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Cidades

Da natureza à torneira, o longo caminho percorrido pela água

Estado apresenta situação confortável de oferta; indígenas ainda esperam abastecimento

Por Maristela Brunetto e Kamila Alcântara | 22/03/2024 14:42

Córregos, rios e aquíferos, MS e Campo Grande apresentam boas fontes para levar água às torneiras (Fotos: Paulo Francis)
Córregos, rios e aquíferos, MS e Campo Grande apresentam boas fontes para levar água às torneiras (Fotos: Paulo Francis)

Abrir a torneira e utilizar água é um gesto tão trivial na rotina de cada um que pouca gente pensa no caminho percorrido pelo recurso para chegar até ali. Da preservação das nascentes, da mata ciliar no entorno dos cursos d’água, até à captação em córregos e rios, extração em poços, tratamento e abastecimento, são muitas as ações necessárias para garantir que haja oferta de água tratada. Ainda mais em tempos de mudanças climáticas.

Mato Grosso do Sul pode se considerar em uma condição de oferta abundante do recurso natural. A falta de acesso existe e fica bem evidente com indígenas, mas é localizada.

Da captação ao fornecimento, a água enfrenta vários processos químicos, uso de produtos como coagulantes, para separar impurezas, a cloro e flúor, entre os elementos para purificar e torná-la potável. Armazenada, ela ingressa na extensa rede de distribuição. No Estado, são mais de 15 mil quilômetros de tubulações na área urbana.

A Sanesul atende cerca de 1,9 milhão de pessoas em 68 cidades, outras dez têm gestão própria, incluindo Campo Grande. A companhia estadual extrai água de 456 poços profundos e tem 12 estações captando o recurso dos rios. Para atender o público, tem capacidade de produção de 134 bilhões de litros/ ano, distribuindo 11 bilhões ao mês, e reservatórios para armazenar 137 milhões.

O caminho que a água percorre desde a captação
O caminho que a água percorre desde a captação

A rede de tubulações para o abastecimento de 656 mil ligações percorre 11 mil quilômetros. Há volume maior coletado de poços do que em rios, afinal, Mato Grosso do Sul tem vários aquíferos, o maior deles é o Guarani.

O gerente de Desenvolvimento Operacional, Elthon Santos Teixeira, informa que a empresa faz o abastecimento da área urbana das cidades. Um dos maiores percursos da rede está em Dourados, que tem metade da água consumida captada no Rio Dourados, e conduzida por adutora por 12 km. O serviço se estende também a 132 localidades no entorno dos municípios.

Para fazer o serviço atender toda essa rede, chegando a água potável a 99% do público-alvo, são 1.400 funcionários e ainda serviços terceirizados. Também integrando o saneamento, a empresa segue a meta de alcançar a universalização também do serviço de esgoto até o ano de 2031. Teixeira aponta que seria a primeira estadual com esse feito. Uma PPP (Parceria Público-Privada) foi firmada especificamente para a ampliação da rede de esgoto.

O gerente considera gratificante o trabalho de levar água tratada, destacando o aspecto sanitário. De cada R$ 1 investido em saneamento, a economia com serviços de saúde é de R$ 4.

Calor e produção recorde – Além de cuidar da rotina diária de abastecimento, é preciso também pensar nas demandas que as mudanças climáticas produzem no consumo.  A gerente de Operações da Águas Guariroba, Francis Moreira Faustino, contou que em novembro a empresa pôde checar seu planejamento para esses eventos, feitos a partir de dados técnicos de três empresas de previsões climáticas e prognósticos.

Com as temperaturas acima da média, em novembro do ano passado a empresa captou um volume histórico nos 23 anos da concessão: em um só dia foram 322 milhões de litros de água. É uma atenção permanente para evitar contingências, aponta a engenheira.

A empresa tem a segunda maior cobertura de saneamento entre as capitais, atrás da cidade de São Paulo. A rede de distribuição tem 4,1 mil quilômetros, para distribuir a água captada dos córregos Guariroba e Lageado, com 52% do fornecimento, ambos no leste da cidade, e 147 poços, sendo 14 ligados ao Aquífero Guarani.

