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Cidades

MS vira vitrine contra facções, mas PF alerta: sem verba, modelo não se sustenta

Diretor-geral cobra mais orçamento e critica mudança no projeto Antifacção

Por Ângela Kempfer | 19/11/2025 10:42
MS vira vitrine contra facções, mas PF alerta: sem verba, modelo não se sustenta
Policial e viatura da PF durante operação em Campo Grande em maio de 2025 (Foto: Arquivo)

Mato Grosso do Sul é hoje o principal laboratório da estratégia nacional contra o crime organizado que cruza o Paraguai e a Bolívia. A avaliação foi feita pelo diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, em depoimento à CPI do Crime Organizado no Senado.

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O Mato Grosso do Sul tornou-se referência nacional no combate ao crime organizado transfronteiriço, segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, em depoimento à CPI do Crime Organizado. O estado concentra investimentos em tecnologia e integração policial, especialmente no eixo MS-Paraguai. O Projeto Mitra, sistema que integra dados federais e estaduais em tempo real, é peça central dessa estratégia. No entanto, Rodrigues alerta que o modelo necessita de mais recursos para se sustentar, solicitando aumento de 38% no orçamento da PF para 2025 e criticando alterações no projeto Antifacção que podem comprometer verbas da segurança pública.

Segundo ele, o eixo MS–Paraguai concentra investimentos em tecnologia, integração entre polícias e reforço aéreo e fluvial, tornando-se referência a ser replicada em outras fronteiras do país.

“É assim que enfrentamos o crime organizado: juntos, com inteligência e sem disputa política. O eixo MS–Paraguai já faz parte da estrutura consolidada desse plano”, disse Rodrigues.

A análise veio no mesmo momento em que ele pediu aumento de 38% no orçamento da PF para 2025 e criticou mudanças na Câmara dos Deputados ao projeto Antifacção, que, segundo o diretor, retira verba de fundos essenciais da segurança pública e pode travar o avanço das operações.

No centro dessa transformação está o Projeto Mitra, sistema de integração de dados que cruza informações federais e estaduais em tempo real, como o Banco Nacional de Mandados de Prisão. “O Mitra vai muito além de câmeras”, ressaltou Rodrigues, ao explicar que a plataforma permite identificar suspeitos e cargas ilícitas em corredores sensíveis de armas, drogas e contrabando.

A PF assinou na semana passada acordo com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) para expandir o Mitra em Mato Grosso do Sul e no Paraná, reforçando o monitoramento dos trajetos usados pelo narcotráfico.

Para completar o plano de fronteiras, o governo federal prevê novas bases aéreas e fluviais entre 2025 e 2026. No eixo Sul, entre Maringá e Guaíra, área que cobre diretamente a rota paraguaia, helicópteros e aviões vão operar com apoio de uma base fluvial ligada ao corredor MS–Paraguai.

As ações incluem operações conjuntas com a Marinha e a Força Aérea. Segundo Rodrigues, isso tem resultado em apreensões inéditas e mudanças de rota por criminosos. O diretor citou até o uso crescente de submersíveis adaptados, após o aumento da vigilância sobre navios.

Integração não depende de lei, só de dinheiro

Rodrigues destacou que as FICOs (Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado), que unem PF, PRF, polícias estaduais e agentes penais, já estão ativas em todo o país, com participação direta de Mato Grosso do Sul.

Ele rebateu o argumento de que seria preciso mudar a Constituição para aumentar a integração policial. “Não há obstáculo jurídico. A cooperação já existe”, disse. O problema, segundo ele, não é legal, mas orçamentário.

A PF estima que apenas para as FICOs funcionarem plenamente seriam necessários R$ 50 milhões adicionais, dentro de um pacote maior de cerca de R$ 800 milhões para fronteiras.

Apesar dos avanços, Rodrigues afirmou que o modelo só se sustenta se houver ampliação de recursos. Ele pediu ao Congresso que autorize a elevação do orçamento da PF de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,5 bilhões em 2025. Também criticou o texto atual do PL Antifacção, que, segundo ele, reduz verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública.

“O crime está digital, e o Estado ainda é analógico. Não adianta cobrar combate às facções e descapitalizar quem tem que fazer esse trabalho”, alertou.