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Cidades

De briga por terras a balde de gelo, vários foram motivos da ira de milícia

Depoimentos do capitão reformado Paulo Xavier e o ex-guarda Marcelo Rios citam as desavenças que levaram a duas execuções

Silvia Frias e Tainá Jara | 02/10/2019 15:39
Execução do Marcel Colombo teria ocorrido por conta de briga em boate. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Execução do Marcel Colombo teria ocorrido por conta de briga em boate. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

De disputa por terras a brigas fúteis envolvendo até um balde de gelo, tudo poderia ser motivo para provocar a ira de Jamil Name ou Jamil Name Filho. Os depoimentos de um investigado e de uma testemunha dados à Polícia Civil sobre a atuação do grupo de extermínio que seria comandado por eles são indicativos de que simples desavenças poderiam acabar em assassinatos.

Esse trecho refere-se ao depoimento do capitão reformado Paulo Roberto Teixeira Xavier, 42 anos, que tem similaridade com o depoimento do ex-guarda civil Marcelo Rios, preso com arsenal que seria utilizado pelo grupo criminoso.

No dia 30 de maio deste ano, Xavier apresentou-se espontaneamente na sede do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros) para prestar depoimento, o que ocorreu quase dois meses após o assassinato do filho dele, Matheus Xavier Coutinho, no dia 9 de abril. “(...) necessitou de tempo para poder repensar em sua vida e tentar assimilar o ocorrido”.

Xavier disse que, nesse período, avaliou que a morte do filho foi um “triste engano” e que o verdadeiro alvo era ele, em decorrência de sua ligação com o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho.

O capitão reformado conta que, antes de conhecer o advogado, soube de sua existência por meio de integrante da Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial, do coreano Kim Young Sang. A esposa de Xavier era advogada pessoal de Kim.

Os dois se conheceram entre os anos de 1998/1999, quando Xavier era comandante da Polícia Militar em Miranda, município de atuação da igreja, comandada na época pelo reverendo Sun Myung Moon, falecido em 2012.

Depois que foi removido para Campo Grande conheceu Antônio Augusto, ainda por meio de integrantes da associação.

Em depoimento, o capitão reformado disse que soube que o advogado tinha procuração da entidade e teria negociado propriedades sem o consentimento da associação. Uma dessas transações foi a Fazenda Figueira, incialmente transferida para empresa em nome do advogado e, depois, permutada com Jamil Name por uma área próxima de Campo Grande, a Fazenda Invernadinha, com área de cerca de 1 mil hectares, no bairro Chácara das Mansões.

Porém, a família Name acabou entrando em disputa judicial, já que mesma fazenda estava arrendada para Odacir Antônio Dametto, conhecido à época como "rei da soja" no Paraguai.

No depoimento, consta que Xavier soube que Jamil Name queria reaver a Fazenda Invernadinha, mas que a propriedade já havia sido vendida a terceiros por Antônio Augusto.

Xavier também cita o envolvimento direto que teve com a família Name, depois que foi solto, em 2011, prisão ocorrida na investigação da Operação Xeque Mate. Naquele período, foi procurado pelo policial civil, hoje aposentado, Vladenilson Daniel Olmedo, dizendo que o “Guri” queria conhecê-lo. Guri é o codinome de Jamil Name Filho, o Jamilzinho.

Consta no depoimento que Xavier foi até a casa de Jamilzinho, no Condomínio Bela Vista e o empresário disse que, caso ele precisasse de alguma ajuda, poderia procurá-lo. O capitão reformado lembra que chegou a fazer alguns serviços, levando e trazendo Jamil Name Filho da casa ou ao barbeiro.

Em uma dessas ocasiões, levou o “Guri” para boate em Campo Grande e descobriu que os seguranças nunca queriam acompanhá-lo, pois “ele sempre arranjava confusão (...) e que não foi diferente naquela noite”.

Nessa noite, em 2013, a confusão aconteceu porque um homem pegou gelo do balde que estava sendo usado por Jamil Name Filho, que foi tirar satisfações com ele.

O homem, mais alto que Jamilzinho, empurrou o empresário pelo rosto. A briga não foi adiante e Xavier foi embora. Depois, ficou sabendo que o empresário queria saber quem era essa pessoa e conseguiu identificá-lo por Marcel. Posteriormente, diz que parou de prestar serviço ao empresário e não teve mais contato.

O depoimento de Xavier é similar com o que Marcelo Rios relatou ao Garras sobre os dois temas.

A briga na boate é citada, tendo ocorrido com Marcel Costa Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”. Ele foi morto aos 31 anos, assassinado com tiro na nuca, em outubro do ano passado.

Na investigação do Garras consta que Marcelo Rios disse que a morte de Xavier aconteceu por engano. A ordem partiu do “Velho” e a execução sob comando de “Zezinho e Juanil” – José Moreira Freires e Juanil Miranda Lima – ainda foragidos.

O erro na execução custou a confiança do “Velho” nos pistoleiros: segundo depoimento, Jamil Name teria dado ordem para matar os dois, que fugiram da cidade e “muito provavelmente foram para a fronteira”.

Local da morte por engano de Matheus Xavier, assassinado por disputa de terras em Jardim. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Local da morte por engano de Matheus Xavier, assassinado por disputa de terras em Jardim. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Conexões – No dia seguinte à morte do filho, Xavier voltou a ser procurado por Vladenilson, novamente, a mando de Jamil Name Filho. Na casa do empresário, ouviu dele que iria ampará-lo para que saísse da cidade e procurasse um lugar seguro para ficar.

No depoimento, consta que o empresário teria prometido repassar valor mensal, por intermédio de Vladenilson, e que somente depois de dois anos deveria voltar para Campo Grande. Xavier relatou que achou a oferta estranha, pois há muito tempo não falava com a família.

Depois de sair da casa de Jamilzinho começou a “ligar os fatos”, citando a prisão dos guardas municipais, a apreensão do armamento, inclusive, de fuzil com mesmo calibre que matou seu filho.

Também lembrou do Ônix branco que seria ligado ao grupo de extermínio e estava circulando perto da casa dele, dias antes da morte de Matheus. Ao ser confrontado com acervo fotográfico da investigação, Xavier relatou que “não tem qualquer dúvida e reconhece José Moreira Freires como sendo o condutor do veículo”.

Em depoimento, avaliou que a ligação anterior com Antônio Augusto foi entendida como traição pela família e isso motivou o atentado que acabou com a morte de Matheus Xavier. Além do PM, Antônio Augusto e a mulher dele, não identificada no processo, também eram alvos do grupo.

A reportagem entrou em contato com o advogado e aguarda retorno sobre a citação no inquérito.

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