Francis explica que toda a rede é conectada, o que possibilita redirecionar o abastecimento diante de alguma falha pontual. Conforme ela, só não dá para afirmar que a cobertura seja de 100% porque a cidade sempre está em crescimento e surgem novas ruas ou mesmo ocupações de áreas.

Maria Eleonice colocou tambor em casa pra fazer reservatório e não precisar enfrentar falta de água
Maria Eleonice colocou tambor em casa pra fazer reservatório e não precisar enfrentar falta de água

Gato do gato - A comunidade que se formou no antigo empreendimento imobiliário Homex, na saída para São Paulo, é uma ocupação que se formou há cerca de uma década e passou a ser regularizada recentemente pela Prefeitura. Na semana passada, os moradores começaram a ser cadastrado pela Águas. Cerca de 900 já forneceram os dados.

Cerca de 1,4 mil famílias finalmente passarão a ter fornecimento regular de água. Até agora, de uma ligação clandestina formava-se uma “rede de gatos”. Se em uma casa surgia um problema, todos os demais, na sequência, ficavam sem abastecimento e dependiam da solução do problema na casa principal.

A reportagem chegou a ouvir relatos de morador que fez mais de um gato, para não ficar sem acesso à água caso uma das redes falhasse.

A professora Maria Eleonice, 60 anos, é das moradoras mais antigas, já há 8 anos na região. Para não ficar sem água em casa, ela mantém um tambor cheio, dizendo-se prevenida. "Agora vamos saber a origem da água e teremos certeza que em qualquer horário do dia vamos ter água em casa. No calor é ainda mais sofrido, pois meus netos querem tomar banho, mas já ficamos até quatro dias sem água.”

Fátima chegou a ter mais de um acesso para garantir abastecimento; espera pela rede oficial (Foto: Paulo Francis)
Fátima chegou a ter mais de um acesso para garantir abastecimento; espera pela rede oficial (Foto: Paulo Francis)

Seu Henrique Foz, de 75 anos, mora na ocupação há três anos. Ele também comemorou a regularização, para acabar com o problema da falta d’água. "É importante porque nessas gambiarras nunca temos certeza de quando ficaremos sem água. Às vezes acaba e tenho que sair daqui”, explicou. A artesã Fátima Alves dos Santos, de 66 anos, comemora a regularização do acesso. “Saber que a água está chegando legalmente pela torneira é certeza que em breve o esgoto chegará também e viveremos sem fossas. Não importando o quanto vamos pagar, o que importa é que é nosso, é garantido.”

A chegada da água pela rede de abastecimento, sem as mangueiras irregulares, é uma segurança para a saúde, lembra Marlene Barros, que já sentiu as consequências com os filhos pequenos. “Eu e meus filhos tivemos diarreia quando passamos a usar a caixa d'água comunitária. Ninguém vive sem água, água é vida e agora teremos qualidade".

O diretor executivo da concessionária apontou que o serviço vai incluir também rede de esgoto. “Agora entramos com o processo de engenharia, com 8 quilômetros de rede de água e 12 de rede de esgoto. Muitos pensaram que era só uma obra, mas na verdade é fruto de um trabalho que vai levar dignidade”. Trata-se de um trabalho que deve levar de dois a três anos.

Aldeias – Em aldeias do Estado, problemas de abastecimento regular são corriqueiros. A reportagem do Campo Grande News revelou ontem mais uma renovação de fornecimento de água por caminhão-pipa a indígenas de Paranhos, uma medida que deveria ser emergencial e que se estende há 12 anos. O contrato, para este ano, beira R$ 500 mil. Em aldeias de Dourados também há relatos de desabastecimento.

Em várias situações, o fornecimento de água chegou por intervenção do Ministério Público Federal. No começo do ano, Estado e União anunciaram esforços para destinar R$ 104 milhões para ampliar o abastecimento em aldeias. Em 2023, o Governo Estadual informou ter implantado 5 quilômetros de rede.

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