acho que quinta ou na sexta-feira, e lá no meio de dezembro ele manda outra quinzena, quinzena, milão”.

No mesmo dia, conversaram sobre a espera de pelo menos 15 cambistas – donos de bancas do jogo do bicho – que estavam à espera de talão nos bairros Alves Pereira, Rouxinol, Universitário e Colibri.

Controle do grupo rival – Uma das formas de controlar as atividades do “MTS” para futura “tomada” desse espaço, era monitorar os pontos de venda dos jogos e ex-servidor do gabinete do deputado usou até impressora da Assembleia Legislativa para imprimir fotos desses locais. Outro Diego, o Diego de Souza Nunes, que era assessor no gabinete de Neno Razuk fez as impressões, a pedido de José Eduardo Abdulahad, e falou sobre isso em registro de mensagens captadas pelo Gaeco.

O gerente José Eduardo Abdulahad, (…) demanda a Diego de Sousa Nunes a impressão da listagem e de diversas fotos relacionadas a esses locais com o uso de impressora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (“Então as foto é pra imprimir na Assembleia, que é colorida, e o resto é pra imprimir aí!”). O documento do Gaeco diz que parte do que foi impresso a Razuk e outra parte à Abdulahad.

A ideia era ter em mãos a localização exata de onde a outra organização mantinha máquinas de caça-níqueis e pontos de aposta do jogo do bicho. “Importante destacar que os endereços repassados por Zeizo a Diego para realizar impressão das imagens pode se tratar de levantamento de inteligência realizado pela Organização Criminosa dos depósitos de máquinas de caça-níqueis da OrCrim rival, modus operandi já identificado em outros Relatórios”, cita o Gaeco.

Outra confirmação desse controle para possível futura tomada dos pontos é agenda do major reformado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, o Major G. Santos, apreendida pelo Garras em 16 de outubro de 2023 em casa no Monte Castelo. Ele, “ostensivamente lida com intermediários, oferece treinamentos, controla a atuação dos 'recolhes' e 'apontadores', sem comprometer a imagem do real chefe do grupo criminoso”, diz o Gaeco.

A agenda detalhava nomes de “recolhes” do outro grupo com nomes ou codinomes e telefones na mira da nova organização. “Outra peça que se encaixou, ao longo das diligências, foi a apreensão da agenda de Gilberto, que continha várias anotações, inclusive, o esquema de organização do atual grupo que controla o jogo do bicho nesta Capital”, afirma o relatório do Gaeco.

Sobre o uso de equipamento público pela organização investigada, a reportagem entrou em contato com o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro, mas ele não atendeu às três ligações até o fechamento deste material.

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