Mulher precisa ocupar espaço de fato e não ser fantoche, diz juíza federal
Magistrada considera que conquistas estão no meio do caminho, com cuidado diante do risco de retrocessos
As mulheres precisam ocupar os espaços de poder “de fato”, com consciência, para que outras não os ocupem como “fantoches”, submissas a interesses patriarcais, diz a juíza federal Raquel Domingues do Amaral. Ela vê esse risco, diante do avanço de ideias conservadoras, e aponta que as conquistas não são uma luta ganha, mas o “meio do caminho”.
Raquel escolheu ser protagonista. Ela passou em concursos para cargos técnicos na Justiça Federal em 1997, assessorou magistrados, mas decidiu que queria poder tomar decisões, “exercer um cargo de poder”, o que conseguiu em 2002.
Conforme a magistrada, para se afirmar, as mulheres precisam de um esforço adicional. No caso dela, o caminho foi o poder do conhecimento. Raquel fez mestrado, doutorado, atua em pesquisas, aposta em leituras técnicas, mas também formação filosófica, “para educar a alma”. Além de juíza federal, tornou-se professora de Direito.
Essa também foi a arma para enfrentar o machismo. Ela lembra que passou por algumas situações, especialmente quando atuou na área criminal na região de fronteira, “de forma velada, uma resistência, uma misoginia, sim”. Para responder à altura, estudava meticulosamente os processos, seguia para as audiências muito bem preparada, o que fazia com que os homens se adequassem, “mesmo que não aceitassem bem internamente”.
Pensar em si e em todas – A juíza diz que cada mulher deve buscar posições pensando na sua realização, mas não somente em si, também como uma postura política, pensando no coletivo, nas filhas, netas, bisnetas e as futuras gerações, garantindo avanços como legado. Ela teme recuos, para devolver a mulher ao espaço privado, menciona que as conquistas são recentes, com o voto a partir dos anos 30 do século passado, e o Estatuto da Mulher Casada vindo nos anos 60, para afirmar direitos e voz às mulheres. Por isso, diz que é preciso ocupar o espaço público “com autenticidade”, em um compromisso ético.
Raquel diz que lembra às jovens sobre o contexto histórico que alijou mulheres, impedidas de participar da ciência e da formação das instituições e faz um duro alerta: toda vez que uma mulher exerce um cargo de poder e aceita ser marionete, ela ultraja as antecessoras, que lutaram, morreram.