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Cidades

Irmãos são suspeitos de corromper servidores e chefiar esquema de R$ 68 milhões

Operação Turn Off, do Gaeco e Gecoc, prendeu 7 pessoas nesta quarta-feira em Campo Grande

Por Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 29/11/2023 18:25
Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior, irmãos e empresários, alvos do Gaeco (Foto: Reprodução das redes sociais)
Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior, irmãos e empresários, alvos do Gaeco (Foto: Reprodução das redes sociais)

O esquema de R$ 68 milhões para desviar recursos dos cofres estaduais é liderado pelos irmãos e empresários Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior. É o que aponta investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) e do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), que nesta quarta-feira (29) saiu às ruas de Mato Grosso do Sul para prender a dupla e outras seis pessoas, além de cumprir 35 mandados de busca e apreensão.

Outros integrantes da família suspeita de corromper servidores públicos comissionados para lucrar em cima de contratos com o Governo de Mato Grosso do Sul estão na mira da Operação Turn Off.

Victor Leite de Andrade, primo dos supostos arquitetos do plano, foi preso nesta manhã. A médica Thaline Neves Coutinho, esposa de Sérgio Coutinho Júnior, também é citada na investigação como uma das sócias da Isomed Diagnósticos, empresa cujo quadro societário tem 14 pessoas, e também está na mira. Não há contra ela, contudo, mandado de prisão, conforme autos de processo aos quais o Campo Grande News teve acesso.

Lucas Coutinho chegou a ser considerado foragido até por volta das 16h, mas acabou preso, conforme boletim de ocorrência registrado no fim da tarde de hoje.

O esquema - O Gaeco e o Gecoc investigam as oito pessoas por formar organização criminosa voltada à prática de crimes de fraude à licitação, peculato e corrupção. Resumidamente, o esquema consistia em burlar licitações abertas para a compra de equipamentos e materiais de consumo para as secretarias estaduais de Educação e Saúde com a ajuda de servidores e vender os produtos superfaturados. Os irmãos negociavam propina para obterem ajuda dos funcionários do governo e vantagem sobre os outros concorrentes.

Além dos irmãos e de Victor Leite, também foram presos nesta quarta-feira (29) Simone Ramires de Oliveira Castro, que exerce cargo de direção na SAD (Secretaria Estadual de Administração), trabalhando como pregoeira em licitações, Andréa Cristina Souza Lima, que ocupa função de gestão na SED (Secretaria Estadual de Educação), e o secretário adjunto de Educação, Edio Antônio Resende de Castro.

Completam a lista de presos Thiago Haruo Mishima, que foi subsecretário de Comunicação no Governo e atualmente trabalha como secretário parlamentar no gabinete do deputado federal Geraldo Resende (PSDB), e Paulo Henrique Muleta Andrade, fisioterapeuta que atua como coordenador técnico da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) em Campo Grande.

Furgão da Polícia Civil chegando ao Centro de Triagem Anísio Lima, para onde parte dos presos foi levada (Foto: Alex Machado)
Furgão da Polícia Civil chegando ao Centro de Triagem Anísio Lima, para onde parte dos presos foi levada (Foto: Alex Machado)

A operação – Os contratos investigados pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, através do Gaeco e o Gecoc, somam R$ 68 milhões. Pelo menos três empresas estão sob suspeita, a Maiorca Soluções em Saúde, de propriedade de Sérgio Coutinho Júnior, e a Comercial Isototal Ltda, que tem como dono Lucas Coutinho, conforme dados abertos divulgados no site da Receita Federal, e a Isomed Diagnósticos.

As apurações começaram durante a Operação Parasita, deflagrada no dia 7 de dezembro de 2022. “Dados extraídos dos aparelhos celulares dos investigados Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior, apreendidos por ocasião” direcionaram a atenção do Gaeco e Gecoc para as contratações das empresas da dupla pela administração estadual, conforme trecho da decisão do juiz Eduardo Eugênio Siravegna Junior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, que autorizou as prisões e buscas.

Ainda conforme divulgado nesta manhã pelo MP, “Turn Off” faz referência ao "primeiro grande esquema descoberto nas investigações, relativo à aquisição de aparelhos de ar-condicionado e decorre da ideia de ‘desligar’ (fazer cessar) as atividades ilícitas da organização criminosa investigada”.

Além dos sete presos na Capital, o ex-titular da Secretaria Estadual de Saúde, Flávio Brito, atual adjunto da Casa Civil, também foi alvo de busca e apreensão e intimado para depor nesta quinta-feira (30) na sede do Gaeco.

As buscas foram cumpridas em Campo Grande, mas também em Maracaju, Itaporã, Rochedo e Corguinho. Na casa de um dos alvos – o MP não divulgou qual –, foram apreendidos dólares e euros.

Os presos foram levados nesta tarde para o Centro de Triagem Anísio Lima, no Complexo Penal do Jardim Noroeste e Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi. Sérgio Coutinho Júnior foi levado para o Presídio Militar Estadual por ser advogado e ter direito a cela especial.

Os homens e mulheres alvos de mandados de prisão expedidos para a Turn Off só serão ouvidos nesta quinta-feira, dia 30.

Quando os presos ainda estavam no Cepol (Centro Especializado de Polícia Integradas), o Campo Grande News conversou com Marcos Barbosa, que se identificou como advogado de Sérgio Coutinho Júnior. Ele informou, contudo, que não tinha nada a dizer em favor do cliente. "Eu ainda não sei de nada, a gente ainda está se inteirando, não tivemos acesso a nada. Só sei pelo o que estou vendo nas notícias. Ele não me disse nada, está custodiado”.

A reportagem apurou que os advogados terão acesso aos clientes amanhã, antes dos interrogatórios.

No início da tarde, o Governo de Mato Grosso do Sul divulgou nota oficial há pouco informando que "serão imediatamente afastados de suas funções todos os servidores da administração estadual investigados" pela operação.

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